Uma Poética pra se lambuzar
Livro: Melikraton
Autora: Fidélia Cassandra
Editora: Latus
Campina Grande:2013
"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar." Machado de Assis
Melikraton é de fácil compreensão, é como se lambuzar com o mais fino mel de abelha. E digo mais, é um texto muito original, lírico e bonito. Uma obra que cala fundo no nosso coração, porque tem um fio condutor que nos leva aos nossos mais belos sentimentos, como: amor, paixão, amizade e outros.
Observa-se, na obra, (p. 30) no poema Pecado toda sua sensibilidade: "A casa cheira a leite, batata, maracujá/e especiarias _/A casa é minha São Saruê, minha Yoknapatawpha,/minha Pasárgada, minha Shangri-lá, meu Será-Fim,/São edificados nichos, colmeias, teias de aranha...// Também (p. 51) no Poema de Lembrar, todo deslumbramento num simples guardador de comidas: "No petisqueiro,/Belinha guardava douradas bananas,/rapadura dura e batida./Mel de uruçu, de engenho/ e farinha.//Do corredor minúsculo, sentia-se/o aroma/do móvel/mais cobiçado da casa.//
Ver-se, também, que não lhe faltara inventividade; a exemplo (p. 63), o poema que dá título ao livro: Melikraton: "A língua de quem amamos/ é suprema,/ mesmo que não seja Latim// A língua de quem amamos/ é sagrada,/ mais que dos anjos.../ É linguagem, metáfora, metalinguagem/ a língua que amamos.//
Ainda, as suas metáforas nos toca o âmago; (uma viagem à beira de um rio) deixa nossa sensibilidade aflorada para com o que é singelo da vida; são pérolas jogadas no coração de qualquer leitor, como (p. 66) no poema O Barquinho Amarelo, "O Barquinho amarelo/ navega no rio azul/ Azul o céu/ Azul a terra./ Azul a pele da pantera/ de olhos amarelos/ na noite azul.// O barquinho amarelo/ e sua vela branca/ cortam o vento,/ cortam a vida./ Branca a vela, /Branca a barba do pescador/ que veleja o barquinho amarelo.//
Sobretudo, os incríveis versos metalingüísticos atenta pra o significado real da poesia; tipo (p.92) em Mapeamento, "Amor,/Poesia é Poesia!/Seja aqui ou na Manchúria,/No Afeganistão ou na Polinésia,/No Será-Fim ou na Conchinchina!// Amor,/ o amor pode falhar./ A poesia/ nunca falha.//
Ler a poetisa Fidélia Cassandra me fez viajar no tempo e no espaço. Quando aluna do Curso de Letras, da UFPB, nos idos de 1980,meus mestres de Literatura Brasileira me apresentaram o movimento modernista. Toda aquela gama de informações sobre as vanguardas; suas rupturas com os padrões clássicos. A nova linguagem, com liberdade de estilo, tornando-a coloquial. Além disso, toda aquela reca de bons escritores, tais como: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswalde de Andrade, Graça Aranha e tantos outros.
Percebera, portanto, a fonte na qual a poetisa fora beber o néctar inspirador. Pois, seus versos trazem toda beleza e encanto, produzidos, com o que há de mais vivo no ser, a força de sua respiração. Por isso mesmo, não se importando com métricas, rimas, ritmos etc.; versos ditados, simplesmente, pelas emoções.
Enfim, nada mais tenho a dizer. Apenas que li Melikraton e amei a doçura de sua poesia.