Educação de Jovens e Adultos
Resenha elaborada com fundamentos na segunda edição da obra: Brasil: Subeducação & Subdesenvolvimento, de autoria do Professor Américo Barbosa de Menezes Junior. Obra publicada pela Editora Edicon. São Paulo: 1994.
Em 1995 o Professor Américo Menezes nos brindou, em pleno auditório da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre/ES, com o lançamento de seu livro intitulado “Brasil: Subeducação & Subdesenvolvimento. Obra na qual ele relata com muita propriedade que, ainda àquela época, a Educação estava sendo muito descurada entre nós e, de modo especial, em todos os níveis sociais, chegando ao ponto de enfatizar que “a Educação influi mais poderosamente para a formação do caráter de jovens e para o procedimento dos homens”. Frase que inspirou a Jones dos Santos Neves, então Deputado Federal, a afirmar que “em linguagem agradável e objetiva, o autor ilumina nosso conhecimento com um clarão de análise inteligente dos temas mais conectados ao grande problema educacional brasileiro, entre os quais estão as crises do Magistério, a evasão das escolas, a Língua desprezada, a pedagogia ecológica, os fatores corrupção e inflação, os fundamentos da urbanidade e os princípios da escola ativa”.
Não obstantemente, após aquela belíssima apresentação de seu livro, o digníssimo Professor concedeu-nos a honra de sentar-se à mesma mesa conosco, oportunidade na qual abrilhantou-nos, informalmente, com os pormenores que o conduziu a escrever tão ricas linhas nas quais, sabiamente, discorria sobre a realidade educacional do Brasil até àquele presente ano, pois naquele evento em que nos concedeu o prazer de conhecê-lo, ocupávamos de tratar de assuntos relacionados à composição do livro, bem como, da sua atualização com a inserção de novos temas, uma vez que se lançava a segunda edição da obra.
Ele que já havia ocupado o cargo de secretário da Casa Civil do ex-Presidente Ernesto Geisel, com certeza, seria uma pessoa extremamente habilitada e capacitada para, naquele ano de 1995, estar fazendo uma exposição para acadêmicos e concludentes dos inúmeros cursos oferecidos por aquela nobre instituição que, gentilmente acolhia, de braços abertos, as conclusões às quais chegara o referido Professor-Autor, cujas palavras desfigurava a realidade educacional de nosso país.
Ao redor daquela mesa, nos entremeios de suas argumentações informais, ele demonstrava uma profunda preocupação, sobretudo com a formação de jovens e adultos, pois considerava que, até aquele momento, os projetos educacionais do governo federal contemplavam, única e exclusivamente, a Educação Básica de um Ensino Fundamental que ainda se praticava nos resquícios do modelo educacional legado pelos militares que nos governaram por cerca de vinte e um anos.
Todavia, ressaltava que novos tempos estavam por vir, pois paralelamente àquele modelo educacional que se praticava, fazia-se necessário o surgimento de novas metodologias que viessem combater o analfabetismo ainda profundamente enraizado em nosso país. Assim, em suas assertivas, chamava-nos a atenção para direcionarmos nossos pensamentos para as concepções freireanas, considerando que o Brasil estava ávido de novos projetos educacionais acompanhados de novas metodologias de ensino, voltadas também, para a formação daqueles que constituíram famílias como, por exemplo, o irmão mais velho, o pai ou a mãe que, por uma razão ou outra, renunciaram a seus próprios interesses para favorecerem os irmãos mais novos ou aos filhos e filhas, na medida em que nasciam e que, em curto espaço de tempo, alcançavam a idade escolar do Ensino Fundamental.
Podem soar estranhas algumas argumentações aqui utilizadas, mas acreditamos ser importante ressaltar que o ilustre Professor parecia profetizar o surgimento de uma nova era na Educação, pois um ano após o lançamento de “Brasil: Subeducação & Subdesenvolvimento”, o governo federal fazia publicar o Decreto que implantava, como que uma resposta ao título de um livro de 143 páginas que, na sua primeira parte, denuncia o estado calamitante em que se encontravam os órgãos do Estado, responsáveis pelo gerenciamento da Educação que era ministrada nas salas de aulas de todas as escolas de um país “gigante pela própria natureza”. Assim, a nova Lei das Diretrizes Básicas da Educação, ou seja, a LDB 9394/96 tornava-se uma realidade.
Na citada primeira parte do livro, paraleliza Educação com instrução, corrupção, inflação, esbanjamento ou desperdício, segurança, trânsito, urbanidade, cinema, televisão e informática, focalizando os subtemas com certa e oportuna indignação, conforme afirmara o nobre Professor Catedrático, advogado e vice-presidente da Academia Espírito-santense de Letras, o Dr. Aylton Rocha Bermudes que, pasmo diante das realidades ali denunciadas, também viria dizer que o aviltamento salarial do Magistério “trouxe o desprestígio da função docente e o triste e danoso declínio do ensino, com reflexos desastrosos na vida do país”. Disse ainda que: “Todos o sentem, as autoridades o admitem, embora um tanto farisaicamente, mas não empregam os meios adequados para saná-los”. Aquela realidade na qual se encontrava a Educação fez também com que o então senador João Calmon, amigo de longa data do Professor Américo Menezes, talvez bem antes da elaboração do livro, pronunciasse dizendo que, “diante dos fatos, se constatava que a Educação era o maior problema nacional”. O dito senador convidado a prefaciar o livro afirma ainda que: “... A leitura do livro do Professor Américo de Menezes fornece-nos um panorama desse triste ensino nacional, mostrando suas debilidades. Ao mesmo tempo, porém, fornece saídas para a crise que inegavelmente o atinge, trazendo, assim, uma contribuição para os esforços dos que, reconhecendo essa situação, buscam caminhos para superá-la”.
Embora simpatizante dos métodos pedagógicos de Paulo Freire, o Professor Américo de Menezes afirmava que os caminhos da Educação deveriam ser duramente construídos, pois na segunda parte do livro, podemos nos deparar com relatos que trazem à tona os problemas educacionais e suas pedagogias aplicadas por um magistério abandonado, desprezado e malogrado que protagonizava, sobretudo, a primeira fase da Educação Básica na maioria dos municípios brasileiros, ou seja, a alfabetização nas escolas primárias e, até mesmo, rurais. Fato que fazia com que aquele irmão mais velho, pai ou a mãe, conforme já mencionamos, renunciassem a seus próprios sonhos para favorecerem os irmãos mais novos ou aos filhos e filhas, permitindo, assim, tornarem-se inatingíveis pela Educação. No entanto, em seu capítulo nono, testemunham-se modelos educacionais e pedagógicos, elencados pelo autor, já vivenciados em épocas anteriores por renomados educadores representantes da Escola Ativa, tais como: Décroly, Pestalozzi, Claparéde, Dewey, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e tantos outros mestres que revolucionaram a Pedagogia do século anterior.
Possivelmente, a Nova LDB tenha sido uma resposta ao clamor do Professor Américo de Menezes que acredita que um povo pode ser educado, especialmente os Jovens e Adultos, encarando-se a tarefa de maneira generalizada ou de forma abrangente, não se levando em conta a idade das pessoas nem as condições econômicas em que se encontram. Para ele, no caso do povo brasileiro, por uma ação direta do ministério competente, com verbas destinadas para isso, seria um trabalho fecundo em prol da nacionalidade, pois é essa a ideia que ele sempre defendeu, não desmerecendo, é claro, os projetos para a alfabetização de Jovens e adultos, que foram implantados em anos anteriores à publicação do livro, cujas temáticas frisamos, como por exemplo: O Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização, de 1967-1985; fundação Educar, de 1986-1990 e, posteriormente ao lançamento da referida obra, que se pode afirmar ser fruto da nova Lei de Diretrizes Bases da Educação – 9394/96 - o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003 que prevalece até o presente momento.
Ainda ao redor daquela mesa, nós que ali o acompanhava, tivemos a oportunidade de sermos agraciados com esta sua maravilhosa obra, pois nos presenteou a todos com ricas dedicatórias, sempre nos exortando a ficarmos atentos às realidades educacionais nas quais se encontram milhares de municípios do Brasil, como também, milhões de famílias instruídas, porém não educadas. Em seu espírito comparacionista não se poupou em repetir um pequeno texto que escreveu com muito carinho, considerando que ansiava por discursar para nós que estávamos por concluir o Terceiro Grau de nossos estudos e, assim, disse: “A prevalência da Instrução sobre a Educação não é de bom alvitre. Mesmo que se tenha de enfrentar maiores dificuldades, é a Educação que se incumbe de infundir hábitos, de modo geral, bem como, de formar a personalidade de jovens ou, até mesmo, adultos, tantos nas escolas como nos lares. Deve merecer os mesmos cuidados que a Instrução”.
Desse modo, o honorável Professor, naqueles auspícios de 1995, fez-nos acreditar que a Educação envolve disciplina, como não dispensa, algumas vezes, o princípio da autoridade de forma amigável do educador sobre o educando. Aqueles que têm a sagrada missão de ministrá-la, uma vez que os professores, em todas as ocasiões, devem estar compenetrados de seu sagrado papel.
Desta forma, acreditamos ser altamente recomendável a leitura deste livro, particularmente por professores, diretores, supervisores, coordenadores e tantos outros que se dedicam à Educação e participam do processo de sua construção. Nesta obra, todos, indistintamente, encontrarão subsídios e indicações de como proceder para revolucionar o Magistério com projetos e propostas que vislumbrem a formação, a capacitação e a cidadania de uma forma crítica e promissora, visando contribuir para a realização de uma Educação extensiva a todos, especialmente àqueles jovens e adultos que, açulados a lutarem por suas sobrevivências e de suas famílias, castraram-se do direito de serem alfabetizados, bem como de prosseguirem no processo de formação educacional, conforme preconiza o Artigo 63 da Lei das Diretrizes Bases da Educação: “O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si”.