"Carmilla" de Sheridan Le Fanu
Em tempos de incontáveis séries e filmes de vampiros surgindo a cada dia nas plataformas de streaming e livros voltados ao público infantojuvenil, muitas pessoas não conhecem as clássicas obras surgidas nos séculos XVIII e XIX. Livros como "A noiva de Corinto"(1797) de Wolfgang von Goethe, "Christabel"(1798) de Samuel Taylor Coleridge, "O Vampiro"(1819) de John William Polidori, "Varney, o Vampiro"(1840) de James Malcolm Rymer, “Cidade Vampiro”(1875) de Paul Féval, "Drácula"(1897) de Bram Stoker, e claro, "Carmilla" de Sheridan Le Fanu, foram as responsáveis por moldar o vampirismo na literatura e na arte, em geral.
"Carmilla, a Vampira de Karnstein", publicado originalmente em forma de folhetim, de 1871 a 1872, por Sheridan Le Fanu (1814-1873), é uma novela de caráter gótico e de influência romântica; foi a primeira obra a ter uma vampira como personagem principal. Conta a história de uma jovem solitária chamada Laura, que vive apenas com o seu pai e duas governantas em um imenso e velho castelo, na Estíria (lugar localizado na Áustria). Certa noite, enquanto passeavam juntos, Laura e seu pai, ocorre um pequeno acidente próximo a eles, onde uma carruagem com pessoas por eles desconhecidas, tomba. Uma jovem é retirada da carruagem aparentemente sem vida ao mesmo tempo que uma senhora sai de lá dentro fitando a jovem com preocupação. O pai de Laura logo consta que a jovem desmaiada ainda tem vida, e oferece ajuda à senhora. Após muito hesitar, a dama aceita a ajuda dizendo que tem uma longa viagem de vida ou morte a fazer, e que regressará dali há três meses, então fica combinado que Laura e seu pai, teriam a jovem como hóspede durante este tempo. A bela e misteriosa jovem se diz chamar Carmilla, porém não fala quase nada sobre quem é, o seu passado e a sua família; apesar disto, logo Laura e Carmilla tornam-se grandes amigas, e quanto mais íntimas se tornam, mais mistérios começam a acontecer no lúgubre castelo.
Alguns elementos sempre presentes na novela de Le Fanu são o suspense sombrio, o ambiente gótico (castelos e igrejas medievais, ruínas, vilas abandonadas, clima noturno, lugares escuros e misteriosos) e às vezes o sentimentalismo ultrarromântico. Algo também a se destacar, é o erotismo subjacente e o suposto lesbianismo de Carmilla, que ataca apenas a mulheres, e quase em todo o livro demonstra-se fascinada e até obsessiva por suas vítimas. "Carmilla" influenciou toda a literatura vampírica que se seguiu após o seu lançamento, sendo inclusive a principal fonte de inspiração para o clássico "Drácula" de Bram Stoker (a obra de vampiros mais conhecida e influente da história).
Enfim, um livro encantador, apesar de bem curto, que não é só uma história de vampiros, é um ensaio sobre a solidão e as relações humanas, e as impressões ingênuas da vida e dos sentimentos da jovem narradora Laura.
Foi o livro de vampiros mais adaptado para o cinema depois de "Drácula". Eis algumas adaptações: "O Vampiro"(1932) de Carl Theodor Dryer, "Rosas de Sangue"(1960) de Roger Vadim, "La cripte e l'incubo"(1964) de Camilo Mastrocinque, "Carmilla, a Vampira de Karnstein"(1970) de Roy Ward Baker, "A Noiva Ensanguentada"(1972) de Vicente Aranda, "Carmilla"(1989) de Gabrielle Beaumont.