Compreensão de Língua/Fala e Norma em Castelar de Carvalho.
Livro: Para compreender Saussure. Petrópolis: Vozes, 2003.
Capítulo: Língua/Fala e Norma
Autor: CARVALHO, Castelar de
A fim de nos proporcionar um primeiro contato com o Curso de Linguística Geral (CLG) e com as teorias posteriores de outros teóricos e complementares das teorias de Saussure, Castelar de Carvalho escreve o livro Para compreender Saussure. Neste capítulo - Língua/fala e norma - ele executa um delineamento acerca da dicotomia saussuriana - Língua/Fala - e da teoria do romeno Eugenio Coseriu - Fala/Norma/Língua.
Primeiramente, elucida a língua (langue) como um fato social e a fala (parole) como um fato individual. Logo depois, explica em tópicos três concepções para língua retiradas do CLG, sendo elas: acervo linguístico, instituição social e realidade sistemática e funcional.
No primeiro conceito, expõe a língua como algo que é absorvido e guardado no cérebro, como um dicionário virtual, pela observância e pela prática da fala. No segundo, concebe a língua como uma convenção social e incompleta fora de um corpo social; ou seja, é exterior ao indivíduo e fator de coerção social. A terceira noção enuncia a língua como um conjunto de signos que exprimem ideias e possuidora de uma delimitação determinada, portanto, redutível a um sistema funcional.
Por esse fato, esse último conceito é tido como o mais importante, pois se valendo desse sistema é que cada indivíduo pode organizar um pensamento coerente a fim de comunicá-lo e fazê-lo entender.
Após discorrer sobre a língua, Castelar de Carvalho explora a fala e explica rapidamente o motivo de esta não ser objeto principal de estudo linguístico para Saussure: ser irredutível a um sistema. Castelar, porém, anuncia a ressalva do genebrino sobre a interdependência dos dois elementos da linguagem - "não há língua sem fala e não há fala fora da língua" - e a advertência de que a língua é instrumento e produto da fala e que historicamente vem sempre depois.
Para não restar dúvidas, ilustra o pensamento saussuriano utilizando o exemplo cabal do jogo de xadrez, comparando as peças aos elementos linguísticos e as regras do jogo ao sistema linguístico. Diz que pode-se mudar a dimensão, a matéria das peças, contanto que se preserve a regra de utilização destas peças. Em outras palavras, pode-se alterar a substância das peças, mas não a forma de usá-las. Daí vem que a fala é uma substância e a língua uma forma - sintática e semântica, ao mesmo tempo.
Depois de esclarecer a teoria saussuriana, abre espaço para a "crítica" de Coseriu, cujo pensamento se expressa sob uma perspectiva tripartida: Fala/Norma/Sistema. A fala (realidade mais concreto) é o uso individual da norma (grau intermediário), enquanto que esta é o uso coletivo da língua, que, por sua vez, é o sistema funcional (mais abstrata).
Nos parágrafos seguintes, Castelar se debruça sobre a teoria inédita de Coseriu em relação a Saussure: a norma. Esse princípio coseriano, elucida o autor, é o real coletivo, a realização concreta, coletiva e constante da língua, que é o virtual coletivo. Em outras palavras, a norma é o uso consagrado por uma determinada comunidade linguística, seja ela regional, cultural, familiar, etc.
Daí nascem as variantes - tipos de norma - que são indispensáveis para dinamizar a língua enquanto sistema homogêneo. Esses tipos de norma se classificam em diatópicas (normas regionais), diastráticas (normas culturais o registros) e diafásica (normas familiares, estilísticas, etc.).
Além disso, Castelar explica, em três parágrafos, o que é a norma culta, a coloquial e a popular, que descendem da variante diastrática.
Desse modo, a teoria coseriana inclinou-se principalmente sobre a fala, fundamentando a Linguística Textual. Entretanto, ressalva Castelar, a concepção saussuriana de língua como instituição social aproxima-se muito com a teoria coseriana de norma. Conclui reconhecendo o valor de ambos teóricos e de ambas teorias.
O valor didático desta obra se torna claro ao debruçar-se, posteriormente, ao Curso de Linguística Geral de forma integral. A leitura torna-se muito mais fluente e simples, além de já podermos conhecer o pensamento de outros teóricos. Entretanto, ressalvo a importância de inclinar-se em estudo profundo da obra de Saussure, tendo-se a obra de Castelar como consulta, como um “dicionário”. Boa leitura!