As crônicas de gelo e fogo de George R. R. Martin: fantasia épica viciante

Antes de ler, pensava: “É muito livro! Vai tomar muito o meu tempo, e tenho outras leituras... pelas críticas, sei que é bom, e que vou querer ler tudo o mais rápido possível.” E foi dito e feito. Comprei o primeiro livro pensando que gastaria meses para devorá-lo. Engano meu. Poucos dias foram suficientes. Acabei o primeiro, e já fui pro segundo, terceiro, quarto. O quinto, nem aguentei esperar o lançamento aqui no Brasil, que convenhamos, demorou uma eternidade. Li a edição portuguesa que achei em um site de compartilhamento. A “Leya”, editora responsável pela publicação aqui, além de demora, ainda lançou “A Dança dos Dragões” com um capítulo faltando. Teve que fazer “recall”, um verdadeiro desrespeito com os leitores da série.

Me enveredei neste mundo onde o inverno pode durar uma vida inteira, onde um rei, sentado em seu trono de ferro, feito com espadas retorcidas advindas de batalhas épicas, governa Westeros, que é formado por sete reinos. Este é o cenário fictício de um dos maiores sucessos da literatura atualmente: a série criada pelo autor George R. R. Martin: “As crônicas de gelo e fogo”, que até o momento os cinco livros já publicados: "A guerra dos tronos”, "A fúria dos reis”, “A tormenta de espadas”, “O festim dos corvos” e “A dança dos dragões” já venderam mais de 20 milhões de exemplares em todo o mundo e foram traduzidos em 40 idiomas. A saga ainda conta com mais dois livros, que ainda não foram publicados e que são muito aguardados.

O Autor, que nasceu em Nova Jersei em 1948, começou no jornalismo e acabou se tornando roteirista de séries de TV, começou a escrever a série no início da década de noventa, e não parou mais. Fã de carteirinha de Tolkien, o mestre do universo fantástico na literatura moderna, tanto já admitiu ter lido a saga “O Senhor dos anéis” inúmeras vezes, e que há influências dele em sua em sua obra.

Dragões, lobos gigantes, corvo de três olhos, criaturas sobrenaturais, se encontram com os personagens das sete casas que lutam pelo Trono de Ferro, em uma trama envolvente, para leitores adultos, com elementos fantásticos, épicos, carregada de violência e disputas, onde nenhum personagem tem a sobrevivência garantida. Tudo é grandioso, a começar pelo número de personagens. Segundo estimativas são mais de mil. No final de cada livro há uma contagem, uma espécie de censo dos personagens divididos por casas. Desde o “lord” até um simples escudeiro. Desses, a grande maioria tem nome, sobrenome e uma história. Muitas delas bem interessantes, tão elaboradas que dariam outros livros. Seus personagens são tão humanos que é difícil não gostar deles. Erram, sentem medo, tomam decisões certas ou erradas, são tendenciosos e pagam pelas suas escolhas. Criou uma ambientação maravilhosa, que nos permite viajar nas descrições, nos cenários e nas batalhas, contadas de modo preciso e objetivo.

Os livros não são divididos em capítulos mas em pontos de vista dos personagens. As perspectivas de alguns deles é que conduzem o romance. Isso ocorre de forma natural, pois, somente o narrador sabe a verdade, e somente ele tem o poder de mostrá-la na dose que deseja para a compreensão do leitor. Isso proporciona que possamos conhecer a mesma história de “lados” diferentes. A trama é tão envolvente que mergulhamos em suas páginas com a voracidade de um lobo selvagem, e dá para se emocionar de uma maneira diferente em cada uma delas. Você se apaixonará pelo pequeno Bran, ficará muito preocupado com sua irmã Arya, acompanhará o amadurecimento de Jon, sofrer odiará Sansa, e a corja Lannister, terá vontade de matar com as próprias mãos o Joffren, gostará e muito do Tyrion, e torcerá e muito para Daenaerys.

Uma espécie de mundo Medieval, onde deuses são adorados em carvalhos, ou através do fogo, e para espanto de muitos, não há um, mas sete infernos. Onde a ligação entre homem e animal ultrapassa as barreiras físicas. Como se fosse um jogo, peripécias acontecem com frequência, não se pode acreditar em um desfecho no final de um capítulo. Pois no capítulo seguinte , ou no livro seguinte podem haver surpresas. Não se pode prever o que acontecerá, pois o personagem que você mais gosta pode não sobreviver. O mais detestado antes, pode apresentar características de herói, e não ser assim tão ruim, e o que você pensou ser um velho coitado, pode se tornar o pior dos traidores. Ou seja, não confie em ninguém em Westeros, nem no seu palpite em quem vai sentar definitivamente no trono, pois pouquíssimas pessoas sabem sobre o desfecho da história que ainda está sendo escrita, literalmente. Martin disse em recente entrevista que ainda está escrevendo o penúltimo livro"The winds of winter" (ainda sem título em português), isso levando-se em conta que o livro anterior “A dança dos Dragões” levou seis anos para ficar pronto, não sei o que esperar. Especula-se que será lançado em 2014.

A série ultrapassou as páginas dos livros, (chamados por alguns de tijolões, dado a espessura das publicações, que chegam a ter mais de 800 páginas. A Tormenta da Espada o mais “grosso” dos já publicados conta com 882 páginas), e chegou à televisão em uma série produzida pela HBO, canal de televisão norte-americano, com a maioria dos atores ingleses, com locações espalhadas desde o Marrocos até a Croácia, Malta e Islândia, e que já é um dos maiores sucessos da emissora de todos os tempos. Temos um problema aqui, ou melhor Martin tem. Pois com a andar da carruagem, a série que caminhando para a quarta temporada, está contando a história do terceiro livro, que foi dividido em duas temporadas, a terceira e a quarta. Como “O festim dos corvos” e “A dança dos dragões” são livros com tramas paralelas, serão combinados em duas temporadas, então teremos três anos até que a série de TV alcance a de livros. Por questões obvias, penso que não lançaram uma série baseada em um livro antes da publicação do mesmo, por isso penso que os dois últimos livros não vão demorar tanto a chegar aos tão “esfomeados” fãs, que acabam implicando com a versatilidade de Martin que no momento trabalha como roteirista na adaptação da série para a TV, viaja para promover "A dança dos dragões", edita antologias e lança outras séries de livros como “Wild Cards”. Ficam pedindo que ele dedique mais tempo para escrever os livros que ainda faltam.

Se você não leu ainda, e não tem ideia do que estou falando, assista ao primeiro capítulo da série, tenho certeza que irá gostar. Antes de ler o primeiro livro, eu fiz isso. E confesso que foi o empurrão que faltava. A série toda é feita com cuidado magistral, mas o primeiro capítulo é algo singular. Como eu disse anteriormente, tudo nas “Crônicas” é grandioso...

Meire Boni
Enviado por Meire Boni em 21/07/2013
Reeditado em 26/07/2013
Código do texto: T4398058
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