REIS, Zuleika dos. Flores do outono. São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.
Nelly Novaes Coelho é a apresentadora da poesia de Zuleika dos Reis no Dicionário crítico de escritoras brasileiras (2002), da Escrituras Editora. Diante disto, eu me intimidaria de inserir a minha palavra sobre a professora paulistana, Zuleika dos Reis, que estreou na literatura com a obra Poemas de azul e pedra. Entretanto, continuo escrevendo este texto movida pela emoção de estar publicando textos online em um mesmo site onde Zuleika publica. Este site, o Recanto das Letras. Agora, encantada pelo presente que me chega às mãos, a obra poética intitulada Flores do outono, mais motivos encontro para não me intimidar.
Seria impossível passar por essa obra em silêncio. Seria um crime contra a literatura abandonar pelas calçadas as flores zuleikianas. Mesmo que a poeta as distribua generosamente de dentro do seu olhar na direção do mundo. O olhar de Zuleika me alcançou.
Quero prestigiar os nomes que fazem parte da publicação de Flores do outono. Clície Pontes anotou, na orelha esquerda da obra, que Zuleika “encanta-nos com versos que trilham as estações do ano e demonstra, assim, toda sua inspiração nutrida na poética japonesa”. Na orelha esquerda, Tekudo Oda inclui que Zuleika “agora se liberta e a liberta”. Álvaro Alves de Faria, o prefaciador da obra, adianta que a linguagem do livro é a de “uma poesia rara, quando a poesia rara tornou-se quase inexistente em um cenário deprimente de acasos e falsas palavras. Felizmente ainda existem poetas assim, especialmente mulheres”. Eunice Arruda, pós-graduada em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina, 1974, afirmou, na contracapa, que a obra Flores do outono “é uma árvore que insiste em florescer”. Vejo que tem razão a Eunice, pois a árvore floresce em minha terra, Aracaju, diante de meus olhos encantados com a beleza das flores zuleikianas.
Perco a timidez diante das palavras dos companheiros das Flores do outono. Digo as minhas palavras. Trata-se de um livro flor, outono, primavera, verão, inverno, uma poesia que pulsa, um trabalho de rigor poético invejável. E como posso dizer isto se não tenho conhecimento suficiente da poesia japonesa? Mas tenho poesia, tenho sentidos e flores na alma. Assim, da mesma sorte que a música é universal, seja qual for a forma, os poetas se entendem, comungam a harmonia da Natureza que lhes deu o presente da Poesia.
Zuleika, não quero escrever uma resenha formal. Quero um texto que transmita algo da árvore florida que brota em seu peito de poeta de onde “Voam pétalas ao vento/pássaros surpresos”. Quero repetir as sensações que a leitura de seus poemas impregna em nosso ser poeta, “mas quero aprender contigo”. “Queria te olhar/apenas como quem olha/e pousa em teu galho”. E curvar-me “diante de ti/que és estrangeira/e daqui”, pois “Não há solidão/na maneira com que ergues/teus ombros ao sol/e ostentas a flor, o insólito/fruto da tua estação”. Quero ser a paineira e espalhar a paina pelo mundo, no “chão de folhas caídas”. Quero, estando na paisagem, ser “Névoas de cristal/sombras de fino matiz/ouro de trigais/sinos de antigas manhãs/silêncios de flutuar”. Então, mais que paineira, sou flor e “sinto a comunhão/contigo, mutante amiga”. E quero ainda o meu olhar poluído do furor da Primavera. Quero o quadro da árvore florida e imune ao tempo, a árvore do mistério da poesia.
Além da festa poética em cantiga natural pelas calçadas e janelas, a obra de Zuleika dos Reis inclui um texto em prosa intitulado Reflexões de uma ocidental. No seu âmago, uma dissertação reflexiva de porte científico, de considerações em torno da linguagem que querem dizer do amor à língua portuguesa, à linguagem poética, à Natureza. Essa conjugação que faz a poeta integrando a cultura ocidental à cultura oriental causa uma sensação paineira, flor, congraçamento.
A flor de poesia que encerra Flores do outono coloca o leitor diante de uma página que representa uma noite dominada pelo luar. E, assim, como se nos desse o golpe fatal do Belo, a poeta nos extasia “Da janela a Lua/redonda e alva luz/sobre a paineira”. Agora ficamos com esta visão majestosa fixa nas nossas retinas eternamente.