TONY FONSECA: UM MOSAICO FEITO POR SONETOS E OUTROS POEMAS
O livro A Sombra do Carvalho do acadêmico e escritor Tony Fonseca é um mosaico dele em dois quartetos e dois tercetos metrificados e em poemas “livres” numa intertextualidade, nua e crua, de um forte lirismo encontrado em seus versos.
O autor em seus versos é como o saudosista Casimiro de Abreu, assim está nos versos do poema Metempsicose e no soneto intitulado Sem Tristeza, não dá!:
“Voltar a me cansar, sofrendo
Pelo ardente, infinito, tristonho deserto
Da saudade...”
(Trecho do poema Metempsicose)
“O poeta não existe sem saudade.”
(Verso do soneto Sem Tristeza, não dá!)
Sua obra mostra o universalismo clássico de Camões, assim está no soneto Exemplo de Poeta, onde o autor universaliza o Bem e o Amor:
“Vê-se que o Bem é só a sua meta
Pois seu exemplo a todo mundo afeta,
E quem conhece você, conhece o Amor.”
O poeta é um apaixonado, vive desilusões amorosas e se encontra a descrever mulheres de sua fantasia como nos sonetos A moça da Liteira e Salomé:
“Uma visão fugaz, tão passageira
Que as pessoas, na rua, nem notaram
Mas meus olhos, carentes, a fitaram
E esquecê-la não vou, por mais que eu queira...”
(Trecho do soneto A moça da Liteira)
“Mas essa Salomé, mulher abençoada,
Não quis minha cabeça, viu-se compensada
Ao levar pra ela só meu coração.”
(Trecho do soneto Salomé)
Em seu poema Ausência-Presença, brinca com as palavras que vem do seu eu lírico, afinal a antítese do título do poema, se transforma num paradoxo no contexto do poema. O poeta é ao mesmo tempo barroco como Gregório de Mattos Guerra, mas racional e clássico nesses versos livres como Camões.
Crítico da poesia moderna, um Dom Quixote sem seu fiel escudeiro, a lutar no vazio contra a transgressão poética de 1922 à modernidade cibernética dos tempos de hoje. O poeta descreve seu maldizer nos versos do poema Melhor Esquecer:
“Maldita a hora em que fiz poeta
Já que todo o mundo,
A após Drummond, essa arrogância triste
Virou poeta, mestre, quase deus
Do que se chama, agora, poesia...”
(Trecho do poema Melhor Esquecer)
Um sonetista ao estilo de Vinícius, um poeta em seu tempo e saudosista, que nos poemas Tempestade e Um longo apito no Cais, parece nos dá um breve até logo, só que não, pois a poesia é eterna:
“Espectros boçais, semi escondidos
Formando tenebrosa e impraticável vau...”
(Trecho do poema Tempestade)
“Eu a reconheci de pronto a minha alma,
Nesse momento perdendo a calma...”
(Trecho do poema Um longo apito no Cais)
O poema A Sombra do Carvalho, que tem o mesmo título desta obra é a síntese do seu trabalho poético, a transmutar em versos de seu pensamento Existência:
“O vento da vida juntando
Os grãos dos anos, fazendo
Velhas dunas-pessos...”
Sua obra é uma aula de literatura e é sem dúvida um clássico de nosso século.
Rodrigo Octavio Pereira de Andrade (Rodrigo Poeta)
Ex-Presidente e acadêmico da Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências.
Membro Honorário da Academia Cabo-friense de Letras.
Goodwill Ambassador in Brazil in Peace Mission.