Coringa do Cinema
Conheci o jornalista, palmeirense e fã de Nelson Gonçalves, Matheus Trunk há uns cinco anos quando decidi linkar meu blog no dele. Na época, impressionado com a qualidade da revista eletronica Zingu, editada for este pontepretano de coração, tudo que eu desejava era poder acessar aquele conteúdo sem ter que recorrer ao google e outros mecanismos de busca. Um clique no meu próprio espaço virtual e todas aquelas histórias, sobre cartazes de cinema, futebolistas do passado e sambas perdidos poderiam ser recuperadas de maneira organizada e inteligente.
Da união virtual veio uma troca de telefones e o encontro na vida real. O local deste contato não poderia ser mais pitoresco: um boteco decadente e ainda heroicamente preservado numa daquelas travessas que circundam o Largo do Paissandu.
Rapidamente percebi que não estava diante de um jornalista qualquer. Eu que durante décadas convivi com centenas deles, sabia a diferença do aspirante esforçado e deslumbrado em relação a um craque da matéria como é o caso deste historiador apaixonado por cinema. Já dizia o grande Nelson Rodrigues que sem paixão não se chupa nem um picolé. O que Matheus faz neste imperdível "Coringa do Cinema" (Giostri Editora, 2013) é digerir o sorvete, mostrar o palito premiado e nos apresentar a fábrica onde ele foi produzido.
Ao usar a figura de Virgilio Roveda, um emblemático técnico do cinema da boca, como uma espécie de agulha que costura grande parte da história do esquecido cinema paulistano, o autor consegue em pouco mais de 150 páginas elencar perfis, viajar em lembranças e recuperar histórias que beiram quase a ficção. Uma incrível maneira de dizer que muitas histórias do cinema nacional ainda clamam para serem escritas.
Caso, por alguma miopia mercadológica, este livro não alcance seu devido lugar no mercado editorial ele já estará ao lado de obras como "O Mundo Funk Carioca" de Hermano Vianna e os romances de José Salles,nosso Ed Wood do Belenzinho, como um tesouro que precisa urgentemente ser descoberto.
"Coringa do Cinema" é portanto mais que uma cinebiografia é, antes de tudo, uma fotografia de nossa amnésia cultural onde as imagens congeladas no papel insistem em desafiar qualquer tentativa de acomodação. Pesquisadores, colecionadores, arquivistas e amantes da sétima arte: comecem à esfregar as mãos.