Resenha: Preconceito linguístico - o que é, como se faz.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico - o que é, como se faz. 49ª edição. São Paulo: Brasil, Edições Loyola, 2007.
Marcos Bagno escritor, tradutor, linguista, é docente de Linguística no Instituto de Letras da Universidade de Brasília e doutor em Filologia pela Universidade de São Paulo (USP) e é autor de diversos livros entre literaturas e obras técnico-didáticas. Atua na área de sociolinguística e literatura infanto-juvenil, como também em questões de ordem pedagógica do ensino de português no Brasil.
O livro Preconceito linguístico - o que é, como se faz, de Marcos Bagno revela de forma bem enfática o julgo e colocação equivocada de se dizer que língua é sinônimo de gramática normativa. A partir deste ponto, o autor faz uma crítica ao modo como é abordado não só o ensino da língua portuguesa, mas também as peculiaridades que cada região do Brasil tem de se expressar coloquialmente, que segundo o autor é essencial para o “povo” da região onde vive, colocando-se dessa maneira, ele levanta uma tese de que não há lugares onde existe uma forma correta de falar português, e sim um modo específico e particular de cada região ou povo se expressar. Negando o que se é evidente: que a língua é viva, e como o ser humano está em constante evolução, sendo obrigatório a sua melhora para adaptar-se ao novo tempo e suas novas características.
No primeiro capítulo o autor apresenta os principais mitos, que segundo ele difere muito da realidade existente no Brasil. Pois esse capítulo é iniciado já apontando um erro que é cometido por muitos, da unidade da língua falada no país, ele coloca que existe uma ampla variação linguística em sua forma oral, que varia de região e condição social, essa condição social menos favorecida, em particular, sendo vítima de preconceito tem um enorme peso e contribui de forma nociva para formação cultural do indivíduo, tornando-o assim um “segregado social”, caso que o autor considera uma barbárie aos direitos de cada pessoa se expressar. É abordado também o modo de se expor o que é “certo” ou “errado”, para as pessoas, sem levar em conta o seu entorno social, suas peculiaridades e suas necessidades, ou ainda, sua formação cultural. Ele não é contra a gramática em si, mas é contrário ao modo como é colocado o ensino da mesma, preso a muros intransponíveis e negada a evolução natural da língua. A língua portuguesa diferencia, como as demais línguas, a fala da escrita e vice-versa. Tendo como referência esse tipo de visão, não pode se dizer que uma pessoa analfabeta não sabe o português, se não soubesse não falaria fluentemente esse idioma. O analfabeto é desconhecedor da escrita do português, o que segundo o autor é totalmente diferente.
Segundo o autor, é lastimável o modo como pessoas que se dizem intelectuais, aborda o tema central discutido no livro, como se a culpa fosse inteiramente de uma parcela da população (os pobres, nordestinos e outros), parcela essa já vitimada pelo preconceito social, agora se ver mais uma vez marginalizada culturalmente, pois é como se negassem a esses o seu direito a comunicação ou da própria expressão. Essa visão distorcida de um grupo até considerável de intelectuais é bem maléfica, tendo em vista que esse modo de vê além de fazer acepção de pessoas de forma discriminatória e antiética, leva ao empobrecimento da língua, prendendo-a a um passado e tradições não condizentes com a realidade.
Bagno cita ainda três problemas básicos que para ele é fundamental para a continuidade deste preconceito tão enraizado na nossa cultura: o alto índice de analfabetismo, a falta do desenvolvimento das habilidades linguísticas, a relação da norma culta, sendo fixada a padrões estilísticos e gramaticais de outrora, ou simplesmente, nos gostos pessoais de algum gramático que nega a evolução da língua. Sendo assim o autor colocar mais uma vez que toda a problemática abordada por ele inicia no campo do déficit social, abrangendo-se pelo cultural dos alfabetizados e culminando nos “algozes” da evolução linguista, ou seja, os defensores bárbaros de regras que restringem o desenvolvimento do pensamento humano em busca do novo em sua forma de expressão. O mesmo reconhece, porém, que há um alerta para os professores e que alguns já estão se precavendo e inovando o seu método de ensino. Faz-se necessário afirmar, que em seus argumentos Bagno, reafirma que o papel do professor deve ser de combate ao preconceito linguístico existente hoje.
Sabendo que de início deve-se aproveitar o modo do estudante e da sociedade se expressar, para a partir daí introduzir a norma culta, sem recusar ou discriminar. O ensino da língua em si, deve muda de uma mera repetição, para uma reflexão aprofundada, excitando assim a produção independente do estudante, fazendo-o pesquisar e aguçar o seu conhecimento sobre língua e escrita, e suas diferenças. Tendo em vista segundo o próprio autor que a língua é viva, dinâmica e em constante evolução.
Faz-se necessário a leitura e divulgação do livro no mundo acadêmico, para reflexão do modo como é regido o estudo da língua portuguesa no país e toda a importância sociocultural que está ligada a esse tema de vital importância, não só para a educação como um todo, mas para a formação intelectual do indivíduo, de sua consciência e de sua cultura.