A "paideia" e a dramaturgia
Este texto é um diálogo com o livro "Dançando com os textos gregos: a intimidade da literatura com a educação" de Lízia Helena Nagel (2006).
Nagel propõe uma nova visão sobre a educação grega, saindo do cenário da Filosofia, da Academia, e pondo em foco o teatro.
Para os gregos, a educação não estava, como na visão atual, presente em uma instituição apenas, mas estava em todos os lugares e experiências vividas.
Nesse novo cenário democrático, o teatro ganha espaço como uma expressão paralela livre de repressões.
Numa análise da peça “Prometeu Acorrentado”, a autora aponta várias críticas sociais dentro da narrativa. O teatro se baseia nos poetas, mas não confirma o poder divino: pelo contrário, banaliza os deuses. Zeus era símbolo de poder, mas o teatro separa o poder de Zeus. Mostra que os homens têm poder e que nada é tão imortal e sagrado (como eram os aristocratas).
“... os deuses são fonte de retidão asseguradora da ordem hierárquica...” (pág. 83) Aqui, entendemos que a aristocracia se embasava na sacralidade divina. Lembra-se que os aristocratas se diziam descendentes dos heróis, portanto, descendentes de deuses.
“Ele subjuga a raça celeste e não cessará antes de saciar seu coração...” (pág. 84) Acredito que Zeus represente, nestas tragédias, os aristoi, portanto, entende-se que os “melhores” não são fonte de retidão e justiça, mas agem por seus interesses particulares, saciando suas vontades.
Uma coisa garantia, até certo ponto, a segurança tanto do dramaturgo quanto dos atores: a máscara. Com uma máscara o homem não era mais ele mesmo, era a representação de um personagem fictício e, sendo mediador da história, protegia a integridade do dramaturgo: pois tudo era só arte e ele nem ao menos tinha dito algo.
Por que não houve repressão a estes dramaturgos, a máscara era tão segura? O dramaturgo, na Grécia Antiga, é considerado o sucessor dos poetas e, portanto, descendente das Musas. Eis que surge uma contradição: aquele que humaniza os deuses e satiriza o aristocrata tem seu direito de expressão garantido pelo próprio mito.
Além da Filosofia, o teatro é outro elemento grego legado ao Ocidente. Esta forma de expressão perdeu muito espaço no cenário atual, mas foi se remodelando e continua presente.