Romancistas da fome

Ao longo de suas obras, o geógrafo, médico, sociólogo Josué de Castro de forma interdisciplinar, analisa o fenômeno da fome sob diversas perspectivas: biologia, geografia, sociologia e para mim uma das mais interassantes, a literatura.

Nas primeiras páginas de Geografia da Fome (1946) agradece pela contribuição de suas pesquisas aos escritores no qual intitula como os romancistas da fome no Brasil , entre eles: Rachel de Queiroz, José Americo de Almeida, Rodolfo Teófilo (que considerava o sociólogo da fome).

Entre os autores e suas respectivas obras abordadas por Josué de Castro, podemos relembrar:

- A fome

Escrito pelo baiano, Rodolfo Teófilo (1862-1932) que passou a vida toda no Ceará. O romance-denúncia foi publicado durante o inicio da República Velha em 1890 e retrata a seca de 1877-1879, considerada por muitos historiadores como a mais calamitosa dos últimos dois séculos. Durante essa estiagem, a fome e epidemias de tifo, varíola e cólera ceifaram muitas vidas. Estimativas apontam que cerca de 500 mil pessoas (algo em torno de 4% da população) morreram.

- Fome (Sult)

Escrito por Knult Hansum (1859-1952)  no mesmo ano do romance de Rodolfo Teófilo (1890), Fome (sult) retrata de forma angústiante a penúria de um jovem escritor Pontus, que busca sobreviver e se manter no seu ofício, mas que sem tem o que comer fica vagando pelas ruas gélidas de Chistiania (atual Oslo). Ao procurar um novo emprego, passa a ter suas tentativas frustradas e conforme sua situação vai se agravando deposita toda a sua esperança em um artigo que pretende enviar para uma editora. Entre a fronteira da loucura e lucidez, nunca sabemos qual o seu estado psíquico. No ápice da trama, Pontus começa a sofrer terríveis efeitos da inanição: irritabilidade, quietismo mórbido vergonha, fraqueza, falta de concentração e desanimo excessivo. Além disso, começa a delirar e cair constantemente em ilusões românticas.

- O quinze

O quinze foi o romance de estreia de Raquel de Queiroz (1910-2003). O título faz alusão a grande seca de 1915 que foi vivenciada pela escritora em sua infância. Sua família na época teve que fugir do Ceára indo para o Rio de janeiro e depois Belém do Pará. O romance acontece em dois planos: através do Chico Bento e sua família e pela relação de Vicente um proprietário e rude criador de gados e Conceição sua prima culta e professora. A obra foi alvo de muitas críticas de intelectuais e autoridades da época, por denunciar essa situação de calamidade pública no nordeste.

- A bagaceira

José Américo de Almeida (1887-1980) foi escritor e político brasileiro. A Bagaceira (1928) é considerado como o marco do romance regionalista do modernismo. O título desse romance evidencia o local em que se juntam, no engenho, os bagaços de cana. O protagonista do romance " é Lúcio, filho de senhor-de-engenho e universitário. A partir dele, o enredo ocorre em dois planos: no primeiro, o autor retrata as observações e a análise da vida rural, diante dos sertanejos que fogem da seca, empregam-se temporariamente nos engenhos, sendo comparados aos trabalhadores permanentes do engenho; a ignorância e a miséria coletivas. No segundo, relata o caso de amor, envolvendo a retirante Soledade, Lúcio e o pai deste, Dagoberto. No prefácio do livro, o autor manifesta seu espanto diante da realidade nordestina: "Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã".

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 20/12/2013
Reeditado em 23/09/2014
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