Ouvindo o Silêncio: Educação, Linguagem e Surdez
Ângela Carrancho da Silva e Armando Guimarães Nembri, Editora Mediação, 2008, Porto Alegre.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar o tema abordado pelo livro acima descrito de maneira fiel as ideias, conceitos e abordagens realizadas pelos autores da obra. As informações aqui sintetizadas foram retiradas por meio da leitura do título acima, podendo, desta forma, ser considerada uma pesquisa bibliográfica.
DOS AUTORES
O livro Ouvindo o Silêncio: Educação, Linguagem e Surdez tem uma autora e um co-autor, sendo Ângela Carrancho da Silva e Armando Guimarães Nembri, respectivamente. A autora traz a educação consigo desde o início de sua trajetória profissional, pois começou a trabalhar na área como professora da língua inglesa, além de ter um vasto currículo na área da educação, pois possui, além dos títulos de pós-graduação e mestrado, a participação ativa em congressos nacionais e internacionais sobre a surdez, tendo desenvolvido, inclusive, um programa que lhe rendeu um prêmio concedido pelos Estados Unidos, tendo, por conta desta premiação, criado vínculos com outros professores norte-americanos que também trabalham em questões relacionadas a surdez e a educação especial como um todo, o que ajudou a ampliar a sua visão sobre o tema. Ângela Carrancho da Silva enfocou em sua tese de doutorado o processo de aprendizagem do individuo surdo, aplicando para tanto os inventos modernos da tecnologia.
Armando Guimarães Nembri é surdo e descreve toda a sua experiência de vida no livro, demonstrando as dificuldades que tem que ser superadas por um surdo para que se possa alcançar um letramento satisfatório quando comparado a um indivíduo que não é surdo: foi superando obstáculos que Armando alcançou o título de Mestre, mesmo com todos os empecilhos que a surdez lhe impõe. No livro Ouvindo o Silêncio: Educação, Linguagem e Surdez Armando descreve sua vida com pormenores, salientando as pessoas que o ajudaram incansavelmente durante sua vida como individuo surdo, em especial a sua mãe.
DO LIVRO
O livro Ouvindo o Silêncio: Educação, Linguagem e Surdez aborda de maneira sistemática e corajosa questões relacionadas ao surdo, discutindo, dentre outros aspectos, a percepção errônea que a sociedade como um todo tem sobre o indivíduo surdo, olhando para este como sendo um deficiente, e, portando, incapaz de progredir como um sujeito considerado “normal”. Essa tese de que o progresso do individuo surdo é limitado advém, segundo a autora do livro, de uma visão equivocada e por vezes preconceituosa sobre o surdo.
Ângela Carrancho da Silva demonstra, através da História, como que se deu o processo de contextualização do surdo e como se criou a imagem que nos dias atuais a sociedade tem sobre este, considerando como deficiente, sem potencial, com falhas quase que irreversíveis que comprometeriam o aprendizado cognitivo do mesmo. Segundo a autora, a visão que a sociedade tem sobre o surdo é uma visão medieval, atrasada e completamente equivocada. Nesse sentido, a autora afirma que o surdo deve ser encarado como um sujeito diferente, e não deficiente, pois a própria assimilação de que o surdo é deficiente já o exclui do processo de aprendizagem, afinal de contas, as escolas tem um padrão “normal” de ensino, e sendo o surdo deficiente, ou seja, alguém que não se enquadra dentro daquela realidade de maneira completa, já estaria privado do processo de ensino, principalmente pelo fato de se considerar que o aprendizado advém do processo de oralização da comunicação, algo que o surdo não desenvolve em virtude de sua diferença. Ângela enfatiza e questiona que aprendizado não advém completamente do processo de oralização, como afirmam outros autores, declarando que a surdez não exclui o indivíduo surdo do processo de aprendizagem, e tampouco o isola do desenvolvimento. Segundo a autora o processo de pensamento se dá com a interação individuo ambiente, e não com o processo de oralização na comunicação. Para a autora o processo de comunicação oral sempre foi privilegiado, por isso quem não tem a capacidade de se comunicar oralmente, caso do surdo, também teria então sua capacidade cognitiva comprometida, fato levantado por alguns autores, porém, sem comprovação, de acordo com Ângela..
Nesse sentido é afirmado que o surdo tem toda a capacidade de desenvolver-se no que diz respeito a aprendizagem e a interação por meio desta com a sociedade, declarando que a falta da linguagem oral não o retira da sociedade e de sua efetiva participação nela, porém, segundo a autora, o surdo deve ser visto como uma pessoa normal, que aprende de uma maneira diferente, devendo ser respeitado por ser como é.
Sobre como esse processo de aprendizagem do surdo deveria ocorrer e a proposta pedagógica diferenciada para estes indivíduos normais, porém surdos, Ângela questiona os métodos empregados para tal finalidade, demonstrando que sempre houve conflitos e maus entendimentos sobre a questão, citando os congressos nacionais de 1878 e 1880 que acabaram por dar aos surdos benefícios e prejuízos ao mesmo tempo, dando-lhes o direito de assinarem documentos, fazendo com que os surdos saíssem da escuridão da marginalidade onde se encontravam, porém, impedindo que os surdos utilizassem gestos e sinais para se comunicarem, privilegiando, mais uma vez, a comunicação oral.
Segundo a autora do livro os métodos utilizados nas escolas tem um foco oral e acabam por prejudicar a aprendizagem do surdo por não está adequada ao mundo real deste, as suas diferenças quanto aos demais alunos, mas, segundo a autora, está próximo de algo artificial, por isso a mesma enfatiza que é necessário oferecer ao surdo uma método que corresponda as suas diferenças, um método que propicie ao surdo o aprendizado da linguagem, que lhe integre a sociedade e lhe permita a comunicação de fato, nesse sentido, Ângela acaba por criticar a linguagem de sinais, afirmando que está é respaldada na língua oral e não contempla as reais necessidades do surdo. É nesse âmbito que a autora reconhece a necessidade de se educar os surdos de maneira bilíngue, passando a considerar a língua de sinais como língua materna destes indivíduos, dando ao mesmo o poder de decidir sobre o código que deseja utilizar para se interagir com a sociedade.
Recorrendo a história da educação dos surdos, as pedagogias adotadas, a aprendizagem da linguagem e a língua de sinais Ângela contextualiza através de sua visão crítica o cenário em que se encontram os surdos, apontando para a necessidade de reformulação sobre os conceitos que são utilizados quando o assunto é a educação de surdos.
O Co-autor do livro em questão, Armando Guimarães Nembri, relata a sua emocionante história de vida, as dificuldades que enfrentou (e enfrenta), a sua persistência ante os obstáculos enfrentados por ser surdo, os caminhos que teve que seguir para alcançar o que julgava ser o melhor.Também narra história de sua mãe, que sempre esteve ao seu lado, ajudando-o de maneira decisiva.
A história de Armando acaba sendo um aprendizado à parte para os leitores do livro, pois ilustram uma trajetória nada fácil, porém vitoriosa.
O livro Ouvindo o Silêncio: Educação, Linguagem e Surdez, em sua parte final, também trata das questões sociais, como as representações dos surdos e sua importância para estes, pois através destas podem ser debatidos temas que abarcam a realidade do surdo e sua relação com a sociedade através de práticas de inclusão.
CONCLUSÃO
O livro aqui resumido é um olhar atento para o mundo no qual se encontram 5,7 milhões de pessoas no Brasil, os surdos, segundo dados do IBGE, do ano de 2012. Além de demonstrar o cenário histórico no qual se desenvolveu a história dos surdos e fazer uma análise crítica sobre como ocorre o processo educacional dos surdos no atual modelo escolar, o livro propõe uma reflexão séria sobre o contexto social no qual estão inseridos os surdos, a forma sobre a qual são vistos e a vida difícil que vivem, exemplificada no exemplo de Armando Guimarães Nembri, co-autor da obra.
Fica evidente a visão distorcida que a sociedade e o sistema educacional têm a respeito dos surdos, pois não os enxergam de maneira adequada as suas necessidades; não os veem como indivíduos que também fazem parte do contexto social nos mais diversos aspectos, que tem os mesmos direitos daqueles que dos quais possuem diferenças, antes, os surdos são enxergados sob um olhar que beira a segregação e preconceito, pois, a percepção sobre os mesmos são, mesmo que imperceptivelmente (em sua maioria), baseadas em afirmações e “verdades” falsas, tornando quase que impossível alguma mudança que não inicie pela nossa mudança de pensamento.
Entendo, como educadora, e o presente livro me demonstrou tal fato, que a transformação mais importante que deve ocorrer no cenário social e educacional que abarca os surdos é uma mudança no elemento humano, ou seja, em nós enquanto sociedade e educadores. É essa mudança conceitual que quebra os tabus e rompe com dogmas inverídicos erguidos sobre os surdos, e o primeiro passo em direção a essa conquista é dado quando nos dispomos a discutir essa realidade, tentando vê-la não como nós vemos a nossa realidade, mas como os surdos veem a realidade deles e como de fato esta realidade deve ser vista.
Compreendo que um dos grandes problemas em torno da questão dos surdos é eles sempre foram vistos a partir do ponto de vista de quem não é e nunca foi diferente. Precisamos questionar e refletir para iniciar uma mudança que traga resultados positivos para os surdos, do ponto de vista deles, não do nosso; pensando o que é melhor para eles, e não o que achamos ser melhor. Sobre isso, fica evidente, que devemos nos afastar de tudo aquilo que foi dito a respeito, que foi propagado como solução e adequação para os surdos... realmente, se quisermos contribuir enquanto educadores para a questão dos surdos, fica evidente que teremos sim que ouvir o silêncio.