Através das Fechadura

Sorrateiramente o sol desapareceu atrás das colinas no horizonte, todo o céu ficou dourado, como se uma grande festa estivesse acontecendo. O vento soprou suave e firme. As ondas do mar dançavam comemorando, todas as flores e árvores sorriam felizes, enquanto a Lua aparecia em seu vestido de prata e a pequena Catalina deitava-se e deixava-se levar pela inconsciência.

No seu sonho, Catalina via uma luz, muito forte, que saia de um pequeno objeto. Ela levantava-se correndo ia em direção à luz, tropeçava na escadaria de madeira, mas não se deixava vencer, levantava-se e novamente punha-se a seguir a luz.

Ela acaba de chegar a uma enorme porta, de madeira também, onde a luz entrou. Catalina, como era bisbilhoteira, agora, além de querer saber o que era aquela luzinha, quis também saber o que havia por detrás da porta. Ficou na ponta dos pés e, com suas frágeis e pequenas mãozinhas segurou a maçaneta e girou, ou melhor, tentou. Por mais que se esforçasse não conseguia mover um centímetro se quer, a maçaneta continuava intacta. Mas, como não era de desistir fácil das coisas, Catalina pôs-se a pensar em outra maneira de descobrir o que se encontrava atrás daquela porta, que olhando bem, parecia mais um daqueles portões bem antigos que abrigam mundos mágicos. Enfim, ela resolveu olhar pelo buraco da fechadura, mesmo sabendo que isso era uma coisa muito feia de se fazer. Seu pai e seu primo haviam dito várias vezes que quem olhava pelo buraco da fechadura se deparava, quase sempre, com um monstro horrível que adora devorar criancinhas, mas ela achava que sete anos era uma idade bastante boa para parar de acreditar em monstros.

Com seus curiosos olhinhos ela viu, apesar de não ter acreditado muito nisso, que lá dentro havia muito mais luzinhas, todas de cores e tamanhos diferentes, e também existiam vários seres pequeninos, com enormes chapéus e sapatos pontudos. Eles usavam roupas coloridas também; e mais tarde ela descobriria que havia um pequeno ser para cada cor do mundo – Eles estavam todos de mãos dadas, e dançavam ao redor de uma imensa árvore que aparentava também querer poder se mover. Mas a coisa mais estranha de todas era que a árvore, os seres e as luzinhas, que deveriam estar dentro de alguma sala, de certa forma, não estavam. Aquela porta levava a um lugar muito diferente, um tipo de vale, e olhando através da árvore, era possível ver colinas, lagos, e muitas outras árvores. Também se via pequenas casas feitas de curiosos tipos de matérias, por exemplo, de cogumelo. Agora, mais que nunca, Catalina queria – e precisava – entrar por aquela porta.

Tentou tudo o que podia – até disse abra-te sésamo – Mas nada funcionou. Catalina estava desapontada consigo mesma, seria possível que ela não conseguiria abrir uma mísera porta? Porém, não teria mais tempo para descobrir, porque uma das pequenas luzes saiu pelo buraco da fechadura, e pousou sobre o nariz da pequena Catalina, a luz se chacoalhou e soltou um pozinho ainda mais intenso que a própria, o que fez com que a garotinha espirrasse.

Estava na hora de acordar.