As vezes me perco em lembranças, entre boas e ruins, uma sempre aparece com frequência. Ela por um lado poderia ser considerada simples, mas é um dos poucos momentos que tive com meu pai, Anthon Heslin. Ele abandonou minha mãe quando eu tinha dez anos.
   Eu estava em um balanço, no pequeno parque da cidade, na época estávamos morando em Lexington, Nebraska, meu pai controlava os meus movimentos e olhava para minha mãe, ali perto sentada em um banco, coberto pela neve, que deixava todo aquele lugar um pouco mais estranho do que já era.
   Grace Heslin, minha mãe, ainda levava consigo o sobrenome de meu pai, mesmo assim, passamos por dificuldade durantes a minha adolescência, pois ele nem sempre pagava a pensão e mamãe ganhava pouco sendo diarista nas casas das grandes famílias da região.
   Então quando completei doze anos minha mãe me levou até meus avós, e depois de algumas horas brincando pela casa não a encontrei mais, pela noite minha avó, Anne, falou que mamãe havia ido embora, que eu ficaria ali, com eles por algum tempo, até ela ter condições para que eu morasse novamente com ela.
 
   Mas naquela altura eu já deveria ter percebido, que ela nunca mais voltaria.
 
   Recebia cartas do tio Thompson a alguns meses, ele estava sofrendo com câncer a mais de dois anos, e a cada carta suas palavras pareciam cada vez mais falhas e sem vida, e entre as últimas linhas estava um pedido:
 
"Sobrinho, gostaria que você viesse cuidar de mim em Bagley, entendo que você tenha sua família ai, mas seu velho tio precisa muito de ajuda".
 
   Eu não tive muito tempo para me arrumar, viajei dois dias após receber a carta. Já no ônibus, adormeci profundamente, até ser acordado pelo motorista, já em Bagley. Desembarquei e caminhei pelo centro durante cinco minutos, a carta dizia que meu tio tinha sua casa a alguns metros do centro, mas na verdade ela estava a quase três quilômetros de lá.
   Dei três toques na porta e uma voz um pouco mórbida respondeu mandando-me entrar. Ele estava na sala, numa cadeira de rodas, o cumprimentei e levei minhas malas até o quarto do segundo andar onde mandou-me se arrumar.
   Algumas horas depois voltei a caminhar pelo centro, cheguei a padaria da cidade, comprei um bolo e alguns doces. Preparei o café da tarde, levei-o em uma bandeja até a sala para que meu tio não precisasse se movimentar tanto. Assistimos televisão por algum tempo, o ajudei a ir ao banheiro e logo me preparei para dormir.
   Era o começo de uma aventura, um pouco estranha mas que poderia mudar por completo o futuro da minha vida. Então procurava pensar em como poderia passar o tempo e logo encontrei alguns livros em uma estante ao lado da sala de estar.
 
 
 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 01/03/2014
Reeditado em 04/03/2014
Código do texto: T4711846
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