O conceito de "Oriente"
Este texto é um diálogo com o livro "Dicionário de Conceitos Históricos" de Kalina Vanderlei Silva (2010).
A autora procura formar a ideia de “orientalismo” e “oriente” como uma construção do “ocidente”, que também é uma construção ideológica.
Segundo Pinsky, baseado nas afirmações de Edward Said, o Oriente não existe concretamente, é uma invenção ocidental originária do imperialismo francês e inglês do séc. XIX, e difundida até os dias atuais. Segundo Said, o Orientalismo é uma óbvia representação do eurocêntrismo manipulador da História. O Ocidente escolheu a dedo o que faria parte do que conhecemos na História como Oriente, escolheu a parte oriental que lhe legitima a evolução nos moldes positivistas. Ao mesmo passo que destaca esse mundo oriental como berço da civilização, o Ocidente se afirma superior a partir de estereótipos sobre a cultura oriental (como se esta houvesse permanecido estagnada). Sem este romantizado Oriente, não há Ocidente, e muito menos seu discurso de dominação.
“... recorrermos às expressões sociedade ocidental, cultura ocidental...”. Recorrer a estes termos é algo muito comum, tanto em dissertações quanto em conversas informais. Esta ideia de Ocidente está enraizada em nossa cultura, de tal modo que somos muitíssimo influenciados quando voltamos nosso olhar para a “região oriental”. Porém devemos fazer um estranhamento a este fato, e remontarmos às origens deste termo, que têm uma alcunha de superioridade cultural (debate intenso do séc. XIX): “... os estudos orientalistas, e o próprio conceito de Oriente, são invenções ocidentais...”.
Não devemos negar a heterogeneidade cultural dos povos e regiões, porém o uso impensado de termos e ideias como esta pode gerar discursos progressistas e, por muitas vezes, xenofóbico. Não acredito que devamos abandonar estes termos construídos por positivistas e imperialistas, mas que devemos mudar seu sentido no contexto atual, reorganizando nossos valores. A visão romântica que temos do Oriente, e que, por vezes, a grande mídia reafirma, nos distancia cada vez mais destas culturas e naturaliza tudo com a sofisticação capitalista, chegando ao ponto de não questionarmos as ações “deste sujeito chamado Ocidente em relação aos orientais”.
Esse discurso que se estende desde o séc. XIX até a atualidade deveria nos fazer se perguntar coisas como: por que esse olhar de repulsa ou assombro em relação a outras culturas? O que será realmente o Terrorismo, e por que vemos em todo árabe um homem-bomba pronto para se sacrificar por sua Jihad?
Talvez o terrorismo seja uma construção conceitual como o oriente e o ocidente (e afirmo que o é). Sem essa divisão bipolar do mundo, muitos dos problemas sociais globais se resolveriam e muitas injustiças deixariam de ser feitas e refeitas (ou ao menos isso seria um ótimo início, uma desconstrução de uma historiografia preconceituosa). É certo que um dos maiores criadores de estereótipos e propagadores e destes, é o cinema! Hoje o cinema se tornou uma das maiores armas da historiografia manipuladora, criando imagens falsas a partir de descaracterizações e enaltecimentos de alguns detalhes que são os “convenientes”.