Crise Institucional
Vincent Benedicto
01/09/2005
O Brasil vive uma das maiores crises institucionais de todos os tempos e os presidentes dos três poderes simplesmente ignoram a mesma.
Ou fazem de conta!
Luís Ignácio Lula da Silva, homem de origem pobre, nordestino, com rugas de envelhecimento e a barba grisalha, retrato de um brasileiro sofrido, não pela seca, mas sim pelo exagerado consumo de água de alambique que lhe é peculiar, simplesmente ignora a crise em que o país está mergulhado e seu governo atolado nesse lamaçal de denúncias diárias, que agora segundo ele tem um novo adjetivo
"o denuncismo".
Em discurso na televisão ele diz que em crises como esta, temos apenas duas importantes coisa a fazer. Primeiro, prestar atenção em tudo o que lemos, ouvimos e depois analisarmos se é a expressão da verdade.
Segundo, que as investigações prossigam para realmente ver quem é quem nessa história.
No mais isso é coisa corriqueira.
E ele falava sério!
O que não sabemos é se ele já tinha enchido a manguaça antes do discurso.
O presidente da Câmara por sua vez, deputado Severino Cavalcanti, convive com a crise que jorra lama sobre o Congresso e cuida de tapar o buraco, com a sua firme solidariedade ao baixo clero e a todos à beira da cassação dos mandatos: jura, de dedos cruzados, que o "Mensalão" não existe.
Afirma em suas declarações que isso é uma invenção do "homem bomba" Roberto Jefferson, esses milhões de dólares e reais para o financiamento das campanhas.
É outro que fala sério!
Gagueja, resmunga, da um nó na língua mas afirma que isso é invenção.
Desinformado sobre quase tudo o que importa para quem desempenha um posto como o seu, sem noção da responsabilidade que o cargo lhe impõe, carente de compostura é motivo de chacota e riso quando, fora da redoma de ouro de Brasília, aventura-se a falar em grandes auditórios.
Um de seus discursos indignou o deputado Gabeira a ponto de lhe apontar o dedo na cara e desabafar a seguinte frase:
"Ou Vossa Excelência começa a ficar calado [referia-se à entrevista, cheia de barbaridades, em que Severino deixou claro à "Folha de S. Paulo" sua disposição de punir o menor número possível de deputados], ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo."
Ora, a eleição do deputado Severino a presidente da Câmara, com votos de sobra, já era o sinal da crise institucional à vista para os que não queriam enxergar a evidência
Já o nosso ministro Nelson Jobim não é difícil entender o seu saudável otimismo.
Ao contrário, sobram-lhe razões para estar de bem com a vida. Desfruta de amplo acesso aos andares de cima dos outros poderes e sabe utilizá-lo na defesa dos interesses dos seus pares.
Graças à sua obstinada e competente articulação política – mais o apoio do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti – conseguiu aprovar, no Congresso, o reajuste dos vencimentos dos ministros do STF de 19 mil para R$ 21.500, retroativo a 1° de janeiro deste ano.
Eu tenho o resultado dessas contas, mas nem vou relatar, para que você meu querido leitor, não fique mais estressado ainda.
E no mesmo projeto encaixou a inovadora antecipação do novo aumento para R$ 24.500, a partir de janeiro de 2006, garantindo já as castanhas do Natal e o peru do Ano Novo.
E quando foi indagado na TVE sobre a crise política em que o Brasil enfrenta, passou batido.
Apenas se deixou levar pelos ventos do otimismo, servido como xarope de ânimo para a cura da epidemia de frustração em que afundamos.
Sobre os embaraços do governo, da inação administrativa à omissão do presidente Lula ou a avaliação dos dois anos e oito meses perdidos de mais da metade do mandato, nem uma palavra sequer.
Na visão dessa cúpula do poder, nós brasileiros somos uma cambada de idiotas, que podemos até reclamar e emitir nossas opiniões, mas isso não mudará em nada as suas atitudes.
Até porque esse país não tem memória. É só aparecer um assunto novo que o velho cai no esquecimento.
Basta ligar a televisão, o rádio, ler os jornais, as revistas, abrir o computador e entrar nos noticiários em tempo virtual, que vemos os maiores escândalos praticados por esse governo.
Estamos passando por uma crise institucional, gravíssima, envolvendo os três poderes em graus diferentes, sem poupar a toga.
O governo Lula balança, pendurado na corda bamba e podre vivendo a expectativa do inesperado da denúncia documentada o que poderá escancarar no amanhã, a porteira do impedimento.
O Legislativo purga a insanidade desmoralizante das mordomias, das vantagens, da madraçaria da semana de dois a três dias úteis, da indecorosa verba indenizatória, precursora do mensalão legalizado, embrulhada na discutível esperteza da legalização.
O caixa dois baixa a pecados veniais, punidos com brandura de pai amoroso.
Nada além do puxão de orelhas de uma repreensão, umas palmadas no bumbum da suspensão do exercício do mandato por poucos dias, até uma semana.
Só o que já se apurou, e que os mais descarados tentam abafar, é mais grave, amplo e repulsivo do que as trapaças do finado PC Farias que forçaram a expulsão do presidente Collor de Mello.
Méritos à parte, e embora a lama palaciana tenha respingado em suas cuecas, o ministro Palocci tem conduzido a economia do país com firmeza, motivo que sustenta em calmarias a navegação do titanic Brasil.
Como não sou jornalista, sou apenas um cidadão brasileiro indignado com essa casta nojenta de políticos enraizados no poder, não tenho a obrigação da imparcialidade com esse ou aquele. E também não sou obrigado a concordar com a falta de excelência de nossas excelências que a cada dia que passa perdem ainda mais a excelência.
Mas como diria Murphy: "Para toda a solução tem um novo problema".
Em quem confiar o poder?
Qual seria hoje o novo salvador da pátria?
Qual é o partido político que tem realmente um projeto de administração pública em prol da população com políticos sérios e honrados?
Claro que não estamos falando de todos. Só de 99% deles!
Como ainda não temos respostas para essas e muitas outras perguntas, ficamos à mercê dessa podridão de políticos corruptos, sujos, indecentes, espúrios, inescrupulosos que aí está.
Para comemorar no final, vamos nos saciar de uma bela pizza a La delubiana ao molho valeriano , parabenizando o criador "Jefferson Bomba" e preparada pelo Congresso Nacional.