UM LUGAR CHAMADO INSTANTE (Álvaro Posselt)

Desde “Tão Breve Quanto o Agora”, livro de 2012 do haicaísta Álvaro Posselt, estou atento ao seu trabalho. E quando chega a minha estante este “Um Lugar Chamado Instante”, compreendo que Posselt realmente tem o domínio da escrita sobre o flash, o fugaz, o fugidio, alguns dos atributos mais inovadores que tenho visto em sua produção poética, tanto aqui em nosso quintal brazuca quanto em outros quintais desse mundão de meu-deus.

Desde a capa sagaz, que pode ser escolhida entre duas cores, verde-floresta ou marrom-terra, passando pela apresentação acurada de Alexandre Brito, a introdução “Modo Indica-Ativo”, hilário-lírica acondicionada sobre a epígrafe do mestre Rilke e as ilustrações de Bruno Marafigo, fazemos um lento e reflexivo caminho para então chegarmos aos poemas propriamente ditos.

E que poemas!

"O presente pede passagem

Para um lugar chamado instante

faça uma boa viagem" (p. 8)

é um excelente aperitivo introdutório, mas o poeta não para. Avança por outros atalhos, desvenda novas possibilidades, instala câmeras de saída, propõe novas entradas:

"Viver, eu suponho,

é chicotear a realidade

montado no sonho" (p. 9)

E se em Tão Breve há certo humor destilado com ironia filosófica, neste Lugar o poeta inebria com mais veneno, deixando as flechadas ainda mais certeiras:

"Ninguém está a salvo

Nem mesmo o arqueiro

muito menos o alvo" (p. 18)

Deixa Leminski e Millôr um pouco de lado sem, contudo, deixar de realimentar-se de Bashô, ícone maior da poesia curta nipônica, a quem reverencia a seu modo:

"O vento revela

Se inclina uma bailarina

na chama da vela" (p. 47)

O flagrante temporal, a fragrância que exala da síntese de suas três linhas, o ritmo sedutor das sílabas musicadas com destreza de artesão, a chama do ineditismo e o sumo da sublimação – instante-mór em que o ´desavisado´ embrenha-se com o nirvana poético – estão todos dispostos, no texto breve que se transforma numa lava envolvente e determinada a nos tirar do lugar-comum. A mesma assunção alcançada em

"Lenore, mas que estorvo!

Do poema de Poe

deixei escapar o corvo" (p. 55)

É ou não é um momento sublime de leitura criativa o que o autor nos proporciona nesse fragmento?

As soluções que Posselt vai encontrando na construção de sua poética, não alteram, de um livro a outro, o seu devaneio. Indicam que ele refaz trajetos, busca atalhos, imprime novas musicalidades, instaura opções, enfim, e com elas nos brinda com sabores inovadores de sua nova safra.

Ler Álvaro Posselt tem sido um bálsamo, um cicatrizante para os maus dias do contemporâneo pós-moderno. Sugiro esse remédio para todos. E indico até o endereço da fonte: https://www.facebook.com/alvaroposselt.

Boa viagem, boa degustação.