A Grécia Arcaica

Este texto é um diálogo com o livro "O Oriente e a Grécia Antiga" de André Aymard e Jeannine Auboyer (1977).

O principal foco da produção historiográfica é demonstrar como ocorreu a formação e "evolução" da Grécia Arcaica, onde se dão todas as bases da mítica Grécia Clássica.

A ideia de riqueza se baseava na posse de terras. Os grandes nobres eram, assim, os mais importantes na Grécia Arcaica. Seus ideais baseavam-se na guerra e na extravagância do luxo: faziam grandes banquetes, eram os únicos com direito à caça e ao hipismo, usavam de suas posses para empresas de seu interesse particular e na guerra eram eles que decidiam os rumos.

Havia uma grande importância na genealogia: o sangue definia o lugar do cidadão na polis. Os laços de sangue ligavam os sujeitos aos genos (espécie de clã). No geno todos se ajudavam, porém eram subordinados aos grandes proprietários.

Não havia um Estado formado: com administração e funcionários. Era um Estado mínimo, com um pequeno tesouro e o Basileu. Porém os grandes latifundiários começam a se organizar e formam um Estado Aristocrático: O Basileu agora se torna apenas um sacerdote (mas não deixa de ter ligação com a nobreza), os conselhos deste Estado eram formados também por nobres e seus cargos eram hereditários. As leis eram aplicadas de acordo com as tradições, praticamente não havia leis escritas.

Este domínio total da nobreza gera grandes conflitos internos: cada nobre começa agir de acordo com seus interesses próprios, nada mais é público. A partir destas tensões, muitos pobres exilam-se e/ou tornam-se mercenários no Oriente.

Além do exílio dos pobres há muitos fatores que influenciam na queda deste regime, um deles é o novo tipo de guerra. Com as falanges e trirremes, surge o hoplita na falange: o igualitarismo guerreiro entra em cena.

Assim inicia-se a ascensão das camadas sociais mais baixas da Grécia. O comércio, tanto territorial quanto marítimo, começa a tomar importância. Os helenos formam entrepostos comerciais, se posicionando a beira-mar em várias passagens: os fenícios perdem sua importância no Mediterrâneo. Com esta evolução econômica surge o eléctron: a moeda grega.

As grandes polis gregas da Idade Clássica não despertam nesse período; o foco está no Oriente. Não há monopólio da produção e do comércio, e, além disso, a maior parte da Grécia ainda permanece nas primitivas ideias bucólicas.

Contudo, começa a se agravar uma grande crise no campo: os pequenos produtores endividam-se e tornam-se escravos por dívidas, viram uma espécie de “arrendatários” ou reiniciam o processo de autoexílio: fogem para novas cidades ou se tornam mercenários.

Surgem legisladores. Apesar de não muito influentes, estes tornaram boa parte das leis escritas, e trouxeram-nas ao meio humano (extinguia-se e ideia de leis divinas).

Houve muitos tiranos. Estes eram governantes “bastardos”, não tinham laços sanguíneos com o rei, ou nem ao menos eram da polis. É um termo oriental, porém na Grécia a prática é muito mais latente. Eles eram muito pouco apoiados pela aristocracia, até porque esta sempre estava no desejo de tomar o poder. Os aristocratas, em tempos de tirania, preferiam alianças com o povo, mesmo sofrendo opressões do tirano.

O tirano raramente toma atitudes pelo benefício comum, geralmente atua de acordo com seu interesse particular (Sólon é o maior exemplo de beneficiário das baixas camadas – mas muito pouco). Porém os tiranos, geralmente, eram mais bem vistos (devido estas atitudes) pelo povo do que os aristocratas com origem na polis.

Por fim, a tirania (hoje com status pejorativo) foi uma das bases da emergência do igualitarismo e da democracia.

No fim do período arcaico há regiões vivendo ao modo antigo, outras em reforma e outras já quase democráticas.

Esparta é um caso a parte. É a representação mais relevante do Estado. O Estado controla absolutamente tudo, é uma situação análoga à ditadura. Porém, este é um período de muitos embates entre as baixas classes e a aristocracia.

E, a exemplo dos lacedemônios, Atenas é outro caso clássico: não dá sinal de mudança nenhuma por longos períodos, mas em um século apenas, se desenvolve mais do que qualquer outra cidade-estado.

No entanto, em Atenas, os poderosos não estão excluídos do exercício do poder, mas as baixas classes têm o acesso a este agora.

Com estas “evoluções”, averiguamos um contraste entre as cidades helenas, umas voltadas para o “dorismo” e outras para o “jonismo”. O espírito grego estava divido entre mais racional e o mais emotivo.

Os poetas tiveram importante função na religiosidade. Com seus poemas dão características humanas aos deuses e os aproximam do mundo heleno. De todo o panteão, em geral, os deuses originalmente helenos são do culto a terra, enquanto os outros são “importados” e “reformados”.

Surgem os jogos. São uma espécie de ritual que adere toda a comunidade. Neles se materializa o espírito de individualismo, onde cada um mostra o que tem de melhor em contraste com o resto das massas.

Os jogos e festas, ao fim do período arcaico, afirmam o tempo de trégua. Como o mundo grego vivia em guerra constante, no período dos jogos se proclamava uma paz sagrada. Além da parte atlética destes jogos, também havia disputas musicais.

Toda a religiosidade grega ainda deixava algo a desejar: um destino melhor no mundo além-vida: surgem os cultos de mistério e a ideia de um bom fim nos campos Elíseos.

Um personagem interessante que ganha espaço nesse mundo de misticismo é o oráculo. Este existe há tempos bem mais remotos, porém aqui ganha um grande fluxo de atividade. O principal é o de Delfos, e todos eles são ligados ao deus Apolo.

Voltando a ideia da importância da poesia, os poetas homéricos instituem os ideais heroicos e quase que normatizam a moral a partir de suas poesias de guerra.

Mas um indivíduo de importância ímpar, apesar de não ser um personagem histórico, é Hesíodo. Este fez muito em sua poesia do que o atual historiador faz em suas produções: influenciou o passado de que falava com toda característica do seu cotidiano; trouxe os deuses ao mundo dos homens.

No entanto, a poesia épica sai de cena, e surge a poesia lírica: poesia musical. Esta teve tanta influência que os helenos aprendiam música até os 30 anos de idade, como parte de sua educação. A poesia lírica serviu como meio de contestação e expressão de opinião (Alceu celebrou a morte de um tirano, e a poetisa safo – neste mundo machista grego – cantou versos à sua amante).

Esse lirismo nasceu no oriente da Grécia, e nesta mesma região surge a Filosofia. As técnicas e ideias desta filosofia são fruto do contato com os povos orientais. Tudo que lá era conhecido pela prática (o modo empírico), os helenos transformam em ciência, uma nova forma de representação.

A religião perde um pouco de sua autoridade, o surgimento dos filósofos implica no uso da razão, a teogonia é contestada pelas cosmogonias.

Os helenos tornaram-se a referência. Não havia nenhum povo no Oriente que fosse tão criativo e eficiente. Com a ascensão da lógica, surgem os primeiros vestígios de historiografia, surgem autores que abrem mão do misticismo e começam a escrever seu cotidiano – embasados na lógica filosófica.

A arte se sobressai no início da Grécia Clássica, a superioridade sai dos vasos de cerâmica e atinge a casa dos deuses. Os templos tomam dimensões enormes e tudo se normatiza: é a ciência. Porém não se deixa de lado o subjetivo, e cada construção tem seu “estilo”. De fato, nasce o científico arquiteto. Estes ideias racionais atingem também a escultura e a cerâmica: a arte evolui com a ciência, porém não se abandona o campo do religioso (que, aliás, continua muitíssimo influente).

Talvez, o ponto principal desta ascensão grega seja, mesmo com toda sua pluralidade de ideias e polis, a unificação da moral. O período arcaico deu todo o embasamento à celebre era clássica helena. A unificação moral é a origem do helenismo.

“... o nascimento pesava na classificação social...” Neste trecho, o autor expõe a ideia de que os laços de sangue muito importavam na Grécia, desde o período arcaico. O sujeito só era aceito em determinados grupos de acordo com sua origem familiar, e sua personalidade estava totalmente ligada a este grupo solidário.

“Hesíodo qualifica os poderosos de ‘comedores de presentes’.” Devido às vantagens inúmeras e o poder do Estado totalmente controlado pelos aristocratas, neste período houve um grande fluxo migratório de helenos. Estes, insatisfeitos com o regime oligarca, exilavam-se no Oriente como mercenários, na maioria das vezes.

É importante analisarmos que a Grécia, geralmente, só é lembrada por seu período Clássico e Helênico. No entanto, as bases para o “milagre grego” formam-se no período Arcaico. O exemplo, talvez, mais visível do progresso e formação de bases sociais, políticas e culturais, é a passagem para a Democracia. Nesse período inovam-se as técnicas de guerra, e surge, talvez, o principal fator determinante da democracia: a falange.

As bases da democracia se formaram em situações ímpares, das técnicas de guerra para a política cidade, os períodos de tirania, entre outros.

Como funcionou, de fato, a democracia grega? Acredito que, devido à divisão social, não houve, realmente, uma total democracia. Somente os homens livres maiores de idade exerciam o poder no Estado. Excluídos deste sistema estavam as mulheres e os hilotas.

A religião grega seria uma ocasião singular da Antiguidade, por sua variedade de deuses e ritos? Provavelmente não. Os únicos deuses originalmente gregos são os do culto a terra. Os deuses do céu e o mar (Zeus e Poseidon, por exemplo), foram “importados” e reformados pelos poetas helenos. No que se refere a virtudes e à moralidade, grande parte dos deuses menores foram caracterizados por Hesíodo.

Na Grécia Arcaica, as polis estavam sempre num dilema: Segurança ou Liberdade?

Atenas é o maior exemplo de polis que escolhe a liberdade. Porém, devido a esta escolha, vive em guerras externas e disputas internas constantes e permanentes. Em contrapartida, há Esparta, a “polis da Segurança”. De tanto presar sua segurança, tornou-se uma polis em que todos os cidadãos estão sob um regime autoritário de controle do Estado. Para garantir sua segurança externa, envolveu-se em grandes guerras e fez muitos escravos. O número de escravos elevou-se tanto que, para manterem-se seguros, os cidadãos dormiam ao lado de seu armamento, à espreita.

As grandes potências atuais, como os EUA, sempre estão envolvidas em grandes conflitos. O exemplo dos americanos talvez seja o mais atual da perda da liberdade em função do militarismo.

A Ace or Sic
Enviado por A Ace or Sic em 10/11/2013
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