A morte de Ivan Ilitch

A morte de Ivan Ilitch do russo Leon Tolstoi é um livro pertubador e de uma narrativa magistral poucas vezes alcançada na literatura mundial. Esse pequeno novel (85 páginas) difere de um conto devido unicamente ao seu tamanho e, de um romance, pela trama focar apenas na personagem principal.

A obra retrata a vida do burocrata Ivan Ilitch e sua agonia diante da sua atroz doença terminal. Ilitch teme a morte mais que tudo, pois percebe que sua vida deveria ter sido mais proveitosa, sincera e menos fútil.

A narrativa começa no velório. Em seguida, retrata o casamento com sua esposa (época em que ainda eram felizes junto aos seus dois filhos). À medida que Ivan Ilitch vai subindo de cargo, a burocracia, inconscientemente vai tornando sua vida insatisfatória e desprovida de qualquer significado especial.

Com o tempo Ilitch torna-se um juiz respeitado e recebe uma oferta para morar em outra cidade. Logo compra uma casa e começa a fazer sua decoração. Enquanto trabalhava nesta, Ivan Ilitch leva uma queda da escada, batendo a região do seu rim. Eis, então, o início de seu infortúnio.

Além da doença, tudo piora a partir do momento em que as brigas com sua esposa ficam mais constantes e conforme suas dores começam a se agravar. Ilitch usa seu emprego como válvula de escape.

Conforme suas dores tornam-se insuportáveis, a realidade crua é exposta a personagem. Ilitch percebe que sua vida quanto mais afastada de sua infância, mais vazia foi ficando. Família, emprego, amizades… tudo não passa de uma ilusão. Exceto, talvez, os momentos em que passava junto ao seu criado, que realmente se preocupava com Ilitch durante os momentos de sofrimento.

De certa forma, o livro é um soco no estômago. O ato de morrer é desprovido de qualquer significado ou explicação, o niilismo, a nadificação, o vazio existencial.

Conforme a leitura se aprofunda, encaramos na morte da personagem o reflexo da nossa própria existência que se esvai gradativamente. A agonia de Ivan Ilicht é terrível, a sua falta de respostas, sua angústia, sua vontade de viver, o seu medo e o sofrimento acabam encravados em nossa alma.

O livro é uma autobiografia do autor, o qual dizia que levava uma vida desregrada por viver constantemente envolvido com jogatinas, bebidas, prostitutas… Desregramento apenas contido pela sua busca espiritual e fé, porém constantemente abalada por crises existenciais ao longo de sua vida. O próprio Tolstoi dizia: ” não passei um dia em minha vida sem pensar na morte”.

Em vista de tudo isso, A Morte de Ivan Ilitch está entre as obras consideradas universais, pois suas inquietações e angústias pertencem a vida de qualquer ser humano seja qual for sua época. Ajuda-nos, portanto, a refletir sobre a nossa frágil condição humana e sobre o momento final que encerra nossa existência.

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Postado originalmente no blog Sagaz em 04 de abril de 2010

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 25/09/2013
Código do texto: T4498037
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