SOL DE INVERNO
Saudoso e cheio de coragem, Sidnei voltou à Estância do Regresso para vestir-se do Silidnei e contar as traquinagens do piá cheio de façanhas presentes na alma do gaúcho. De lá, trouxe a mala de garupa cheia de boas prosas, expressões gaudérias, vultos honorários, pitorescos do viver campeiro, que choram na saudade do vivente que conheceu a lida do pago, mas se embrenhou na “selva de pedra” depois que o progresso tosquiou também os rincões de sua infância. Assim sorrimos e choramos, saboreando as bem versadas linhas do livro A Estância do Regresso, com que este gaúcho nos presenteou primeiro.
Mais adiante, num elegantíssimo troteado literário, vimos causos antigos, uns engraçados e outros com certo suspense, contados à moda tradicionalista – com linguajar autêntico –, lembrando a roda de mate em torno do fogo de chão, ou na beira do fogão de lenha comprida num rancho campeiro ao amanhecer ou nas noites de lua cheia. Somente assim para descrever o sorvo doce do livro Bueno..., Se me Permitem..., com que Sidnei nos fez a segunda prenda.
E por gostar de rabiscar a vida, registrando pela escrita a realidade, ele quis presentear-nos com outra pérola de sua pena. Por isto, neste terceiro livro achou por bem descrever em versos os sonhos do gaúcho, a saudade do pago, eternizando os bons costumes, as imagens de um tempo que foi bom, quando a vida andava lenta, quando a prosa gauchesca era o informe da peonada... Naquela época, o palavreado de galpão redigia a cultura e o ginetear pelos campos era aventura comum de todo cristão. Assim descreve um tempo em que não se tinha que pagar para dar boas gargalhadas, que ecoam ainda pelos pagos, embora hoje muito mais na memória.
Noutro instante, com rimas cheias de justiça, ele faz de Sol de Inverno um tributo a personagens que vão deixando marcas na Querência, exaltando em homenagens as virtudes dos amigos, de grandes vultos. Além do canto à mulher – gaúcha ou brasileira – prenda que nos dá a vida, que ensina à piazada o gosto pelo aconchego da família, instrui no tratar com todos, no respeito àquela que será a patroa do coração e nos dará carinho e amor, além de filhos, dos quais havemos de nos orgulhar.
Por fim, ele verseja para as autoridades, rimando críticas ao desmando dos homens de poder, que campeiam na política e mudam o povo com falas lustrosas no rádio, no jornal e na televisão. Gente de dinheiro, guaiacas cheias, vantagens mil, mas que têm empobrecido muitos viventes pelo roubo, pela má administração do dinheiro de todos. E, com isso, pela exploração dos pobres, dos trabalhadores, interditando o futuro das crianças, mesmo que chamando os guris de “esperança”, enquanto lhes tiram toda esperança de um dia ser alguém, pois lhes roubam os recursos, as possibilidades, a dignidade, o pão, a roupa e o teto, quando não o direito à vida.
Sendo assim, Sol de Inverno é um livro para se envolver. Emoção, onde a tradição, a natureza do pago e os bons costumes gaúchos são traçados com graciosa retórica. No meio, boas e justas homenagens, num versejar compassado, entremeado da musicalidade gaúcha e sotaque gaudério. Por último, a vergonha dos governos e poderosos em flagrantes de desgovernança, deixando o solo ser empobrecido, o céu ser envenenado, os rios assassinados, sufocando a Natureza e nos pondo asfixiados num planeta exaurido e sem forças, que perde a vida e vai desfigurando rápido; perde o aconchego e nos matará no fim.
Portanto, mais que uma distração, este livro é uma advertência, um alerta para os saudosos dos antigos dias de frio, quando no bom do inverno nos aquecíamos ao sol – tempos que não voltam mais, pois mesmo o inverno não é mais tão frio. E assim se perdem tantas coisas pelas quais devemos refletir e lutar para que não desapareçam.
Estou certo que lendo este livro você sentirá o embalo das boas lembranças, produzindo doce aconchego em seu coração, seja ele o saudoso ou o iniciante na profissão do romantismo gaúcho.
Wilson Amaral
SOL DE INVERNO é o terceiro livro de Sidnei da Rosa Azambuja, que trata de assuntos gauchescos através da poesia e poderá ser emcontrado em breve nas livrarias de Porto Alegre a Uruguaiana.
A ESTÁNCIA DO REGRESSO é o primeiro livro, que conta o pitoresco da piazada na Estância do Regresso, onde cresceu Silidinei e seus irmãos em meio a muitas traquinagens.
BUENO... SE ME PERMITEM... é o segundo livro, que traz belos causos, impressionantes e engraçados do gauchismo brasileiro.