A CADEIRA DE PRATA, de C. S. Lewis
A Cadeira de Prata é o quarto livro (publicado em 1953) da mundialmente famosa série infanto-juvenil As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, mas aparece em sexto na ordem cronológica de leitura das sete histórias.
Eustáquio Mísero (que aparece em A Viagem do Peregrino da Alvorada), junto com sua colega de escola Jill Pole, são transportados através de um portão nos fundos de seu colégio para o mundo de Nárnia. Eles precisam encontrar o príncipe Rilian, filho do rei Caspian X (de O Príncipe Caspian e A Viagem do Peregrino da Alvorada), que está desaparecido há alguns anos. O leão Aslam os auxilia fornecendo quatro sinais que identificariam o verdadeiro príncipe quando o encontrassem, e com a ajuda das sábias corujas e do pessimista paulama Brejeiro, partem em sua jornada. A viagem os leva até as Terras Agrestes do Norte, onde habitam os gigantes, e depois ao Reino Profundo, um mundo subterrâneo onde precisam enfrentar uma poderosa rainha-feiticeira. Eustáquio e Jill, assim como a maioria dos personagens das Crônicas, fazem mais uma participação no final da saga, no livro A Última Batalha.
Lewis baseou-se em vários mitos não-cristãos gregos – além da já tradicional temática cristã em suas obras – para inculcar melhor nas crianças alguns ensinamentos mais profundos. Como o mito da caverna, de Platão, retratado quando Eustáquio, Jill e Brejeiro vão parar no Reino Profundo, um mundo subterrâneo onde os habitantes – chamados de terrícolas – vivem escravizados e subjugados pela feiticeira verde, a única que possui livre acesso ao Mundo de Cima. Todos os habitantes se acostumaram a viver com pouca ou praticamente nenhuma luz, ilustrando que a falta do conhecimento (cristão, neste caso) sujeita as pessoas à dominação. A existência de vários níveis de submundos demonstra que há também vários níveis de consciência da realidade. O Reino Profundo lembra muito o reino de Hades, o deus grego das profundezas e dos subterrâneos, onde o acesso a ambos somente ocorre atravessando um longo rio através de um barco.
O feitiço lançado sobre Rilian exemplifica como as aparências podem enganar e escravizar sem que nos apercebamos disso. Alguns desejos humanos normais, quando manipulados pela mídia, religião, política etc., nos tornam escravos do consumismo, fanatismo e de outras idéias que dominam sutilmente a mente. Os manipuladores, segundo Platão, chamados de “amos da caverna”, dão a sensação de liberdade para as massas, mas uma liberdade delimitada por ideologias e superstições. Segundo a Bíblia, o principal manipulador seria o Diabo: “Satanás persiste em transformar-se em anjo de luz” (2 Coríntios 11:14). Este teria sido o primeiro manipulador, ao usar uma serpente para enganar Eva.
A saga da procura e do retorno do príncipe herdeiro ao trono retrata implicitamente a volta de Cristo. Assim como as crianças na história precisaram buscar atentamente pelo herdeiro legítimo ao trono, observando alguns sinais e sobrepujando algumas mentiras, as pessoas devem hoje estar atentas aos sinais da volta de Jesus. “Deixai vir a mim as criancinhas” e “A menos que sejam como criancinhas, não entrareis no reino dos céus” (Mateus 19:14 e 18:3), são passagens da Bíblia que reforçam o ensinamento transmitido pelo autor de que os cristãos precisam limpar suas mentes assim como as das crianças. O encontro com as criaturas adormecidas e como ao Pai Tempo no subterrâneo, destinadas a acordarem somente no fim do mundo, é outra referência cristã, desta vez ao livro de Apocalipse. Nota-se claramente que Lewis está conduzindo o final da série As Crônicas de Nárnia como se fosse o final dos tempos descrito na Bíblia. Provavelmente a sua intenção fosse instruir de maneira mais ágil os jovens com respeito às profecias bíblicas referentes a esse período de tempo.