AINDA RESTA UMA ESPERANÇA (J. M. Simmel)

“Ainda Resta uma Esperança” é um dos livros cuja leitura mais me deu prazer. Talvez porque eu o tenha lido na juventude e ele faça parte da primeira leva de livros que li. E é bem possível que isso tenha pesado para eu ter gostado tanto dessa obra embora este fuja à regra de livros volumosos de J. M. Simmel. Mas talvez como em nenhuma outra obra ele soube, em cerca de 250 páginas contar uma história fascinante, humanística e ao mesmo tempo com humor, tendo como pano de fundo a Alemanha do saída da 2ª Guerra Mundial. Nesse cenário de desesperança, um marceneiro desempregado (Jakob Steiner) que só vê a solução no alcoolismo e no suicídio; um milionário (Sr. Mamoulian) que perdeu tudo e restando-lhe somente a ruína em que mora; uma mulher (Josephine) que fora muita bela e se prostitui para sustentar a si e a filha Ruth. Estes são os personagens dessa história, onde a vida dessas pessoas se cruzam e elas resolvem morar juntas na casa em ruínas do Sr. Mamouliam. Ali eles encontram motivos para superar as dificuldades do pós-guerra na Alemanha em reconstrução e ao mesmo tempo descobrem a solidariedade, o valor interior de cada um e ao mesmo tempo percebem que a solução para os seus males está em cada um deles. É uma história repleta de sentimentos e muito fascinante. Há passagem em que a narrativa mexe profundamente com leitor, como no gesto do Sr. Mamoulian de se humilhar para todos os antigos amigos a fim arrumar dinheiro para comprar um sapato novo para Ruth e, ao consegui-lo, comprar presentes para todos e não gastar um centavo consigo mesmo. O momento da distribuição dos presentes é de encher os olhos de lágrimas. Aliás, esta como quase todas as obras de J. M. Simmel, tem como objetivo mostrar ao leitor que o ser humano é capaz de superar as piores adversidades e contribuir para um mundo melhor. Há frases marcantes e inesquecíveis, como essas:

“Não se deve confiar demais nas próprias forças, nem na força alheia. É sempre melhor confiar na fraqueza e nos erros de si e dos outros”

“Vivemos num mundo muito triste. Se não conseguimos proporcionar um ao outro o máximo de alegria, não sei o que será de nós!”

“Ninguém perde a esperança enquanto estiver vivo”

“Gosto desse mundo que não merece ser acariciado pelo sol, nem açoitado pelo vento...”

“Detesto revoluções. Elas embrutecem, despertam nossos maus instintos”

“A vida é a coisa mais engraçada desse mundo, com exceção do amor, que é mais engraçado ainda”

“Sempre haverá guerra enquanto os homens tiverem medo. O medo é, no fundo, a verdadeira causa da guerra. O medo, não o heroísmo!”

“Existem momentos na vida – respondeu Steiner – em que uma rosa é mais importante que um pedaço de pão”

É por que isso que “Ainda Resta uma Esperança” não é só mais um livro com uma história interessante, mas é acima de tudo um livro capaz de levar o leitor a ver o mundo e o seu semelhante de uma forma diferente. Embora J. M. Simmel tenha sido esquecido nos seus últimos anos de vida, sua obra é vastíssima e ao longo do século XX foi um dos autores estrangeiros mais lido no Brasil. Suas obras não frequentam mais as prateleiras das livrarias, mas podem ser encontradas facilmente em Sebos e na internet.

Edmar Guedes Corrêa
Enviado por Edmar Guedes Corrêa em 20/08/2013
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