Memorial de Hélio Pólvora
Hélio Pólvora escreve uma linguagem fina, culta mesmo, com palavras precisas que exigem certo vagar na leitura. Suas crônicas parecem deixar pistas do ficcionista que também é. Nos textos da coletânea “Memorial de Outono”, o agora cronista faz o vivido e o imaginário marcharem junto, como observou Lêdo Ivo. E ao mesmo tempo se insere no mundo contemporâneo, salpicando ao longo das crônicas sutis referências, normalmente críticas, sobre alguma notícia ou tendência observada recentemente.
Pólvora relembra o passado seu e da região em que viveu na Bahia, com seus personagens característicos, ao mesmo tempo em que se dá conta que a violência urbana e o aprisionamento do ser humano agora também fazem parte da sua realidade. Faz ainda bonitas crônicas de viagens à Portugal e Espanha e deixa revelar a sua atividade de crítico literário analisando a poesia de Drummond. Aqui e ali há boas sutilezas de humor, e muitas outras de lirismo. Mas não é um livro fácil, nos tempos velozes em que vivemos.