Resenha politicamente incorreta da obra Guia politicamente incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch
Li(geiramente), voltarei para uma melhor leitura, a obra intitulada Guia politicamente incorreto da História do Brasil, 2 edição (2011), da autoria do jornalista Leandro Narloch, um jovem curitibano, politicamente correto no seu olhar esquadrinhador dos fatos e das personalidades inscritas na história nacional.
A bibliografia referenciada pelo Narloch é volumosa, composta dos mais qualificados estudiosos, tanto brasileiros quanto estrangeiros. Se alguém duvidar, é só conferir. Para tanto, existem as páginas da Bibliografia e das Notas. As ilustrações são de Gilmar Fraga. Ah, o autor também consultou artigos de jornais, revistas e publicações científicas. Tudo comme il faut, tudo como manda o figurino.
Quanto à linguagem, Narloch engendrou um texto com muito gosto na ponta da língua, coloquial, claro, objetivo, preciso e bem humorado. Em momento algum parece pretensioso. Ah, mas que ele demonstra sentir um sabor diferente em mostrar o lado humano, menos convencional e bem mais real dos famosos da história, isto ele demonstra mesmo. E que bem o faz. Não economiza em mostrar o avesso de seus escolhidos, entre eles: Leonel Brizola, Chica da Silva, Dilma Roussef, Carlos Lamarca, Euclides da Cunha, Prestes, Olga Benário e até Lampião. E, ainda, Elza Fernandes. Quem seria Elza? Nunca ouviu falar? Nem eu, antes de Narloch.
As epígrafes dizem do espírito de Narloch: “Heroísmo no comando, violência sem sentido e toda a detestável idiotice que é chamada de patriotismo _ eu odeio tudo isso de coração” (Albert Einstein); e “Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros” (Groucho Marx). Dedicou o livro à mãe, Cecília. O prefácio à segunda edição Narloch assinou.
Destaco, entre as revelações de Leandro, que, Santos Dumont não inventou o avião e era “possivelmente gay”. Lampião é o “pai do brega” e gostava tanto de perfumes que até nos cavalos colocava (as afirmações do autor foram produto de pesquisa e, no texto, ele oferece os devidos créditos). Euclides da Cunha era um desmazelado com a família e, segundo apurou, trancafiou a jovem esposa em um quarto, após o parto, tendo-lhe tomado a criancinha que teria deixado morrer de inanição. Machado de Assis era um censor cruel de muitas peças teatrais. Zumbi sequestrava mulheres e “executava aqueles que quisessem fugir do quilombo”. Foi com os africanos que os portugueses aprenderam a comprar escravos. Graciliano Ramos e Jorge Amado bem que tiveram feios pecados ideológicos. Gilberto Freire, oh, quem diria, admirava a Ku Klux Klan. E, pasmem, Gregório de Matos Guerra era um dedo-duro. E, tem mais esta: a origem da feijoada é europeia. Dom Pedro, o garanhão, era impotente, o que teria confessado em cartas enviadas às amantes (teve várias, assim mesmo). Para findar esta exemplificação, pergunta-se Para que servia a Coluna Prestes e, ainda, afirma-se que Olga Benário queria abandonar Prestes.
Agora falta a pobre da Elza. O verdadeiro nome de Elza é Elvira Cupello Calônio. Com esse nome bonito, mas era uma moça semiletrada pobre de tudo, inclusive de juízo. Por isto, após uma longa e sofrida história, foi torturada, teve os ossos quebrados e o corpo colocado em um saco. Consta que Jorge Amado, para encobrir esse cocô de gato, disse, em sua obra O Cavaleiro da Esperança (1942) que esse caso de Elza “foi uma mentira criada pela polícia”.
A história lida e descoberta assim, como os esgotos a céu aberto, é algo que fascina. Sabe por quê? Porque é preciso ver que somos todos seres humanos, miseráveis, mesmo que tenhamos, em algum momento, atitudes dignas. Atitudes dignas não são propriedade desses falsos mitos criados por nós mesmos, mas de cada um, seja Machado de Assis ou Elza, a do caso Prestes.
E, falta ainda dizer quanto contribui Narloch para nos abrir os olhos para esses historiadores contadores de lorotas, tantas vezes movidos pela inocência ou pelo interesse.