SÍTIO TRÊS MARIA

Num pontinho inexistente no mapa do Brasil, mas que podemos orientarmos por estar na divisa de dois gloriosos estados, um pela sua grandeza de dimensão geográfica, de tão grande que e, foi dividido em dois, Mato grosso, e Mato Grosso do Sul, o outro estado ,São Paulo, que se destaca pelo seu desenvolvimento econômico, social, industrial, cultural, enfim poderíamos chamar de capital do Brasil, e como marco divisório entre esses estados esta o majestoso e imenso rio Paraná, que apesar do seu complexo hidrelétrico de Urubupunga suas barragens : ilha solteira e jupiá, e outras usinas geradora de energia elétrica para região, e todo Brasil, mesmo com toda essa metamorfose ocorrida na natureza, o rio segue seu leito natural, indo desembocar nas terras paraguaias, e segue Argentina a dentro.

As terras selváticas, eram férteis e bastante produtivas, e em parte cultivadas por seus tradicionais habitantes colonizadores.

Em meio aos grandes proprietários de terras {latifundiários} que sobressaiam, demais a essa imensidão, eram divididas em pequenas propriedades rurais: chácaras, sítios , minifazendas, entre esses estava o Sitio Três Maria, nome esse dado devido a um fato ocorrido no córrego que cortava o sitio ao meio, e suas águas que iam se juntarem ao glorioso rio Paraná.

Dizem os antigos moradores daquela redondeza que, os primeiros proprietários daquela nativa e selváticas terras, tinham três filhas, únicas e trigêmeas, univitelinas {nascidas da mesma placenta}, e que um certo dia essas meninas sumiram.

Os pais e toda vizinhança organizaram buscas por toda parte, dias e dias, meses a fio, e nada de encontrarem, nem mesmo se quer vestígios das pobres coitadas.

O acontecido foi tão forte e intenso que, abalou toda a estrutura do casal e suas vizinhança, afetando a saúde deles, suportaram por algum tempo, mas logo suas forças foram se esgotando, viviam tristemente por fim ficaram doentes, em conseqüência vieram a falecer desgostosamente com diferença de dias um para o outro, tudo isso em função da grande desgraça que afetaram suas pobres vidas.

Apartir desse tempo para cá, surgiram muitas estórias mirabolantes contada pelo povo, e que perduram até os dias de hoje, mas como a ultima vez que dizem que viram as meninas, estavam brincando tomando banho nas águas do córrego surucucu, então os povos começaram a falar que as águas traiçoeiras desse córrego eram malditas, como uma cobra, e tinham engolido as pobrezinhas inocentes, apartir do acontecido mudaram o nome do córrego de surucucu, para córrego três Maria em homenagem a elas, Maria Helena, Maria Luiza, Maria Lúcia, e assim começa a estória do sitio três Maria.

A cidade mais próxima daquela redondeza era Iacanga, com seus quase mil habitantes que viviam do cultivo da roça, um laticínio, onde se beneficiava o leite da região, o comercio do varejo da cidade, mas o que realmente era o esteio, e que sustentava a cidade era uma usina hidrelétrica, ou seja o complexo hidrelétrico de Urubupunga, formado pelas barragens de Ilha Solteira e Jupia, o canal de Três Irmãos.

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A VELHA ESTRADA DE TERRA QUE CORTAVA AQUELAS SERTANIAS, DELINEAVA UM RISCO QUE PARECIA INFINITO, ONDE DEFINIA-SE OS LIMITES DAS PROPRIEDADES DE TERRAS, OS SEUS MINIFUNDIÁRIOS E LATIFUNDIÁRIOS PECULIAR DAQUELA REGIÃO.

ANTIGAMENTE ERA ASSIM, NÃO EXISTIAM FAZENDAS, E FAZENDAS, BASICAMENTE ERAM UMA COMUNIDADES DE VÁRIOS SITIANTES RESIDENTES,{digo sitiantes residente, porque eram pessoas que moravam ali, viviam da terra, diferente do que se vê nos dias de hoje, virou moda, comprar um pedacinho de terra, para passar uma temporada de ferias, ou sei lá só para se exibirem}ELES CULTIVAVAM SUAS TERRAS PRODUZINDO OS MAIS VARIADOS TIPOS DE ALIMENTOS, ISSO ERA HERDADO DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO, ERA UMA LEI, TRADICIONAL FAMILIAR.

EXISTIA UMA HARMONIA ENTRE OS SEUS VIZINHOS, COM DATAS CERTAS, PARA SUAS FESTIVIDADES, OU MESMO PARA SUAS VISITAS CORDIAIS, ONDE SE COMENTAVAM AS NOVIDADES, QUE IAM ACONTECENDO NO MUNDO AFORA, ISSO QUANDO UM DELES IAM A IACANGA, A CIDADEZINHA MAIS PRÓXIMA DO POVOADO.

RADIO, TELEVISÃO, JORNAL, MAQUINAS AGRÍCOLAS, ETC... ESSAS MARAVILHAS DA EVOLUÇÃO HUMANA, AINDA NÃO HAVIAM CHEGADO AO CONHECIMENTO DOS MORADORES DAQUELA REDONDEZA, PRINCIPALMENTE NO SITIO TRÊS MARIA.

A VELHA ESTRADA DE TERRA QUE LIGAVA AS CIDADELAS INTERIORANAS DAQUELA REGIÃO, A ESTRADA DE FERRO {O TREM}, A ESTRADA BOIDADEIRA, OU OS TRILHOS QUE O GADO FAZIAM CORTANDO OS PASTOS MARCANDO UM CAMINHO PARA AS SUAS PROCISSÕES ROTINEIRAS, ISSO PARECE COISA TEATRAL, MAS EXISTIA E EXISTE ATE HOJE EM ALGUMA REGIÃO DESSE IMENSO E MARAVILHOSO PARAISO, CHAMADO BRASIL.

HA UMA HORA MONTADO NO LOMBO DE UM ALAZÃO, A TODO GALOPE, CHEGAVA-SE A CIDADE DE IACANGA, POVOADO MAIS PRÓXIMO DO SITIO TRÊS MARIA.

-A ROTINA DA ROÇA-

Era quatro horas da manha, de um domingo friorento do mês de maio de mil novecentos e cinqüenta e cinco. o galo ainda não havia cantado, para anunciar a aurora de uma novo dia, que raiava com todo o seu esplendor, em especial para a família Ramos que acabavam de despertar.

Com a lida do dia a dia, rotina desgastante de uma dona de casa, Dona Ziza começava a executar as primeiras tarefas, daquele primeiro dia da semana o domingo, que ia ate no sexto dia, pois no sétimo, o sábado era sagrado, guardava-se religiosamente, isso segundo os preceitos bíblicos, velavam respeitosamente ao Senhor nosso Deus.

Labutava ela na peleja dos afazeres da cozinha, trabalhava nos preparativos do café da manhã, abanava pausadamente a tampa de um caldearão, na tentativa de reacender o velho fogão de lenha.

Enquanto o patriarca da família Ramos, o senhor José Bento, afiava suas ferramentas de trabalho, aguardando sair um café fresquinho, passado a pouco, no coador de pano ,saco de açúcar, objeto este feito pela habilidosa mão de Dona Ziza.

Joanito José Bento Ramos, o filho primogênito, o Nito querido, que chegara do curral, e entrava cozinha adentro, saudando sua mãezinha e pedindo-lhe a benção, trazia as mãos um balde de leite de vaca fresquíssimo, tirado a pouco, para o consumo da casa, enquanto mimosa , a égua mansa, animal predileto de Nito, pois ela alem de ser muito dócil, era super destrada, parece que ate lia o pensamento do seu condutor, bastava uma sinal, um gesto para ela prontamente obedecer, executando o comando, aguardava pacientemente de cabeça baixa, abanando o rabo, espantando as moscas atrevidas que vinha a lhe perturbar suas partes intimas, ficava imóvel assim como se estivesse meditando no percurso que tinha de fazer pra levar os tambores de leite na porteira de entrada do sitio Três Maria.

Antes do nascer do sol, eram para estarem todos de pé, para pegarem no batente pois, segundo o senhor Ramos , ele foi criado nesse sistema, e queria que a sua família conservasse os bons costumes herdados , provindos de seus antepassados.

Em pouco tempo já estavam todos prontos a caminho da roça, que não ficava muito retirado da casa onde moravam.

Trovão o cachorro perdigueiro caçador dos bons, corria a frente em ziguezague, farejando tudo que via pela frente, e as vezes esperava a turma que vinha caminhando compassadamente, ele vinha roçando as pernas do Juquinha, o caçula da família, que embora não tivesse estrutura física nem idade suficiente para o serviço braçal, mesmo assim ia todos os dias com seus irmãos par ir se acostumando com o estilo de vida da família, isso segundo o seu pai Bento, e também dizia ele, só assim não ficava incomodando sua mãe nos seus afazeres.

Interessante a energia que movia aquela família trabalhadora, mesmo acordando todos os dias muito cedo, isso fazia com que fossem dormir com as galinhas, esse e um modo de dizer no interior, a noite vinha, todos iam pra cama, pois não tinham sequer um radio de pilha para ouvir, já que energia elétrica não havia chegado a aquelas redondezas, e no mais o Sr. Bento não era nada a favor dessas maravilhas da evolução humana, ele achava que era mais maléfica do que benéfica ao ser humano, por isso ele repugnava veementemente, e do mais não existia nada que pudesse distraí-los, o único barulho que se ouvia era o cantar dos grilos, o rosnar de algum animal selvagem, os piscas , piscas dos vaga-lumes que passavam sobre nossas cabeças, a constelação de estrelas, e quando na lua cheia o uivo arrepiante de um lobo clamava em nossos ouvidos, ou em noite chuvosas que ficávamos deitados quietinhos em nossa caminha feita de colchão de palha de milho, ouvindo a sinfonia de sons que faziam os pingos dagua que caiam do telhado , e a cascata de goteiras que faziam uma batucada melódica propicia para dormir um sono tranqüilo, ao som da natureza agradecida pela dádiva recebida do nosso bondoso Deus.

A noite vinha, apagava-se a lamparina fumacenta movida a óleo, que empretejava todo o telhado daquela casa, pois não tinha forro e todos nós já estávamos acomodados nos nossos singelos aposentos, como era uma casa simples assim como os utensílios que compunham a mobília: guarda roupa, mesas, cadeiras, camas, e o colchão que era feito de palha de milho [esfarpada] esfarrapada, que fazia um chiado quando nos se mexiam na cama, já os travesseiros eram maravilhosamente feito de paina [frutos de paineira] e revestidos com panos de sacos de açúcar que a dona Ziza havia feito, isso fazia com que tudo que compunha aquela casa, ou fizesse, parte dela se tornasse singelo, inclusive seus moradores, que por sinal o próprio Bento ajudou na construção da mesma, assim que se mudaram para o sitio, foi tudo construído com muito suor, e luta, mas principalmente com muito amor e determinação.

A cultura de café ficava a uma boa distancia da casa, que logo apos tomarem o café matinal partiam em fila indiana formando uma verdadeira procissão familiar.

O Sr. Jose Bento puxava o cordão, seguidos dos demais em ordem decrescente, formando uma verdadeira escada humana, já que a diferença de idade de um filho para o outro era religiosamente um ano.

Entretido cantando seus hinos religiosos, orando em silencio, o tempo passava rápido, mal o sol despontava, lá vinha Joanito montado no ventania, trazendo o almoço e o café do meio dia, leite de vaca e polenta, milho cosido, mandioca frita , e outras iguarias mais, produtos estes, frutos da bondosa mãe terra, que nos ofertava graciosamente, pois era típico daquela região, devido a sua fertilidade exuberante.

A frondosa figueira, com sua sombra convidativa para um descanso, nos proporcionava um abrigo do sol ardente do dia, ali embaixo onde todos fazíamos as nossas refeições, mal acabamos de comer, papai gritava chamando todos para o reinicio do trabalho, com exceção de Erondina, chamada carinhosamente de indiazinha, por causa de sua pele morena cor de canela, cabelos pretos brilhante e seus olhinhos meio puxadinhos, parecendo dois peixinhos, assim mesmo como uma mestiça de índio com branco, ela estava com ar de cansada, ofegante com falta de ar,

-Joanito interviu.

-Papai, a indiazinha não esta boa, olhe, mal esta conseguindo trabalhar, veja o esforço que ela faz para respirar, coitada da maninha, morro de pena dela.

Enquanto Nito falava com seu pai essas coisas Ero sentia suas dores se contorcendo toda, alguma coisa estava errada com ela, pois, o ar lhe faltava, era um aperto no peito para respirar, uma pressão na cabeça, parecia que ia explodir, uma sensação estranha, parecia que a qualquer momento desmaiar, ou melhor, pensava: -vou morrer, vinha agora a perturbar o medo da morte, ofegante estava suando frio de tanta ansiedade daquela situação, por mais que se esforçasse para executar a tarefa que lhe incumbia, mais difícil se tornava para ela, a ponto de não resistir, desistir de tudo, largou a enxada de lado, pois as duas mãos na fonte, agachou-se ficando ali imóvel.

O pai Jose Bento que estava atento a todos os movimentos dos filhos, viu que sua filha não estava boa mesmo, pois ela não acompanhava o ritmo dos demais, isso ele já a observara a alguns dias, e hoje parece que agravara ainda mais.

Ao ver sua filha, ali imóvel agachada com as mãos na fonte preocupou-se ainda mais, achou que o caso podia ser mais serio do que ele pensava, concordou imediatamente com seu filho ordenando-lhe.

-Realmente Nito, ela não esta boa, isso vem acontecendo já a dias, eu venho observando-a, não esta rendendo no serviço, esta com uma ar abatida de doente mesmo, quero que monte no ventania agora mesmo, e leve ate sua mãe, vá ligeiro e diga pra sua mãe, não perder tempo e ir direto ao Dr. Dagoberto na cidade, vê se apresse que parece que o caso dela carece de uma certa urgência, pois a ocasião lhe pede, vá pra ver se ele descobre o que essa menina tem, ou será que e só manha dela, dengo, só para não trabalhar na roça, e quer ficar com sua mãezinha.

-Ah! Pai, o senhor vai me desculpar, mas eu acho que o caso dela merece uma atenção maior, ela não e de ficar fazendo manha pra serviço, ela e uma guerreira, nos afazeres da roça como de casa, Ero sempre foi uma trabalhadora exemplar, e adorável irmã.

-Ta bom filho, ta bom, chega com esse discurso de advogado familiar, então vá logo, vá ligeiro, já que o caso e tão necessitada assim, leve-a para sua mãe tomar as devidas providencias.

- Ta bom pai, Deus...

Partiram os dois, Nito e Ero montados no lombo de ventania, saíram a todo galope, em poucos segundos desapareceram de vista, levantando a poeira da estrada.

Dona Ziza que estava no córrego três maria, agachada sobre uma tabua e uma bacia enorme de roupas sujas, esfregava freneticamente, quando ouviu e viu ao longe a poeira que levantava das patas do cavalo que vinha a todo galope, ela estranhou, logo preocupou-se, dizendo pra si mesma.

-Quem será que vem lá, com essa pressa toda?,

Logo avistou que alguém acompanhava Nito na garupa do ventania, preocupou-se. ainda mais, se pos de pe imediatamente, enxugando as mãos na barra da saia do seu vestido, foi como se quisesse ir ao seu encontro querendo encurtar a distancia, visivelmente perturbada, com a visita inesperado, coisa boa não era, para o Nito vir aquela hora, e naquela pressa toda, Oh meu Deus, o que será desta vez, nos proteja Senhor.

-Quem esta vindo lá com meu Nitinho, quem será?

Os maus pensamentos fluiam, alguém foi picado por cobra?, Deus não permita, ou será outra coisa, pois a mão na testa e matutou...

Quando se aproximaram mais um pouco, dando para se ter uma visão melhor de quem vinha na garupa, disse.

-É Ero, todo dia essa moleca se queixa que esta com dores: e dor no peito, dor de cabeça, e o ar que lhe falta, quando respira diz que dói o peito, não consegue fazer as coisas direito, essa canseira dela não e normal, não agüenta fazer nada a coitadinha, preciso saber o que se passa com a bichinha, eu sabia que era caso de medico.

Num segundo chegaram a beira do riacho, onde estava Dona Ziza aperreada, Ventania chegou bufando, balançando a cabeça, pra cima, pra baixo, e Nito gritando, oh, ah! Ah!, Sossega cavalo, quieto ventania. Nem apearam, do cavalo que ficava pisoteando o chão, como se percebesse que o caso era de urgência, Nito quis falar, mas sua mãe interpelou.

-O que aconteceu com minha filhinha, Nito? Disse a mãe com voz aflita, desça daí minha filha, venha cá com sua mãe.,

Mas Nito interviu ao pedido da mãe dizendo-lhe. -Mãe e melhor a gente nem apear , não precisa ficar tão aflita assim, não aconteceu nada de grave , apenas a maninha que esta com essa crise que ela sempre tem, e hoje parece que deu uma piorada, o pai achou melhor a senhora levá-la ao dr. Dagoberto pra ver se ele descobre que mal afeta a minha maninha.

-Ta bem filho, já imaginava que isso ia acontecer um dia, mais cedo ou mais tarde, eu tenho observado ela , que não esta boa a dias, se é assim ,leve-a para casa que eu já estou indo, eu não me demoro, vou só acabar de lavar essas pecinhas de roupas sujas e logo me vou.

Partiram, não tão apressados como vieram, embora ventania animal bom como sempre, aceitava qualquer marcha que o cavaleiro exigia.

Chegando em casa, Joanito percebeu que sua mana estava com uma fisionomia ainda mais abatida do que quando saíra, a respiração mais arrastada, parecia que o vento da corrida agravou a crise, mal conseguia respirar, a coitada estava suando frio, em seu rosto uma expressão visível de sofrimento, de dor, transformava totalmente aquele rostinho angelical que possuía, isso deixava seu irmão ainda mais aperreado, olhava pela janela para ver se sua mãe já vinha vindo, nada, assim meio perdido, vagando par lá e par cá, desnorteado feito barata tonta, quase entrando em desespero, preocupado com aquela situação, que para ele era inusitada, realmente estava muito aflito, não sabia o que fazer e nem por onde começar para ajudar sua Irmã sair daquela situação, ou pelo menos suavizar aquela angustia de dor que sentia sua maninha, ate parecia que era com ele mesmo que estava acontecendo.- Oh meu Deus que situação!

Nito - disse Ero com voz baixa sem forcas, maninho essa dor no peito esta aumentando, parece que vou morrer sufocada, acho que não vou agüentar.

-Sem saber o que falar, Nito olhava pela janela pra ver se sua mãe já vinha, e disse:

-Calma minha maninha querida, agüente firme, tenha Fé em Deus, que a mamãe já vai levar você ao medico, e ele vai ver o que você tem, e te dará um remedinho para você sarar, olha se deite um pouco naquela rede ali. Descanse, relaxe, que vou botar um pouco de água no fogo, para você se lavar, tomar um banho, fique calma, mamãe vem já, já, ta bom?

Nito nem esperou a resposta de sua Irmã, correu foi pegar uma vasilha para apanhar a água, desceu o balde poço adentro, com uma velocidade tamanha que só ouvia o zunido do sarilho girando, girando desembestadamente, poço a dentro numa velocidade tanta que mal conseguia frear com as mãos, quando escutou o estalido do balde batendo na água, ta ah ah... rapidamente ele manivelou de volta, trazendo a tona um balde de água derramando pelas beiradas.

Ero tinha acabado de se deitar, quando chegou sua mãe com uma arrodia de pano na cabeça sobre uma bacia abarrotada de roupa branquinha, nem parecia a mesma de outrora, nem colocou no varal, viu sua filha largada na rede, parecia ate que tinha desmaiada, com um cor pálida, foi direto arrumar-se para irem ao médico, antes deu uma olhadela no céu, procurando o sol para se orientar e calcular as horas do dia, baseado na inclinação que sua sombra fazia no chão, pensou... deve ser umas onze e pouquinho, tenho que me apressar, se quiser pegar a jardineira do meio dia.

Enquanto elas se aprontavam, Joanito tirou a cela do ventania, e preparou a carroça para levarem sua mãe e Irmã até a estrada, no caminho encontraram o Sr Irineu seu vizinho, que vinha da cidade e para encurtar caminho cortava pelo meio do sitio três Maria.

-Paz do Senhor Irmã Ziza, irmão Joanito e você Ero, estão tudo bem, a menina me parece um pouco abatida, esta de cor pálida, o que ela tem Irmã Ziza?

Dona Ziza respondeu-lhe apressadamente

-O meu irmão estou aperreada por demais, agora mesmo estou levando ao medico a saúde dela não anda boa, disse com ar de preocupado com a situação, orem por ela irmão, Deus, foi se despedindo para não perder tempo, e a jardineira.

-Orarei sim, minha Irmã em Cristo Jesus, ainda hoje no trabalho lá em casa, pedirei pela saúde dela, e Deus ha de compadecer de nos e atender os nossos pedidos, como sempre nos atendeu...

Perdoe-me irmão a pressa não é falta de educação, é que preciso mesmo pegar essa jardineira do meio dia, pois, se perdê-la só as quinze horas, ai tenho que ir de carroça pra cidade, Deus...

Sim Irmã Deus, vá ligeiro, pois ela já deve estar vindo de volta, pois eu vim nela da cidade, fiquem na paz do Senhor Jesus irmãos, mando lembranças para o Irmão Bento, diga para ele que acenavam para Nito, que já estava de braço levantado gritando.

-Logo mais a tarde eu volto aqui na porteira para pegar vocês, Tá bom? Vão com Deus, e vê se volta boa Erozinha, minha irmãzinha querida do coração.

O consultório do Dr. Dagoberto ficava na avenida principal da cidade, onde a jardineira passava em frente, era apear e dar de cara com a porta do consultório.

-Bom dia senhorita Sandra, como vai você, tudo bem? disse Dona Ziza a secretaria do Dr.

-Bom dia Dona Ziza, respondeu-lhe com um sorriso simpático no rosto angelical de moca educada e estudada, ola Erondina, eu vou bem e com vocês?

Ero toda acanhada, embora ela tivesse melhorado um pouco da crise disse:

-Eu to doente Sandra, Estou mal.

-Isso não deve ser nada grave, você vai ver o Dr. Dagoberto já vão te atendê-las, sentem-se um pouco ali naquele sofá, fiquem a vontade, vocês aceitam um café ou suco, uma água?

-Sim Sandra, vou aceitar um copo de suco, esta fazendo muito calor e aqui na cidade e tão abafado, parece que não tem ar, nem vento, e tão diferente do ar la da roca.

-Você vai querer tomar o que Ero?

-Não, não vou querer tomar nada não, estou sem vontade, quando estou desse jeito me tira toda minha fome e sede, tudo que eu quero e ficar boa, estou ansiosa, cadê esse medico?

-Tenha calma , pois daqui a pouquinho o Dr., já vai te medicar, tenha paciência.

Sandra pediu licença as visitas e entrou por uma porta lateral que dava acesso a copa do consultório, para pegar o suco para a Dona Ziza, o Dr. Dagoberto que saia de sua sala de cabeça baixa, concentrado lendo um papel que trazia as mãos disse:

-Sandra, envie esse documento para... foi quando percebeu as visitas

-Dona Ziza!!!, disse ele com os olhos arregalados , com ar de surpresa,apertou-lhe a mão em cumprimento, dando-lhe um osculo na face esquerda, dizendo em seguida, como vai a senhora e sua filha, tudo bem, quanto tempo não nos vemos, como vão indo seu esposo, os meninos?

-Comigo, meu marido e os meninos vão indo tudo bem, mas minha Erozinha que não anda muita boa doutor, e por isso que estamos aqui.

-Vamos entrar e veremos o que se passa com a menina, venham.

Depois de analisá-la cuidadosamente, percebendo a anormalidade nos batimentos cardíacos da menina, disse:

-Vou encaminhá-la para tirar umas radiografias, para depois eu darei a minha palavra final, dependendo do resultado, talvez ela tenha que passar por uma cirurgia.

-C i r u r g i a!, disse Dona Ziza boquiaberta, mas e tão grave assim, o que ela tem, pelo amor de Deus, fale doutor, e tão grave assim?, valha-me Deus., Oh mãe bondosa me ajude.

-Ainda e cedo para falar qualquer coisa, não quero me precipitar, falar a esmo, eu preciso antes de qualquer coisa, preciso desses exames, para que ele me possa fornecer alguns dados importantes para a confirmação dessa suspeita, só assim depois de analisarmos cuidadosamente esses exames, e que poderei dar-lhe a minha palavra final,e que na verdade eles são uma fotografia do órgão afetado, o coração, e avisando de antemão, não para ficar assustada, mas sim para ficar preparada , porque talvez ela tenha mesmo que passar por uma cirurgia, e recomendação medica e que faca enquanto a paciente e jovem, pois será mais eficiente o tratamento, e a garantia do sucesso.

-Ah! Dr. tomara que não seja preciso operar, porque do contrario, não sei se o Zé vai aceitar, por causa da religião e ele tem uma cabeça dura, acho que não vai entender.

-Vamos ver Dona Ziza, vamos ver, tomara a Deus que não seja preciso, olha. aqui esta a guia de encaminhamento par tirar os exames as chapas dos pulmões, e eletrocardiograma, Tá tudo ai explicado, ate como se faz para chegar lá no laboratório, basta levar esse papel a Senhora ou quem quer que for acompanhar a menina, no dia marcado para fazer os exames, depois de feito retorne aqui, e gostaria que viesse junto o seu esposo para eu explicar melhor para o mesmo, o que se passa com sua filha, e ver se ele entende, tá bom? Vai dar tudo certo, tenha Fé.

-Tudo bem doutor vamos ver, Deus nos ajude. Ate logo, tchau Sandra, fiquem com Deus, bom serviço, obrigado pelo suco, estava ótimo, vê se aparece um dia la no sitio para passear?

Qualquer dia dona Ziza, que eu estiver de folga, farei um passeio ao seu sitio, estou precisando mesmo tomar um pouco de ar puro, ver aquelas lindas paisagens.

A consulta foi rápida, logo já estavam de volta pra casa.

No alto do morro do Sitio Pau d,alho, já avistava a carroça perto da porteira do sitio, Ventania pastando uma grama verdinha que parecia um tapete, quando apearam, encontraram a carroça, Ventania, mas cadê o Nito, olharam pra lá, pra cá, nada de Nito, pensou consigo mesma... Ele não deve estar longe, deve estar por ai, olharam mais ao longe, e nada de Nito, Dona Ziza começou a se preocupar, como todo coração de mãe protetora, basta perceber uma pequena ausência dos filhos já se alvoroça toda, disse pra Ero.

- Fique sentada ali embaixo daquela arvore, pois tem umas sombras gostosas, que eu vou campear por ai, ve se encontro o seu irmão, não vou longe Tá, não vou demorar, já volto, Tá bom?

Ero não disse palavra alguma, apenas balançou a cabeça pra cima e pra baixa em afirmação que havia entendido, estava ela meio aérea, devido ao remédio, calmante que o dr. Dagoberto medicou, o efeito foi rápido, ela nem parecia aquela moca de algumas horas atras.

Dona Ziza andou um pouco e começou a gritar, J o a n i t o, J o a n i t o... esperou um pouco e nada, não ouvia-se nada, apenas os cantares dos pássaros, embora distante.

Derrepente passou uma idéia por sua cabeça.

-Esta na época de manga madura, esse menino deve ter ido lá em baixo perto do córrego, lá tem muitos pés de mangas, uma mais gostosa do que a outra, e ele e louco por manga, rumou em direção do mangueiral, andou um tanto e gritou novamente,

-J o a n i t o , fez duas conchas com as mãos sobre as orelhas, para captar melhor o som, logo em seguida ouviu ao longe um grito, reconheceu que era a voz de Nito.

-Estou aqui embaixo no brejo mamãe, já estou indo.

Daqui a pouco lá vinha ele com sua camisa fez uma sacola, que a encheu de mangas.

-Filho, você mata a sua mãe do coração, que susto você me deu, já estava preocupada contigo, achava que tivessem raptado meu filhinho, Oh filho não faca isso com sua mãe.

-Ah! mãe, achei que vocês iam demorar, então resolvi botar o ventania para pastar um pouco, e fui apanhar umas mangas lá no brejo, esta na época delas e estão se perdendo, o gado e que aproveita tudo, e com a minha maninha, tudo bem com ela?

-É! filho, o Dr. disse que temos que fazer outros exames com ela, mas vamos embora, lá em casa a gente conversa melhor, estou morrendo de fome, tive que sair as pressas como você viu, não deu tempo nem de comer nada.

Ih! agora que me lembrei, na correria devido a urgência do caso, fiquei tão atordoada que nem botei as roupas no varal para secar, deixei a bacia e tudo do mesmo jeito que a trouxe, justo hoje que quis aproveitar o dia ensolarado para lavar as roupas, já que nesses dias de frio, o sol quase não aparece, quando não aquela chuva fininha, garoa, vamos meu filho.

-Joanito, você levou o café da tarde pro pessoal na roca? Olha que cabeca a minha, o que não faz uma pessoa no desespero, esquece os compromissos ate os mais rotineiros como esse, não devia ter esquecido, sabe oi seu pai como ele e vai falar um montão não minha cabeça, e eu não tou a fim de ficar escutando as reclamações de seu pai, também pudera ne filhos a ocasião era de desespero, e a pressa fez com que eu esquecesse, sai naquela correria toda que nem deixei preparado, sabe como e o seu pai, ele me mata se eu esquecer de alguma coisa, tenho que me virar em dez, se for preciso para dar conta do recado.?

-Sim mãe, a senhora pode ficar sossegada, eu levei o café da tarde pro pessoal, e cheguei ate adiantado la, e sua roupa lavadinha, já deve estar sequinha, porque seu filho mais veio botou no varal.

-Oh! meu querido filho, tenho muito orgulho de você, não e à-toa que Deus me mandou você como primeiro dos filhos, para me ajudar nessa lida, sozinha sei que não ia agüentar o tranco, sinto muito orgulho de você por ser meu filho. Abraçou-o carinhosamente, dando-lhe um beijo na face e em seguida olhando para o céu dizendo:

Obrigado Senhor meu Deus, por essa dádiva, um filho prendado, e pena que daqui a alguns anos, vai querer se casar, que e natural, e ir para longe de mim, ai se cumprira o ditado, não somos donos do nossos filhos, criamos para os outros, mas vou falar com seu pai, e ver se ele compra o sitio de Jucao para você, só assim o pintinho fica perto da galinha, que cobrira com suas asas protetoras quando delas precisar, quando se sentir fraco ameaçado a mãe estará sempre perto para te proteger, não e meu filho, você quer?

-Claro que sim mamãe, eu nunca vou deixar você sozinha, nunca...

Ero ouvia tudo isso calada, mas seu coração batia cada vez mais forte pelo filho do Jucao, o Antônio, era ele o príncipe encantado dela, que morava no sitio ao lado, e que o encontrava as escondidas no meio da roca.

Deus me livre se seus irmãos ou seu pai soubesse disso que se passava no seu coração, não era bom nem pensar alto, pois eles podiam ouvir.

Uma vez ou outra, eles se encontravam pelo caminha, ou nos carreador de milho, eram momentos mágicos, nem nas mãos se tocavam, bastava apenas um olhar e conversassem um pouco, já eram delirantes para eles, e o bastante para afirmarem que queriam levar uma vida junta, e claro se seus pais consentissem.

Da parte da família do Antônio, ate que tudo bem, já que o motivo era religião, eles eram de origem católicos, e da parte de Ero eram adventistas do sétimo dia, religião muita rigorosa, principalmente por parte de seu pai o Sr. Jose Bento, que era o líder da Igreja, muito querido por sinal, respeitado eu diria ate adorado como um santo homem vivo.

Passado alguns dias, Antônio encontrou-se as escondidas com Ero e fez-lhe uma proposta que a deixou-a indecisa, não sabia o que fazer.

A família de seu amado havia vendido o sitio e eles iam de mudança para outro estado, bem longe por sinal, ele participou a seus pais o amor e o namoro as escondidas que se passava com a filha do Sr Jose Bento, e eles me propuseram, se você aceitassem iria com a gente para o Paraná, teríamos que sairmos escondido, já que os seus pais não iriam consentir, ou você acha que valera apenas tentar conversar com eles?

-Nem pensar numa coisa dessas, falar com meu pai sobre isso, você Tá doido, mesmo que ele concordasse que eu duvido muito, mas o meus irmãos jamais iriam concordar, jamais, e o mesmo que eu tivesse declarado guerra pro resto da minha vida, e não teria mais sossego, e como se eu tivesse traído eles, a religião que eu fui criada não permite que me case, nem muito menos tenha amizade com pessoas de outra doutrina, principalmente católicos como vocês , você não sabe.

Ficaram em silencio, por algum momento, e a tristeza cobriu os dois, pois viam que não tinha solução para a questão.

Ero pensava consigo mesma...Mesmo se eles não fossem se mudarem para tão longe, mais cedo ou mais tarde, ia ser um problema de difícil solução, esse nosso relacionamento, Oh! meu Deus o que eu faço?

Já sinto a dor da partida, Antônio o meu amado, primeiro e grande amor da minha vida, e difícil para qualquer um deixar de viver um sonho, perder a felicidade, ou será ilusão, não e ele a pessoa ideal que eu sonhei pra mim.

Desde aquela hora em diante, o sol escureceu pra mim, a vida perdeu a cor, passou minha fome de viver,fiquei entristecida, nada tinha valor, ate minha doença por algum tempo esqueci, mas com toda essa melancolia mais tarde só fez piorar o meu quadro de saúde, logo depois senti a recaída, fiquei acamada por vários dias.

Antônio ficou triste, vivia acabrunhado pelos cantos, já não era o mesmo rapaz, pois via que não tinha jeito de ter uma saída para o seu namoro.

Sua mãe vendo a aflição de seu filho resolveu fazer uma visita a casa de Ero e conversar um pouco com sua mãe, par ver se surgiam alguma idéia ou saber o que ela achava da parte dela, mas não teve jeito, pois Dona Ziza achou melhor nem sequer falar uma coisa dessas com seu marido , pois sabia a resposta e reação dele, e era bom que ele nem sonhasse, porque talvez saísse morte, e ela não queria ver uma desgraça dessas em sua família.

Passado alguns dias ,Ero viu vindo ao longe um caminhão diferente, vindo para aquelas bandas, ela deduziu. E hoje que a família de Antônio vão se mudarem, seu coração disparou, ela saiu correndo para o meio do mato a dentro, achou uma arvore bem alta, subiu lá no topo, pois la de cima dava pra ver a casa do Antônio e a sua e em pouco tempo o caminhão estava... continua site WWW.ARAUTO.RGT.NET.