As estrelas descem à Terra: a coluna de astrologia do Los Angeles Times
As estrelas descem a terra: a coluna de astrologia do Los Angeles Times - Um estudo sobre superstição secundária, foi escrito no inicio da década de 50 pelo filósofo alemão Theodor Adorno. Sua análise de caráter ensaístico aprofunda os conceitos de suas obras anteriores, como a Dialética do esclarecimento (1947).
A partir de uma pesquisa que durou três meses sobre a coluna conservadora do jornal norte-americano Los Angeles Times, Adorno observa que determinados estímulos e ideias são difundidos através de um discurso doutrinário que reforçar ou remodelar diversas camadas de leitores.
Conforme Adorno apontou, o proposito da obra não é estudar a astrologia em si, pois “a astrologia é usada como chave para potencialidades sociais e psicológicas” (p.174) e ainda a “astrologia pode ser percebida como um sintoma de tendências sociais especificas” (ADORNO, 2008, p.174).
No decorrer de seu estudo, Adorno utiliza de um método que envolve conceitos do campo da filosofia, da psicanalise e da sociologia. O autor recorre principalmente ao conceito psicanalítico de análise bifásica para evidenciar comportamentos contraditórios que variam entre polos radicalmente opostos.
Já na categoria sociológica, Adorno aborda conceitos relacionados a classe econômica-social, divisão sexual do trabalho, status e papéis na sociedade; assim como aspectos ligados ao autoritarismo presente no sistema capitalista.
A obra retoma conceitos com base na filosofia de Adorno como no caso da Dialética do esclarecimento e de sua ideia de Indústria de massa. Adorno demonstra que a pseudo-racionalidade não opera fora do âmbito da própria racionalidade, “A irracionalidade não é necessariamente uma força que opera em uma esfera externa à racionalidade: ela pode resultar do transtorno de processos racionais de auto conservação”(p.30).
Ao longo da coluna, o autor observa que apesar de parecer passar conselhos valiosos para os seus leitores, é muito comum encontrar repetições de histórias com conselhos óbvios. Além de certos temas serem constantemente repetidos de forma abusiva (trabalho, amor, viagens, casamento e estudos) suas premissas faz uso de analogias fracas, linguagem vaga e ambígua. O resultado final, é uma construção argumentativa frequentemente inócua, sem real valor reflexivo.
Além disso, a astrologia possui um caráter hiper-realista no qual não possui vínculos com o ocultismo (que seria a expressão primária) e nem com o sobrenatural (criaturas místicas ou telepatia).Assim o autor evidenciou, “tudo soa respeitável sereno e plausível. A astrologia como tal é tratada como algo estabelecido e socialmente reconhecido, um elemento incontroverso de nossa cultura, como se ele tivesse certa vergonha de seus próprios aspectos sombrios” (ADORNO, 2008, p.44) e também “Seria um engano dizer que tais fenômenos de massa são simplesmente “irracionais” ou vê-los completamente desconectados do objetivo do ego individual e coletivo” (ADORNO, 2008, p.29).O oculto prioritariamente assume uma forma objetivada e institucionalizada no interior da sociedade.
A astrologia também também faz parte da indústria cultural assim como o rádio, o cinema, a música. Ela ocupa diversas esferas do cotidiano, do mundo do trabalho e de outras determinações sociais, contribuindo para reforçar aspectos da sociedade. Essa normatividade vigente da indústria cultural impossibilita os sujeitos de conquistar uma reflexão que propicie o esclarecimento, mantendo a sociedade aprisionada no horizonte da ideologia sistêmica.
Referências
ADORNO, Theodor W. As estrelas descem à Terra - a coluna de astrologia do Los Angeles Times: um estudo sobre superstição secundária. Tradução Pedro Rocha de Oliveira. São Paulo, Editora da Unesp, 2008
ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. Industria Cultural: o Esclarecimento como Mistificação das Massas. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, l996.