OS TRÊS MOSQUETEIROS, de Alexandre Dumas (pai)
Nunca Subestime o Rancor de uma Mulher
Quando se fala em romance de capa-e-espada o primeiro título lembrado é Os Três Mosqueteiros, do francês Alexandre Dumas. E, comprovando que não é de hoje a tendência a trilogias, o livro publicado em 1844 teve duas sequências devido ao seu enorme sucesso: Vinte Anos Depois (1845) e O Visconde de Bragelonne (1850), este último trazendo a famosa sub-história O Homem da Máscara de Ferro. Chamo de sub-história pois a profusão de várias aventuras em sequência é um dos pontos altos desse tipo de literatura que, tal qual Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, coloca o leitor como que acompanhando uma novela na tevê.
Dumas mistura personagens históricos reais como os reis da França Luís XIII e Ana de Áustria, o Cardeal Richelieu e o Duque de Buckingham com personagens fictícios como D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis. Contudo, dos personagens inventados, é impossível não se fascinar com a Milady de Winter, que rouba a cena em diversos capítulos. Espiã do cardeal, ela é ludibriada por D’Artagnan e lhe jura eterna vingança. Suas palavras soariam como mero rancor feminino se ela não fosse uma das vilãs mais perigosas, sedutoras e inteligentes em toda a literatura, o arquétipo da mulher fatal. O jovem aventureiro se arrepende amargamente e passa o resto do livro tentando salvar sua vida das armadilhas de Milady.
No cinema, a vilã foi interpretada pelas divas Edith Méra (1932), Antonella Lualdi (1969), Faye Dunaway (1973 e 1974), Kim Cattrall (1989), Rebecca De Mornay (1993), Arielle Dombasle (2004) e Milla Jojovich (2012), em muitos filmes cujo nome Milady consta no título, tal a sua importância no enredo.
Retirando as tendências sociopatas da personagem – de não se proibir nada para alcançar seus objetivos – pode-se dizer que Milady é uma mulher à frente do seu tempo: é independente profissional e sexualmente em uma época onde só algumas mulheres (da realeza, quando muito) o eram, é ela quem escolhe os homens, as aventuras e os aliados que deseja; é temida e respeitada por aliados e inimigos; sabe usar como ninguém ferramentas essencialmente femininas, como o charme, a sedução e o engodo, tanto para atacar quanto para se defender. Muitos leitores que se apaixonaram por ela afirmam que sem a sua presença Os Três Mosqueteiros seria apenas mais um romance narrando bravatas masculinas, sem que, sob a superfície, fosse também um romance de flerte, adagas e veneno.