As Primeiras Civilizações
Este texto é um diálogo com o livro "As Primeiras Civilizações" de Jaime Pinsky (1994).
Para o autor, há a ideia de que as primeiras cidades formadas não são como as nossas, não só na sua estrutura, mas nos valores concebidos. Havia assim, um maior contato com o “mundo natural”, uma organização que não tornava os sujeitos tão dependentes (como hoje) do seu centro urbano. Assim, forma-se a concepção de que distanciamo-nos de um conhecimento primordial, advindo de nossas origens naturais.
Pinsky não aceita a ideia de que a urbanização origina-se totalmente da autossuficiência agrícola, que as cidades vêm apenas da independência produtora, como algo linear. Ele formula o argumento de que essa organização das cidades surge de grandes necessidades, a organização vem, então, de um certo caos inicial. Assim, o surgimento das primeiras civilizações vem de uma autossuficiência alimentícia, mas a grande produção de alimentos só acontece com uma complexa estruturação sociocultural. Para ele, o termo “civilização” não deve ser usado como qualidade, mas apenas como uma característica que distingue povos que necessitaram, no seu processo histórico, de uma hierarquização mais efetiva, de povos que, por várias outras tendências (como o território em que se estabeleceram), não tomaram parte deste processo (que claro, a todos era implícito em sua contemporaneidade).
“... Nossas pernas são as rodas dos ônibus e dos trens, nossos olhos são o vídeo da televisão...” Aqui o autor demonstra o quão dependentes nos tornamos do grupo social, temos uma visão de que somos independentes do “mundo lá fora”, mas, na verdade, somos apenas peças de uma estrutura social da qual não temos como nos libertar, pela perda do conhecimento “original”, natural.
O autor também formula a ideia de que o processo histórico civilizatório tem como causa o território, que gera uma organização forçada, “... A necessidade é a mãe das invenções...”, concordando com o arqueólogo Braidwood.
Concordo totalmente com as formulações de Pinsky, acredito que não há explicações mais plausíveis para o início do que nomeamos Civilização. Provas de que o caos gera a ordem são os territórios da Síria e Palestina (citados no texto), que até hoje têm uma estruturação rural ou, a grosso modo, primitiva.
É interessante citar que todo esse processo de urbanização é semelhante aos mitos formados pela Antiguidade. A Mitologia em si, seria uma historiografia do “processo civilizatório” com uma aura mística, mágica. As inundações periódicas dos rios seriam os “Dilúvios” das histórias religiosas, originalmente não domados. As “Gênesis” mostram sempre um caos primordial, que após um certo trabalho torna-se ordem: “E então surge a luz”. O homem primitivo, inadequado à Natureza, em meio aos animais e florestas, desbrava territórios e usa de sua racionalidade (talvez seu único dom em meio a tantas problemáticas) para organizar-se e sobreviver.
O homem “toma o lugar de deus” com a criação de um novo mundo, o mundo urbano, no qual ele é, ilusoriamente, rei.
Nas primeiras civilizações, seriam as construções monumentais uma característica de progresso? Talvez o Positivismo, das ideias de Comte, esteja tão engendrado no nosso pensamento que vemos o que é “grandioso” como algo bom. Mas na verdade estas fontes histórico-arqueológicas, presentes na arquitetura antiga, escondem, com sua beleza, a sangrenta trajetória daqueles que considero como os verdadeiros sujeitos históricos. Esse processo grandioso inicia uma, também grandiosa, marginalização das massas e um intenso destaque aos grupos de elite.
Mas somos realmente reis deste mundo? Talvez o homem não seja assim tão poderoso. Essa aparência que a tecnologia e o modo de vida cotidiano nos dá não é tão real. O que seria de nós sem a Natureza? A sociedade contemporânea, por fim, é totalmente dependente do que “não é civilizado”.
Conseguimos ver aspectos do distanciamento da Natureza quando pensamos em casos como de pessoas que se perdem em matas ou bosques e morrem de fome ou sede. O homem já não consegue mais se adequar a outros meios.
Vemos todo este processo quando pensamos em nossos valores individualistas. Não somos mais aqueles sujeitos que vivem em grupo para uma ajuda mútua, mas somos sujeitos com visões progressistas que persistem na ascendência no grupo social, ser melhores que os outros passando por cima de tudo, confirmando o Darwinismo Social.
Crianças que não conhecem o processo de produção animal e vegetal, a não ser de livros didáticos ou (raramente) da televisão, confirmam uma triste realidade que continua a crescer.