Os três vícios do Guerreiro
 
 Os vícios do Guerreiro se manifestam por determinados comportamentos que ele pratica, geralmente de forma inconscientemente. Esses comportamentos se identificam com rebeldia, a falsa humildade e a manipulação.
 
     A Rebeldia
 
 O Guerreiro tende a desenvolver um aspecto rebelde bem saliente. Isso ocorre pela necessidade imperiosa que ele tem de colocar sua marca em tudo que faz. Essa disposição tem o seu lado útil, mas se for levada a extremos pode tolher a capacidade de trabalhar em grupo e prejudicar a obtenção do resultado, já que nada se faz sozinho.
Pode também levá-lo a comportamentos egoístas e autoritários, onde ele procura valorizar mais suas próprias idéias e necessidades do que o resultado que deve buscar para o sistema. Para que o Guerreiro não prejudique sua eficiência com a rebeldia ostensiva e temerária, é preciso que ele aprenda a observar os três quesitos de controle da sua agressividade, que são o respeito a limites e determinações, a aceitação sincera das idéias alheias e uma clara disposição de assumir a responsabilidades pelas ações e omissões por ele cometidas.
Para isso ele precisa entender que o reconhecimento de suas limitações, a obediência a limites e determinações, a aceitação das idéias alheias e a humildade de reconhecer quando errou, não são um atentado à independência e á sua capacidade de liderar, mas sim um sinal de maturidade. Ao contrário, saber dosar esses aspectos da sua personalidade lhe confere respeito e credibilidade, e acentua ainda mais a sua capacidade de liderança.
 
A falsa humildade
 
Muitas vezes o nosso Espírito de luta é vítima desse aspecto sombrio que existe na nossa personalidade. Sabemos que deveríamos reivindicar a liderança e a autoridade para nós, mas deixamos que outra pessoa o faça. Geralmente é o medo de se expor, de se confrontar com alguém, de sair da nossa posição de conforto, que nos leva a tal comportamento. Quando tememos a responsabilidade que a liderança acarreta, nós tendemos a projetá-la em outra pessoa, para ficarmos na sombra, assumindo a postura do crítico, do julgador ou da vítima que foi preterida, quando na verdade fomos nós que não reivindicamos o nosso direito.
É comum, nesse caso, assumir a postura do “engenheiro de obra feita”, aquele que aparece depois que tudo está pronto, só para apontar o defeito. Não pensamos que quando criticamos alguém por fazer diferente aquilo que nós mesmos deveríamos ter feito, o que estamos fazendo é reivindicar autoridade pessoal por via obliqua, desonesta, chamando para nós os holofotes da atenção, mas sem o devido mérito. Esse é um aspecto bem sombrio do Guerreiro que precisa ser trabalhado. Isso é que chamamos de falsa humildade.
 
Manipulação
 
Comportamento manipulador é aquele que Angeles Arrien chama de padrão de invisibilidade. É típico do indivíduo que se esconde atrás de pessoas de poder, tentando influenciar em suas decisões. Revela medo de expor-se, de assumir responsabilidades, bem como indica baixa auto-estima e falta de confiança em si mesmo. É típico do espírito Guerreiro que está estimulado, mas não encontra coragem nem força para executar a ação. Esse é outro aspecto sombrio do Guerreiro que às vezes se manifesta, impedindo que o arquétipo atue com todas as suas habilidades e virtudes. Reconhecer essas situações é importante para trilharmos com confiança e proveito o Caminho do Guerreiro, extraindo dele o máximo de suas potencialidades.
 
                           O Líder Guerreiro
 
Todos os povos têm o seu líder guerreiro, que normalmente
é diferente do líder político. Ás vezes essas funções se enfeixam no mesmo personagem, mas nem sempre essa é a tônica. Entre os povos mais próximos da natureza a distinção é bastante clara. Existe um líder de guerra, da mesma forma que existem o Pagé, líder religioso, e o Cacique, líder político. Suas funções são bem definidas.[1]
     O verdadeiro Guerreiro se apresenta e reivindica para si a liderança e a autoridade. É um dos aspectos mais importantes do seu princípio orientador, que é mostrar-se e estar sempre presente. Isso exige coragem e destemor. Ele considera a força e a fraqueza como aspectos da sua personalidade e sabe que tanto a vitória quanto a derrota são apenas resultados que se obtém na ação que se pratica. Aceita a primeira com verdadeira humildade e a segunda com sóbria dignidade.
Também não manda ninguém fazer aquilo que ele mesmo não quer ou não tem coragem de fazer. Não se vale de outra pessoa para fazer o trabalho “sujo” para ele, nem de mão alheia para tirar suas castanhas do fogo.
Quando os aspectos sombrios da nossa personalidade estão em evidência, isso significa que o nosso Espírito de luta está em franco desequilíbrio. É nesses momentos que ele precisa ser recomposto em suas bases para que os resultados pretendidos sejam alcançados com mais eficiência e menos custo.
Observe como você está se comportando em relação aos aspectos descritos no quadro abaixo. Se o seu comportamento estiver pendendo mais para o lado esquerdo do quadro, isso significa que o seu Guerreiro está sendo alimentado de preferência pelo seu lado Persona. Se pender para o lado direito é o Sombra que está no comando. Uma e outra situação significa desequilíbrio em seu potencial de luta.
 
          
      PERSONA

 
É excessivamente disciplinado e concorda com tudo.
Mostra-se excessivamente to-lerante e benevolente. 
É excessivamente cuidadoso com os gestos e as palavras.
Faz sempre o papel do “deixa
disso”.
É exageradamente obsequioso.
Foge de tudo que é conflito.
É muito indeciso.
Demonstra excessiva humildade.
Evita assumir liderança e responsabilidade. Falsa humildade.
 
SOMBRA
 
Mostra-se rebelde e indisciplinado.
Demonstra egoísmo e resvala para o autoritarismo.
Torna-se manipulativo e critico contumaz.
Mostra-se cínico e debochado.
Se expressa com dubiedade e
insegurança.
Age temerariamente.
É exageradamente confiante.
Adora uma boa briga.
Quer estar na frente de tudo e de todos.
 
 

           Equilibrando o arquétipo Guerreiro
                      
Um Guerreiro equilibrado pode ser expresso pela metáfora do samurai que procurou um mestre para que este lhe ensinasse a doutrina Zen. “Um sujeito rude como você não pode pretender aprender o Zen”, disse o velho professor. O samurai, ofendido em seus brios pelas palavras do mestre, sacou imediatamente sua espada para feri-lo. “Isso”, disse o velho, "é desequilíbrio”. O samurai embainhou a espada e agradeceu com uma mesura. “ Isso”, disse o mestre,” "é equilíbrio”.
Os exercícios a seguir têm a finalidade de equilibrar o seu Espírito de luta.
 
          Exercícios de acesso ao arquétipo Guerreiro
 
Exercício 1 – Prática diária e habitual
 
1. Passe pelo menos uma hora por dia em contato com a natureza ou ao ar livre.
2. Reserve pelo menos uma hora diária para algum exercício físico, ou então para dançar.
3. Dedique pelos menos quinze minutos diários para analisar
a forma como você lida com acontecimentos inesperados ou desagradáveis.
4. Dedique pelos menos cinco minutos diários para mentalizar seus animais aliados e agradecer a eles pelos ensinamentos recebidos.
 
          Exercícios de Acesso ao arquétipo Guerreiro
 
Exercício nº 1
Coloque-se em pé, com a cabeça ereta, com o rosto voltado para o norte. Os pés devem estar afastados, em distância igual á largura dos ombros. Os olhos devem estar abertos, fixos num ponto ao longe. Inspire e aspire profundamente três vezes, usando o diafragma. Medite sobre as qualidades de Guerreiro que você tem e nas que gostaria de adquirir. Onde gostaria de exercê-las? Para quem você gostaria de ser assim?
Pense nos seus animais protetores e aliados (as criaturas aladas) e agradeça a eles pela proteção e pela inspiração que eles lhe dão.
 
Exercício nº 2
 
Caminhe durante uns quinze minutos, sozinho. Durante esse passeio medite e responda para você mesmo as seguintes perguntas:
 
1. Como você se sente em relação à sua autoconfiança? E em relação á sua autocrítica? Tem optado por se mostrar e estar sempre presente ou tem procurado se esconder, se omitir, se esquivar das responsabilidades?
2. Como tem se relacionado com seus parentes e colegas de
trabalho? Tem sido sensível aos problemas deles?
3. Quantas pessoas você conhece na vida, que mostram Espírito de luta? (Podem ser pessoas reais ou personagens fictícias). De que forma você se identifica com elas?
4. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou? De
que maneira os enfrentou? Com coragem e destemor? Sente que pode enfrentar todos os desafios que lhe forem postos? Se não, o que o limita?
5. Dos três poderes do Guerreiro (presença, determinação e coragem) quais as que estão plenamente desenvolvidas em você e quais não estão? Houve momentos em sua vida em que se sentiu plenamente presente, foi positivamente determinado e se posicionou com coragem? Se houve, reviva esses momentos e analise o que sente a respeito.
6. Que capacidades específicas de liderança você tem? De que forma você as aplica na sua família, nos grupos sociais que freqüenta e na sua vida profissional?
7. Em que momentos e situações você sente que perde seu poder de liderança? Que tipo de pessoa o inibe? Onde e com quem você perde a sua autoconfiança?
8. Existe alguma parte em você que não quer ou não acredita
que você seja capaz de agir com plenos poderes de Guerreiro? Há conflito de crenças em você? Alguma parte de você ainda tem medo ou receio de assumir liderança, mostrar-se presente e transformar em ação seus pensamentos e palavras?
9. De que forma você dedica honra e respeito a si mesmo e aos outros? Houve algum momento em que você se violentou, desrespeitando as suas crenças e a sua personalidade por medo de algum castigo, ou por conta de alguma recompensa?
10. Em que situações da sua vida você se sentiu dominado pelo seu lado Sombra? Quando, onde e com quem isso parece ocorrer com mais freqüência? E pelo seu aspecto Persona?

[1] Nas nações modernas, esse papel é exercido pelo comandante militar. Mas entre os povos ligados á natureza essa relação envolve não só aspectos hierárquicos, mas também místicos e religiosos, que não existem nas primeiras.



do livro 'CÓDIGOS DA VIDA"- JOÃO ANATALINO- CLUBE DOS AUTORES-2011
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/07/2013
Reeditado em 10/07/2013
Código do texto: T4380385
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