Resenha do livro Tão breve quanto o agora por Ademir Demarchi
Caros amigos,
abaixo um texto de Ademir Demarchi sobre o meu livro, publicado ontem, dia 23 de maio, no jornal O diário, da cidade de Maringá/PR
Tão breve quanto o agora
Ademir Demarchi
Uma das mais importantes heranças da cultura japonesa para o Brasil e em especial para o Paraná foi a forma poética do haicai. Guilherme de Almeida é tido como um dos pioneiros a experimentá-la, assim como Millôr Fernandes, que deu ao haicai um sentido mais abrasileirado, em que predomina o senso de humor irônico, em contraste com a marca desse poema, dada pela observação ingênua da natureza, à exceção talvez de mestres como Bashô, que era sagaz na escrita e na observação. Leminski, com sua poética quase frasista, à moda dos anúncios publicitários, de que foi profissional, deu um modo próprio a esse gênero de poema, a ponto dele ter se transformado numa espécie de praga que se inoculou em todo aquele que pensou em escrever poemas nas últimas décadas. Pode se dizer até que há duas vertentes em ação no país, uma mais apegada à forte tradição cultural japonesa, que busca repetir o número de versos e sílabas e a observação da natureza, típicas desses poemas, e outra, mais abrasileirada, que remete à experiência de Millôr Fernandes e à antropofagia oswaldiana que devora o modelo e o deglute abrasileirado e com humor que se avizinha do poema piada estigmatizado pelos críticos do modernismo, como se essa não fosse uma forma de poética aceitável. Depois de Leminski, Antonio Thadeu Wojciechowski e Domingos Pellegrini tiveram experiências marcantes com essa forma literária, a ponto de Pellegrini buscar uma variação pé vermelho, criando os “haicaipiras”. Essa segunda vertente que abrasileira antropofagicamente aquela forma japonesa é a que mais potencial apresenta, na medida em que é crítica e com o senso de humor abole a ingenuidade. Por isso, por demandar uma inteligência arguta e atenta de quem a pratica, é mais difícil, mas nem por isso tem deixado de proporcionar ótimos resultados. Isso tudo podemos constatar num belo livro recém lançado em Curitiba, “Tão breve quanto o agora”, de Alvaro Posselt, que é professor de língua portuguesa, estudioso do haicai e praticante das duas formas apontadas. O senso de observação, o senso de humor, a argúcia são qualidades comprovadas nesse livro, daí que selecionei alguns dos que mais me agradaram e deixo o leitor agora com os haicais de Alvaro Posselt: e a sugestão de que pode buscá-lo no Facebook, onde o encontrei.
Pode ver a métrica
Para moldar estes versos
só com serra elétrica
*
Para não perder o clima
peguei o verso de baixo
e rimei com o de cima
*
Eu juro de pé junto
Com o calor na capela
suava até o defunto
*
A vida não tem fim
Entre túmulos e flores
uma caveira acenou pra mim
*
Não se empolgue
Na minha feijoada
só a orelha de Van Gogh
*
Esta vida é um mistério
Perto da maternidade
também tem um cemitério
*
Temporal divino
Para ir a algum lugar
só de submarino
*
Uma boca maldita
espalhou por toda a XV
que o Bondinho apita