Resenha: Barbies, bambolês e bolas de bilhar - Joe Scharwz
Logosofia química
Em meio a uma sociedade logosófica, teoria segundo a qual a evolução é atingida através do conhecimento, o desenvolvimento científico é cada vez mais notável e abrangente, fazendo-se imprescindível tomar conhecimento a respeito, a fim de evitar a estagnação intelectual. Contudo, o cotidiano estafante nos afastam da aquisição de novos e vastos saberes. Empenhada em resgatar essa valiosa prática, Joe Schawz apresenta-nos o livro Barbie, bambolês e bolhas de bilhar, no qual discorre detalhada e levemente a respeito de uma gama variada de assuntos, lapidando nossa visão química sobre eles.
Sua estruturação é de lógica pontual, com uma bela introdução seguida por 7 envolventes capítulos , com seqüenciamento de tópicos implacável e prende o leitor que se delicia com uma leitura agradabilíssima.
Schawz começa a narrativa com sua descoberta pela química, ainda na infância, numa ocasião cotiadiana: uma festa de aniversário. Revela o mau juízo e uso que é feito da expressão ‘subtancia química’, erroneamente relacionada a alucinógenos e medicamente, somente. Faz um apelo pelo conhecimento básico generalizado de química, apresentando-nos evidencias de como isso poderia ser benéfico e já mostrando o grande objetivo da obra: explicar quimicamente fatos e fenômenos cotidianos.
No capítulo inicial, encontramos as primeiras referencias ao título, explicando a composição química das bolas de bilhar, sucesso no século XIX, derivada do marfim dos elefantes. Com seu desaparecimento gradual, fez-se a substituição pela celulóide, nunca efetiva. Barbies e bambolês feitos de polietileno. As alusões históricas merecem destaque neste ponto, em que aborda o estrondoso desenvolvimento científico na 2ª GM, decorrente de experiências com judeus lideradas pelos regimes totalitaristas.
Em Goela Abaixo, encontramos os assuntos diria mais aplicáveis ao nosso dia-a-dia. A descoberta de que o sabor que chamamos de ‘baunilha’ é na verdade seu derivado sintético, a vanilina, foi surpreendente. O queijo brie, com sua textura e aparência peculiares, é resultado das enzimas presentes do fungo de que é formado, que reagem com as gorduras e proteínas do leite. Outra curiosidade que passa por despercebida a grande massa popular, os radicais livres, sempre presentes nos anúncios de leites fermentados, está envolvido no aparecimento de câncer. E se o seu café da manhã é regado a linhaça, considere-se protegido contra acidentes cardiovasculares.
Um ponto passível aqui de menção é a empreitada ininterrupta da autora em nos mostrar que a natureza/química não é boa ou má. Há coisas naturais que trazem prejuízos, outras que só trazem benefícios. Os fungos, bactérias provocam doenças e a demasiada exposição desprotegida ao sol câncer de pele. Além disso, não se trata de algo exato e incorrigível. Pelo contrário, eis uma ciência em constante mudança, avanço.
Denotando a contemporaneidade da obra, Joe faz um alerta sobre as reações adversas que podem causar os hoje tão populares antidepressivos e inibidores de apetite. Em outras alusões históricas, mostra-nos o desenvolvimento até que o homem descobrisse a composição dos fluidos liberados pela espécie humana e pelos animais (gambá). Questões polêmicas também são debatidas, como o toque terapêutico como método de cura.
O desfecho propõe ao leitor um intenso período de análise da obra, minuciosamente desenvolvida com um provável intuito de instrução popular. Contribui consideravelmente para a ampliação e aprofundamento de conhecimento do mundo que nos rodeia, desenvolvendo, ainda, o senso crítico, em passagens acentuadas com humor e ironia. O público alvo é, contudo, selecionado. Entretanto, a baixa complexidade vocabular e de estruturas gramaticais permite uma grande adesão, sendo interessante a leitura de jovens e adultos com algum conhecimento prévio, ainda que muito superficial, em química, que possibilitaria a compreensão e aproveitamento de um livro de tamanha bagagem informativa.
Fascinante, é também uma excelente opção para os curiosos de plantão, sempre com sede de conhecimento