Surtos Urbanos: A ficção contemporânea de Vera Albers
A obra “Surtos Urbanos” de Vera Albers é composta por 18 contos, escrita por uma narradora confiante. Este por sua vez é o segundo livro da autora, visto que seu primeiro livro foi publicado em 1981 cujo nome é Deformação. Apesar disso não há em “Surtos urbanos” traços de imaturidade autoral. Pelo contrário tem-se uma coletânea que expressa conhecimento de elaborar ficção e talvez uma memorialística paulistana.
O que difere Vera Albers das demais autoras é o fato desta desvincular-se do estilo “feminino” que costuma comprometer os textos de muitas autoras, pois embora suas personagens femininas sejam mulheres adolescentes e mulheres maduras estas são tratadas com firmeza e simplicidade.
As histórias de “Surtos Urbanos” fazem parte de vivências arquivadas na memória da narradora, através de uma busca incessante de si mesmo, que vai desde a infância até à idade adulta, resgatando experiências marcantes, expressadas oralmente, de forma a prevalecer à instantaneidade.
Os contos que compõe “Surtos Urbanos” narram dois momentos na vida da mulher: a adolescência e a maturidade. Essas personagens são sempre colocadas diante de alguma mudança irremediável. A narrativa em geral, é aparentemente fácil, mas em suas entrelinhas esconde segredos que cabe ao leitor averiguar. Além de trazer um desfecho que surpreende. Também é possível encontrarmos alguns contos de traço social/regional, por exemplo, em “Relato de Ismerina” que rememora a violência da seca no Nordeste ao mesmo tempo da violência embutida na perseguição aos clandestinos da resistência à Ditadura Militar.
Assim, pode-se dizer que as quatro primeiras histórias dessa obra representam adolescentes sensíveis, sendo levadas involuntariamente pelos acontecimentos do cotidiano, por meio de um estilo refinado, próximo a prosa poética. As demais carregam mulheres maduras, que ao contrário das mulheres adolescentes, estas tentam controlar estes acontecimentos. Outras características que difere as mulheres das narrativas de Vera Albers é que as adolescentes aceitam tudo sem qualquer questionamento, todas de algum modo parecidas, além de serem impassíveis aos fatos que se passam, desse modo, não os compreende. As maduras são marcadas pelo tempo, pois sonham, agem e relembram o passado a todo instante.
Em fim os textos trazem problemas atuais do cotidiano na vida das mulheres adolescentes e maduras numa cidade como São Paulo, como por exemplo, o conto “As fitas” que aborda o problema do jovem que ao levar amigos a sua casa, seus pais criam uma situação constrangedora, o que a leva ao afastamento dos pais e ao isolamento. Ou mesmo em “Vila Bela” que aborda a lembrança vaga da protagonista de sua primeira menstruação.
Assim as narrativas de Vera Albers chamam atenção: tanto de universitários, como de estudantes colegiais por estarem próximas dos mecanismos que regulamentam as imagens visuais com que jovens são cotidianamente bombardeados e de certa forma seduzidos.