ÉDIPO EM COLONO, de Sófocles
Apesar de ser a última das tragédias escritas por Sófocles, a história de Édipo em Colono (401 a.C.) se passa bem no meio das narradas em Édipo Rei e Antígona. Dentre as três foi a que mais apreciei. Talvez devido ao conhecimento prévio que possuia das anteriores, a leitura desta vez trouxe uma trama totalmente inédita para mim. A sensação é a mesma de pegar uma trilogia de filmes, assistir o primeiro, depois o terceiro, e por último o segundo. Você passa a entender muitos dos eventos ocorridos na terceira parte, neste caso, Antígona. Tive um percepção melhorada da relação entre Antígona e Creonte, bem como de Antígona e Polinice, seu irmão. Os três são personagens centrais de Antígona. Dá-se aqui uma razão a mais para os sentimentos envolvidos nas ações que levam ao fim trágico de Antígona.
Édipo em Colono relata os últimos dias da vida de Édipo, velho, cego, mendigo e expatriado. Expulso de sua própria Tebas, sem o auxílio de seus dois filhos homens, que se interessam mais pelo trono do que pelo pai, o errante Édipo acaba chegando a Colono, no território ateniense. O Édipo idoso é diferente do jovem Édipo rei de Tebas, que cego vê melhor do que quando possuia o sentido da visão. A velhice e o sofrimento o tornaram sábio e obediente aos oráculos: "Com o tempo, amadurecida a dor mortificante, compreendi que o tormento que me triturou foi castigo mais severo que erros cometidos". E é justamente um oráculo que prediz publicamente que, onde Édipo estiver, vivo ou morto, a cidade será vitoriosa sobre Tebas. Isto causa uma disputa interessante, os que antes o abandonaram agora o querem de volta. Tanto Creonte quanto Polinice - rivais na guerra - tentam de várias maneiras levar Édipo consigo. Mas tanto um como outro são amaldiçõados por ele. Édipo solicita a proteção a Teseu, rei de Colono, garantindo que a predição somente traria benefícios a Atenas.
Édipo é amparado por sua filha Antígona, que o acompanha em sua vida errante. Ismene também o auxilia. "Estas, embora sejam donzelas, no limite de suas forças, me alimentam, me agasalham, com afeto me socorrem, destemidamente. Enquanto que meus filhos, em lugar de quem os gerou, elegeram trono, cetro, poder, mando". Tem-se dito que todos heróis de Sófocles são os que mais sofrem e em uma época em que as mulheres eram tratadas como inferiores ele as enaltece.
A seqüência cronológica para a leitura, até agora, é a seguinte:
1º - Édipo Rei (430 a.C.), de Sófocles
2º - Édipo em Colono (401 a.C.), de Sófocles
3º - Antígona (442 a.C.), de Sófocles
Nesta listagem ainda falta Os Sete contra Tebas, de Ésquilo, que conta a batalha entre os filhos de Édipo. Mas antes de lê-lo acredito que se encaixe ou antes ou depois do 2º. Este será o próximo que irei ler.
As tragédias sofoclianas são melhores que novelas mexicanas refilmadas em Holywood. A trama é tão bem amarrada e com diálogos tão concisos que nos surpreendemos a cada página. Deve ser justamente por isso que são consideradas clássicos, pois não há nada melhor atualmente, seja em livros, filmes ou em outras mídias. A tradução direta do grego é de Donaldo Schüler. Aliás, ele também escreve o prefácio da obra, onde faz um apanhado geral das sete tragédias escritas por Sófocles que chegaram aos nossos dias, bem como faz algumas comparações pertinentes com as obras de Ésquilo e de Homero.