FICHAMENTO: O PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Moacir Gadotti tem como objetivo, ao escrever essa síntese, esboçar as teorias e práticas pedagógicas que tecem o pensamento pedagógico no Brasil. ele elabora um roteiro simples enfocando o papel do educador, da escola, da formação e do saber, questões que estão intimamente ligadas a temas como a educação como ato político, educação de classes, popular, dentre outros que Gadotti elabora de maneira objetiva dentro do contexto educacional.
Moacir Gadotti afirma que nossa pedagogia reproduzia, até meados do século XIX, o pensamento medieval religioso e só começa a se tornar autônomo após o desenvolvimento do pensamento escolanovista. Tendo como objetivo utilizar a educação para reconstruir a sociedade numa tentativa de substituir a educação jesuíta foi criado a (ABE) Associação Brasileira de Educação. Tendo em vista que a educação jesuíta tinha um ensino retórico, repetitivo estimulando a competição por meio de castigos e prêmios, dividindo assim , a sociedade, entre doutores e analfabetos.
Lutando por mudanças na mentalidade das pessoas para que a revolução social fosse alcançada surge então o movimento anarquista que mesmo se interessando pela educação não a tinha como carro chefe de um processo revolucionário. O autor relata que o ensino libertário que influenciou os anarquistas teve como principal difusora Maria Lacerda de Moura e que encerrou-se em 1919 , ano marcado por tensões entre autoridades e anarquistas. Moura afirmava que, além das noções de cálculo, leitura, língua prática e história, seria preciso estimular associações e despertar a vida interior da criança para que houvesse uma auto-educação.
A educação, principalmente a pública, teve mais espaço nas preocupações do poder a partir de 1930 quando houve o primeiro grande resultado político e doutrinário da ABE em favor de um Plano Nacional de Educação. Depois da ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), começa um período de redemocratização no país que é interrompido com o golpe militar de 1964. Neste intervalo de tempo, em que as liberdades democráticas foram respeitadas, o movimento educacional teve um novo impulso, distinguindo-se por dois movimentos: o movimento por uma educação popular e o movimento em defesa da educação pública. Em ambos movimentos existem posições conservadoras e progressistas. Somente em 1988, com o movimento da educação pública popular, sustentado pelos partidos políticos mais engajados na luta pela educação do povo, passou-se a ter uma unidade de ideais.
O autor descreve Paulo Freire como um dos pedagogos humanistas e críticos que deram uma contribuição muito importante para a concepção dialética da educação no pensamento pedagógico contemporâneo. Onde enfatiza que sua contribuição maior deu-se no campo da educação de jovens e adultos e lutou por uma pedagogia para a libertação. Seguindo na defesa por uma escola pública popular destaca-se o sociólogo Florestan Fernandes que criou um novo estilo de pensar a realidade social, por meio da qual se torna possível reinterpretar a sociedade e a história, como também a sociologia anterior produzida no Brasil.
Para Luiz Pereira , pensador crítico do pensamento pedagógico brasileiro , só se resolve os problemas enfrentados pela escola se primeiro for resolvido os problemas fora dela, pois não acreditava que a escola por si só transformaria o meio social. Gadotti afirma que no início da década de 90, o discurso pedagógico foi enriquecido com temas como a diversidade cultural e que diferenças étnicas e de gênero ganharam espaço no pensamento pedagógico brasileiro e universal.
O autor destaca Rubem Alves, que defende a teoria pedagógica do prazer, da fala, do corpo, da linguagem do despertar e do agir, também é considerado educador de grande influencia sobre educadores brasileiros, refletindo sobre a alegria, sobre a necessidade do educador se descobrir como um ser amoroso, vivo e criativo.
Gadotti destaca alguns autores dentre eles Antonio Muniz de Rezende que escreveu-Concepção fenomenológica da educação e para ele a educação é na sua essência fenômenos e discurso. conceitua fenômeno (mostrar-se, aparecer, desvelar-se) enfocando que a educação é um processo permanente de aperfeiçoamento humano e nos fala de uma concepção que valoriza a categoria do discurso na educação, pois é através dele que a educação se mostra falsa ou verdadeira.
Outra autora que aparece como crítica é Marilena Chauí .Ele também destaca dois autores; Darcy Ribeiro criador da Universidade de Brasília e que desenvolveu entre 82 e 86 o projeto dos CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública) no estado do Rio de Janeiro. Ao nível de teoria educacional, destacou-se nesse período também o professor de filosofia da educação Demerval Saviani que orientou e formou em cursos de pós-graduação um grupo de quadros que, embora com orientações diversificadas, conservou muito bem do seu pensamento, entre eles José Carlos Libâneo, entre outros.
Nos anos 90, o discurso pedagógico teve um enriquecimento com a discussão da educação como cultura. Gadotti coloca que o pensamento pedagógico brasileiro tem sido definido por duas tendências gerais: a liberal (educadores defendem a, liberdade de ensino, de pensamento e de pesquisa, os métodos novos baseados na natureza da criança) e a progressista (educadores e teóricos defendem o envolvimento da escola na formação de um cidadão crítico e participante da mudança social).
Enfim Moacir Gadotti conclui seu raciocínio afirmando que é de grande riqueza o pensamento pedagógico brasileiro e continua a desenvolver-se, portanto restringi-lo em esquemas fechados é como esconder esse imenso tesouro.