MAUÁ - O EMPRESÁRIO DO IMPÉRIO - AUTOR: JORGE CALDEIRA
Ao terminar a leitura de Mauá - o empresário do império - permanece a forte impressão que as nossas elites conservadoras ainda são um entrave poderoso contra a evolução do Brasil.
Com apenas 9 anos, Irineu Evangelista foi deixado aos cuidados de um tio pela mãe (que preferiu se dedicar a um novo casamento). Do Rio Grande do Sul, Irineu foi trazido de navio para o Rio de Janeiro e ao desembarcar no agitado porto da Praça XV, o tio o empregou no armazém de um português. Irineu passaria a trabalhar como caixeiro. Depois disso, o gênio traçou seu destino. Irineu dominou a contabilidade, o fluxo empresarial da época, aprendeu a língua inglesa e assimilou a dinâmica do capitalismo britânico com seu mentor Richard Carruthers.
Barão, Visconde, Mauá foi o primeiro e mais legítimo empresário do Brasil. Movia-se pela vontade de realizar, de trazer o progresso. Abolicionista, não aceitava a prática da escravidão. Era um empreendedor meticuloso e honesto. Banqueiro, foi um especulador, nunca negou que visava o lucro, mas era também um visionário competente. Mauá foi um capitalista que viveu num Brasil imperial composto de práticas mercantilistas e conduzido por uma classe de parasitas que tinha aversão a mudanças sociais e econômicas. Nada muito diferente do que vemos hoje em dia.
Mauá trouxe a ideia de trabalho e desenvolvimento para uma nobreza rural que preferia o conforto morno das tetas do segundo império. Como empresário, lutou por toda a sua existência para preservar o que construiu, mas fracassou e faliu. Não havia como sobreviver num período em que a ousadia do progresso e do desenvolvimento eram temidos por quem ditava as regras em nosso universo provinciano.
Caldeira nos leva ao passado com naturalidade, as descrições sobre a região portuária são vivas e reais. A narrativa é fluida e preza pela simplicidade dos dados. O livro é entremeado por cartas e documentos que explicam o pensamento e a trajetória de Mauá. Uma boa leitura para se conhecer um momento nevrálgico da história do Brasil.
* Registre-se a dedicação louvável do autor para empreender e concluir o projeto.