O CAVALO E SEU MENINO, de C. S. Lewis
Publicado em 1954, é o terceiro livro na ordem cronológica da série As Crônicas de Nárnia. Conta uma aventura ocorrida quando os irmãos Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia - as crianças que aparecem em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa - reinam há vários anos em Nárnia. Mas os quatro irmãos Pervensie não são os personagens principais em O Cavalo e seu Menino, pois aparecem somente como auxiliares no enredo e para que se possa situar o conto no tempo de Nárnia.
A história conta como o jovem escravo Shasta, junto com o cavalo narniano Bri, fogem da Calormânia, país vizinho e rival de Nárnia, em uma viagem para livrá-los da condição de escravos. No caminho, juntam-se a eles a menina Aravis e sua égua Huin, que também estão em fuga, porque Aravis não aceita o seu casamento arranjado. Antes de chegarem ao destino final, precisam atravessar a cidade calormana de Tashbaan, algumas tumbas assombradas e um grande deserto. Para complicar as coisas um pouco mais, Aravis descobre acidentalmente um plano dos calormanos para invadir Nárnia e Arquelândia, e em conjunto com seus amigos procura avisar aos narnianos a tempo de se prepararem para a tentativa de invasão. A história termina em uma grande batalha onde o destino de muitos acaba sendo definido.
Lugar-comum em As Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis utiliza temas bíblicos implícitos em O Cavalo e seu Menino. Um deles é a semelhança entre as histórias de Shasta e de Moisés, pois ambos além de serem encontrados abandonados em um rio quando bebês, também servem como agentes libertadores de seu povo. A onipresença de Deus é demonstrada quando o leão Aslam aparece em várias ocasiões utilizando formas diferentes para ajudar a Shasta, que não se apercebe prontamente de tais auxílios.
O autor procura apresentar alguns aspectos políticos do jogo entre as nações, como os casamentos arranjados para formar alianças. Tanto Aravis quanto Susana se encontram nessa situação e fogem dela.
O título O Cavalo e seu Menino é uma inversão curiosa e bem humorada feita por Lewis nos papéis de quem pertence a quem, diferenciando-se das histórias infantis comuns na época em que foi escrito. Toda a fuga é sugerida e comandada pelo o cavalo Bri, mais experiente e determinado que o jovem Shasta.
O Cavalo e seu Menino não influencia diretamente nas outras histórias de As Crônicas de Nárnia, mas é citado como uma das lendas narnianas antigas em A Cadeira de Prata. E nos dá um pequeno vislumbre dos feitos praticados pelos quatro irmãos Pevensie, citados em várias das histórias como tendo um longo reinado cheio de aventuras, na chamada época de ouro de Nárnia. Tanto é que, segundo o autor, passaram-se 14 anos desde as aventuras vividas em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, antes que as crianças voltassem pelo guarda-roupa à Inglaterra.
A única das sete histórias que compõe As Crônicas de Nárnia que ocorre exclusivamente dentro do universo de Nárnia, ela não envolve viagens entre os diferentes mundos. De tal maneira que pode ser lida isoladamente das outras, sem a real necessidade de conhecer as histórias anteriores, e não trazendo nenhum prejuízo à compreensão do leitor. São introduzidas duas nações vizinhas à Nárnia, Arquelândia e Calormânia. A Calormânia é bastante detalhada nesta obra, bem como vários de seus aspectos sócio-culturais, semelhantes aos dos povos árabes. Os calormanos são destacados em outras histórias como sendo humanos egoístas e ávidos pelo poder, e consequentemente inimigos dos narnianos. Tipificam assim o próprio homem como o conhecemos hoje, que busca o poder através de guerras e estratagemas políticos, sem ligar para o que os outros desejam.