Conversa sobre terapia...
Fenomenologia Existencial
Conversa sobre terapia
Bilê Tatit Sapienza
Editora: EDUC (editora da PUC-SP)
São Paulo (2004)
Resenhado por: Norma Aparecida Silveira de Moraes
Conversa sobre terapia
Em primeiro lugar é de fundamental importância a postura do psicólogo diante de coisas fundamentais, como por exemplo, o respeito pelo paciente, pelo contexto da sessão de terapia, pelo segredo e ética profissional; o bom senso de saber que a terapia, seja qual for, não pode tudo, e que, às vezes, nosso paciente pode precisar também de uma ajuda psiquiátrica ou de algum outro tipo.
Quanto à teoria nos auxilia mas não é tudo, ela explica o pensamento do homem, suas emoções, seu desenvolvimento; explicam o porque das patologias, mas a essência está na pessoa e cada uma pessoa é diferente de todas. Nosso olhar é individual e especial em cada situação.quem trabalha com fenomenologia convive com necessidade de ir direto ao fenômeno tal como se apresenta- ir atrás de seu significado naquele caso especial, único, um significado que pode mesmo contrariar qualquer teoria de psicologia- sem contudo, ignorar as teorias que pretendem explicá-lo. Quando conhecendo as teorias, você conseguir manter o pensamento aberto para permanecer diante do fenômeno, livre das teorias, você vai ter a sensação de estar honestamente fazendo fenomenologia, saberá o que está deixando de lado e por que faz isso. Você sentirá o que o faz porque o apelo do fenômeno é maior.
Neste caso, trabalhamos com um referencial básico do pensamento heideggeriano; a compreensão do Dasein, do “ser-ai”, como “ser-no-mundo”, como possibilidades para realizar sua existência através do “cuidado”, é cobrado por isso e sente culpas; aquele que sonha, faz planos, sabe que é finito e se angustia diante da possibilidade do nada.Sua existência se abre para ser compreendido. Esse é o fenômeno ali.ele é absolutamente singular; porque aquela vida de que se trata é única, aquela sessão é única, a relação entre aquele terapeuta e aquele paciente é única. Não há duas terapias iguais. É ali, na terapia com a historia que se revela. A única fenomenologia que interessa é a dessa historia particular, é a da existência do paciente que está na sala. Nisto consiste o trabalho que ali se realiza, deixar que as coisas apareçam com seus significados, reuni-los e permitir que sentidos se articulem. Terapeuta e paciente pensam e sentem juntos.
A terapia é a oportunidade de o paciente poder olhar, de novo para o que foi vivido e passou- ou não passou-, para o que é vivido agora, e autenticar tudo como sendo dele, como sendo ele. A terapia é a possibilidade de dirigir um olhar diferente para a própria existência e, assim, reformular significados. Este olhar que cuida, cuida da existências que sofre. Porque a existência é frágil por natureza. A existência é ser no mundo, e pode ser atingida tanto por coisas boas quanto más, alegrias e dores. A existência é sempre um poder ser diante de um “para que”, de um “a fim de que”, e quando este se rompe ou está ameaçado a existência sai machucada. Aí vem o terapeuta...e novas possibilidades de olhar a dor junto com o paciente, ali uma pessoa ouve e acolhe suas palavras. Terapia também é um momento em que é possível aprofundar o pensamento, de uma maneira inteiramente pessoal, na questão básica do sentido da vida própria é também o lugar onde se pode ouvir a própria resposta à pergunta inevitável: o que tem valor para mim?
É na terapia a ocasião de ver que essa é a vida que se realizou, que foi esse o caminho- mas é um caminha que continua e, o mais importante: pode ir em direção diferente. É na terapia que há a chance de alguém perceber que não lhe compete mudar os outros, tomar a iniciativa para resolver os problemas que são dele. E que a obrigação de cuidar da sua vida é primeiramente dele; é a chance de perceber que ele deve isso a si mesmo. A terapia cuida da existência que sofre, porque a existência é frágil por natureza. É o momento em que é possível aprofundar o pensamento, de uma maneira inteiramente pessoal na questão básica da vida própria. O lugar onde se pode ouvir a própria resposta à pergunta inevitável: o que tem valor para mim? Um pouco isto, uma ocasião de aprofundar o pensamento em coisas que a primeira vista, parecerem ser simplesmente questões de opinião, já resolvidas; mas que na verdade, precisam ser pensadas. Na terapia o fenômeno é a existência do paciente. Sua vida, seus anseios, sua dor, culpas, angustias, medos, questionamentos. O seu ser-no-mundo, ouvir nas entrelinhas, no encoberto, no que não se mostra, mas está ali, o ser-no-mundo” “com os outros”.
FENOMENOLOGIA, é a fala do que se mostra, do que está na luz. No primeiro momento o fenômeno não se mostra. Na escuta atenta, paciente e empática do terapeuta vai-se emergindo o que está lá, treinar a escuta e respeitar o que emerge. Abrir possibilidades do ponto de vista do terapeuta e do outro. O que o outro está enxergando é o mesmo que está se mostrando? A terapia não é manipulação de comportamento e nem mudar comportamento, é o cuidar de nossa culpa existencial. É preciso cuidar do que não teve possibilidade de ser iluminado. O olhar do terapeuta deve-se ser o olhar atento, o ouvir paciente, o acolher empático o que for emergindo comprometendo a ser radicalmente humano. Investigar sim, mas própria, com olhos abertos. Ir lá pra ver, sem teorias ou técnicas. Olhar o ente como ele é no seu existir no mundo, com a sua pergunta, com o seu sofrer, com um olhar de ajuda do terapeuta, um “ser-no-mundo” um “ser-com-outros”, esta é a função do terapeuta fenomenológico.