CÓDIGOS DA VIDA

Jung e os Arquétipos

Carl Gustav Jung (1873–1961), psicanalista suíço, foi o maior estudioso da simbologia que influencia o pensamento humano. Sua teoria a respeito dos arquétipos que estão presen-tes no inconsciente coletivo da humanidade e formatam sua cultura é ainda hoje muito respeitada. Segundo ele, a mente humana é influenciada por um conjunto de relações simbólicas que ela mantém com a natureza. Como em muitos casos a nossa mente não desenvolveu linguagem adequada para classificar determinado conhecimento, ela o transforma num símbolo. Esses símbolos servem como referências, tanto para coisas que ela não consegue compreender, quanto para sentimentos que a nossa cultura nos ensinou a reprimir.

Assim, o psiquismo comum da humanidade criou um conjunto de símbolos que formam o chamado Inconsciente Coletivo da humanidade. Ele é constituído de estruturas psíquicas, comuns aos mais diversos grupos humanos, em todos os tempos e lugares. Exemplos dessas estruturas são o amor fraternal, o casamento, o medo do escuro, a crença em um poder maior, a associação de determinadas cores a determinados estados psicológicos, etc.

Essas estruturas mentais são os chamados arquétipos, ou seja, formulações padronizadas que servem para organizar ou canalizar o material psíquico depositado em nossas mentes, como resultado de todas as experiências já vividas pela espécie humana. Assim, todos nós sabemos que devemos respeitar os nossos pais. Que devemos enterrar os mortos. Que precisamos procriar para perpetuar a espécie, que determinadas formas geométricas simbolizam determinados conceitos, etc. Quer dizer, arquétipos são noções que existem anteriormente a nós e conformam a nossa maneira de pensar e viver, por que deixar de atender a esses modelos poderá nos causar algum tipo de constrangimento.

Jung associa esses arquétipos aos temas mitológicos que aparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diversas. São os mesmos temas, encontrados em sonhos e fantasias de muitos indivíduos e povos, em tempos e lugares diferentes. Isso mostra que a estrutura mental da humanidade tem uma base comum. Vários povos têm seu Hércules (símbolo da força, da coragem, da masculinidade), seu Cristo, seu Osíris, seu Prometeu (símbolo da regeneração da vida, da vitória sobre a morte), seu Narciso (símbolo da vaidade), suas bruxas, duendes e entidades mitológicas, que representam diversos conceitos ou estados psiquicos, individuais ou coletivos, que se desenvolvem denro da complexa atividade mental dos seres humanos. Assim, esses estados psiquicos são modelados em símbolos que representam conceitos que o inconsciente coletivo da humanidade hospeda. Eles dão origem tanto às fantasias individuais quanto a mitologia e a tradição de um povo em geral.

Na cultura helênica e vedanta, por exemplo, eram muitos os arquétipos representados por figuras de deuses e heróis que simbolizavam determinadas qualidades e habilidades. Assim é que para os gregos, o Guerreiro era figurado na pessoa do Deus Áries, o Curador no deus Esculápio, o Visionário pelo deus Hermes e o Mestre pelo pai dos deuses, Zeus. Na Índia os arquétipos correspondentes eram o Deus Indra, a deusa Shaktri, o deus Brhama e a deusa Saraswati.

• Esses eram os deuses da guerra, da medicina, das visões e da sabedoria, respectivamente. No antigo Egito esses arquétipos também tinham correspondências em várias divindades, como por exemplo, Hórus para a guerra, Ísis para a cura, Aton, o deus das visões e Thoth, da sabedoria. Arquétipos eram também as figuras dos heróis, que simbolizavam vícios e virtudes dessas civilizações, tais como Hércules, símbolo da força e da determinação, Jasão, da curiosidade e da aventura, Aquiles da coragem, Ulisses, a astúcia, etc.

Freud, ao descrever o sentimento de ciúme reprimido que o filho (ou filha) sente da relação entre seus pais, usa a história de Édipo como ilustração desse estado interno. O Complexo de Édipo é um motivo tanto mitológico quanto psicológico, que simboliza um sentimento que a mente racional reprime por considerá-lo contrário aos valores desenvolvidos pela civilização humana. É pecado um filho (ou filha) ter desejos sexuais em relação aos seus pais, embora esse desejo seja normal, tendo em vista a própria estrutura do organismo humano, que se desenvolveu a partir de uma matriz animal. O instinto sexual, nesse caso, torna-se um sentimento sublimado pela cultura, mas suas raízes devem permanecem ocultas no subconsciente humano, muitas vezes gerando comportamentos aberrantes.

Códigos da vida

Dessa forma se justifica o fato de a tradição xamãnica trabalhar com a idéia de que o conteúdo da nossa mente inconsciente esteja organizado em torno de quatro entidades arquetípicas, que se identificam com um Guerreiro, um Curador, um Visionário e um Mestre. Esses modelos psicológicos estão associados a símbolos que se relacionam com os nossos anseios, desejos, temores, esperanças, e resumem experiências vividas pela totalidade da humanidade na sua luta para sobreviver e criar uma identidade cumtural.

Angeles Arriem chama a esses quatro arquétipos de “O Caminho Quádruplo”, ou seja, os quatro grandes princípios que orientam a nossa vida psíquica, e por conseqüência, modelam atividades da nossa vida física e espiritual.

Esses arquétipos, para os povos mais ligados á natureza, são os Quatro Grandes Espíritos da Terra e tudo que somos e fazemos na vida é inspirado por eles.

Aprender a acessar o arquétipo certo para que possamos responder adequadamente a cada situação que a vida nos coloca é a habilidade mais valiosa que uma pessoa pode desejar. Eles estão presentes em nosso sistema neurológico e respondem por facetas da nossa personalidade, que se manifestam quando somos confrontados com situações de desafio, (hora de lutar, de se defender), de dor e aflição (hora de curar), de criar, sonhar, projetar (hora de ter visões), de aprender e transmitir aos outros a sabedoria adquirida (hora de saber).

Neste estudo eles são chamados de Códigos da Vida, porque entendemos que eles representam noções que a experiência vivida pela espécie humana, em milhões de anos, depositou nas camadas neurais do nosso cérebro. São comportamentos “codificados” que a tradição dos povos antigos, e aqueles mais ligados á natureza consagraram. Esses códigos estão à nossa disposição para serem acessados diariamente em nossas atividades e a sua utilização eficiente tem sido de comprovada utilidade para a vida de quem os acessa. Mostrar como dominar esses códigos e utilizá-los como ferramentas para aumentar nossa eficiência na arte de viver é o objetivo deste estudo.

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DO LIVRO "CÓDIGOS DA VIDA"- CLUBE DOS AUTORES- 2011