A Filosofia Grega

Este texto é um diálogo com o livro "Convite à Filosofia" de Marilena Chauí (1997).

Chauí tenta dar um significado pleno à Filosofia e ao que é ser filósofo, garantindo que esta é singularmente grega.

A autora separa “filosofia” de “sabedoria”, expondo que somente os gregos possuíram a Filosofia, levando em conta suas características mais peculiares, enquanto outros povos possuíram e possuem sabedoria, mas a desenvolveram de um modo diferente do tipo racional e sistemático (que tem como relevante as estruturas invisíveis da Natureza).

A Filosofia é um legado euro-ocidental que marca, de certo modo, uma espécie de “separação” do pensamento oriental do pensamento predominante no Ocidente.

A autora enumera alguns exemplos desta herança grega para a cultura ocidental: a Física, a lógica, a compreensão racional, livre-arbítrio, a ideia de acidental, em geral, a abstração.

Segundo Chauí, os poetas já faziam certo tipo de abstração, escrevendo e expressando os sentimentos (principalmente os de angústia) dos mortais em relação aos sentidos da vida. E nesse sentido, os primeiros filósofos começam a se perguntar este tipo de assunto (já explicado pelos mitos, mas com explicações que não mais satisfaziam).

A Filosofia nasce em Mileto com Tales, e seu primeiro conteúdo é a cosmologia.

Há divergências no que se refere à origem da Filosofia. Para alguns esta é parte do “milagre grego”, para outros é fruto do contato com o saber oriental. Para Chauí, a resposta não está nem em um nem em outro destes sentidos: o Oriente teve grande contribuição e nada foi um “milagre” (pois isto negaria o processo histórico), mas as contribuições orientais passaram por mudanças tão singulares (enquadradas na razão e lógica) que a cultura grega surge como se fosse espontânea.

Sugere-se que a Filosofia não foi uma radical ruptura com o Mito e nem uma racionalização deste, mas uma reformulação gradual e completa deste, como uma forma inovadora de explicação.

Chauí aponta como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia: as viagens marítimas, a invenção do calendário, a moeda, a polis, a escrita alfabética e a política.

“A Filosofia [...] é um fato tipicamente grego.” (pág. 20) Esta passagem é interessante, pelo fato de Chauí caracterizar a Grécia Antiga como a única portadora da Filosofia. Porém não a classifica com superioridade cultural, mas a distingue de outros povos e localidades com seus modos de pensar ímpares.

“Escutemos, por um instante, a voz dos poetas, porque ela costuma exprimir o que chamamos de ‘sentimento do mundo’...” (pág. 23) Acredito que este chamado “sentimento do mundo” é a resposta, ou melhor, a pergunta que define os rumos de todas as civilizações: a angústia primordial, a busca das origens, dos sentidos da vida, do além e do aquém. A busca de respostas é o que faz os homens darem um passo a frente, como a utopia de um Galeano.

O pensamento heleno pode não ser um “milagre”, mas, de fato, é singular e poderoso, rompendo a barreira do tempo e sendo usado e abusado ao longo da História. Por ser um processo mais moroso que o material, a mentalidade presente está repleta do pensamento grego (ou melhor, greco-romano). Os Romanos praticamente se apropriam da cultura grega, a Idade Média está repleta de filósofos cristãos que aderem as ideias de Platão para dar base à religião, no Renascimento buscam-se as origens clássicas e se refuta todo o resto (com uma interpretação fruto de seu tempo, é claro), atualmente, como diriam alguns autores, “a Filosofia não passa de um rodapé da República de Platão”, ou seja, estamos permeados pelo helenismo. E não é preciso ir a fundo ao estranhamento para perceber a influência, basta olha em volta: nossa Estética não é nada atual, é só mais um neologismo.

Por que estudamos a Filosofia grega e não a sabedoria oriental? A resposta está, talvez, na visão ainda muito influenciada pelo eurocêntrismo, mas também para compreendermos o processo da nossa Filosofia (que, como aponta Chauí, é repassada pelos portugueses durante a colonização).

Democracia e Filosofia, de fato, andaram juntas? É muito provável que sim. A Filosofia é um modo de pensar totalmente inovador, que, mesmo em um processo gradual, substitui os mitos não racionalizados. Com o advento da Democracia, a isonomia permite que todos sejam iguais (é claro, nem todos) e que seus modos de pensar e se exprimir sejam diretos e sem restrições. A ideia de a Hélade ser uma região de monolatria também influencia nesse “movimento filosófico”, que age quase sem repressão.

Há algo de contraditório na Filosofia grega. A Filosofia, me parece, estava como um novo modo de pensar, uma negação do mito. Entretanto, esta mesma Filosofia não abandona o Mito por completo e se torna algo a parte, por vezes esta se apropria do mito para suas lógicas metafóricas (como Platão e sua Alegoria da Caverna). E hoje? Ainda existem mitos? Isso é muito presente, talvez seja algo próprio do ser humano, para se responder o inexplicável recorremos aos mitos. É só observar com estranhamento o cenário religioso, científico, ou mesmo a moral.

A Ace or Sic
Enviado por A Ace or Sic em 12/11/2013
Código do texto: T4567868
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.