O GRANDE GATSBY, de Francis Scott Fitzgerald
Vou ser sincero sobre o motivo que me levou a ler O Grande Gatsby, escrito por Francis Scott Fitzgerald e publicado em 1925: na relação online no Librarything dos livros que possuo, há a opção de ordenamento pela quantidade de exemplares do mesmo livro existentes no catálogo de todos os usuários cadastrados. Analisando os meus livros nesta perspectiva, adivinha qual deles aparece em segundo lugar na minha lista em comum com outros leitores, com cerca de 7553 exemplares, e que eu nem mesmo havia prestado atenção antes? Pois é. Esse mesmo. Fiquei curioso em saber porque tanta gente tem esse livro. E adicionalmente me deparei com um dos agradáveis problemas que aparecem quando você compra uma coleção completa de livros (neste caso a Coleção Biblioteca Folha): você não percebe os tesouros que tem em casa durante um bom tempo.
E como é bom ler um livro escrito por alguém que realmente sabe escrever. Verdadeiramente é como achar um tesouro. Ele enche os olhos, a inteligência, a imaginação e os sentimentos. Faz com que entremos dentro dos personagens que nos são apresentados, compartilhemos de suas alegrias e de suas tristezas, amemos quem eles amaram e odiemos quem eles odiaram, enfim, faz com que sintamos exatamente (e literalmente) o que eles sentiram em determinada página de suas vidas.
Alguns estudiosos dizem que a estória é uma síntese do american way of life, que pregava ser o objetivo essencial na vida ficar rico a qualquer custo. Também apontam que o autor baseou-se na história real do pai do presidente JKF, que enriqueceu da mesma maneira ilícita.
Virei fã do estilo de escrita de Fitzgerald. Ele escreve sem rodeios e de uma maneira cativante. Transforma em pura poesia uma estória em prosa. Como apenas um dos exemplos que poderia citar, separei um trecho do livro onde Fitzgerald nos brinda com a descrição memorável e única do sorriso de Jay Gatsby (pg. 44):
"Sorriu compreensivamente - muito mais do que compreensivamente. Era um desses sorrisos raros que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava - ou parecia encarar - todo o mundo eterno, e que depois se concentrava na gente com irresistível expressão de parcialidade a nosso favor. Um sorriso que compreendia a gente até o ponto em que a gente queria ser compreendido, que acreditava na gente como a gente gostaria de acreditar, assegurando-nos que tinha da gente exatamente a impressão que a gente, na melhor das hipóteses, esperava causar."
A estória em si poderia até ser considerada medíocre: um romance inter-classes fadado ao fracasso em meio as festas exibicionistas em que a manutenção das aparências, interesses e preconceitos de alguns ricos esnobes na Long Island da década de 1920 parecia ser o perfeito ideal de vida. Aí é que entra o gênio do bom escritor, transformando a àgua em vinho. Conseguimos resistir a cada parágrafo em meio a um ambiente de falsidade para descobrir até que ponto o amor pode nos levar. Se o amor não triunfar, pelo menos valeu a tentativa. "Que seja infinito enquanto dure", nos ensinou o poeta. Exatamente como a vida deve ser.