O ESPIRITISMO DISFARÇADO NO LIVRO: A TRAVESSIA (WILLIAM P. YOUNG)
O livro A TRAVESSIA segue a mesma linha do livro A CABANA. Mais uma vez, o autor WILLIAN P. YOUNG personifica as três pessoas que compõem a Trindade Santa, num enredo que permeia a transformação interior do ser humano. O personagem principal ANTONY SPENCER, conhecido por Tony, um multimilionário, traz consigo características negativas e destrutivas marcantes, que terminam por isolá-lo das pessoas por quem deveria sentir afetividade e amor. Através de um colapso, o protagonista da história entra em coma, e se vê em um mundo surreal, em ambientes maltratados e descuidados, com casebres simples e muralhas fortemente construídas, e templos que a princípio não lhe geram sentido. Paulatinamente, Tony vai descobrindo ser aquele espaço o seu coração. Neste ambiente, ele encontra Jesus, personificado em um homem simples e de olhos castanhos marcantes, e o Espírito Santo, este último, personificado numa idosa indígena, chamada de vovó. Ao longo do enredo vão construindo diálogos com Tony, sobre ele próprio, suas decisões, sua vida, suas atitudes. As palavras surgem não como condenação, mas como reflexão, permitindo vir à tona a conclusão de que Tony visualiza o que as suas decisões e o seu modo de viver foram construindo ao longo dos anos. No decorrer do enredo, o Pai surge personificado em uma garotinha que traz ao protagonista palavras de alento e de esperança. Neste ínterim, Tony transita entre este mudo surreal e o mundo real, em que durante o período de coma, apenas consegue se comunicar com outras pessoas, quando adentra a mente delas e consegue visualizar o mundo através de seus olhos. Assim acontece com o gentil garoto Cabby, com a solidária Maggye e até mesmo através dos olhos do líder da igreja, o policial Clarence. Nestas idas e voltas, entre os dois mundos, Tony vai percebendo detalhes de sua vida que geram poderosas reflexões, capazes de irem transformando-o, ou mesmo, lapidando-o, no que concerne a postura e conduta humana. Dentre os diálogos que mantém com Jesus, Tony recebe uma dádiva, de curar uma única pessoa, que ele pode escolher. O que no início era uma escolha fácil, uma vez que ele poderia curar a si mesmo, termina em dificuldades, quando Tony conhece o dilema que uma jovem com leucemia vivencia juntamente com a sua família. Embora tenha fatos e relatos voltados para a fé evangélica, o livro adota explicitamente a doutrina espírita. Existe ao longo da narrativa a comunicação com os mortos, como no momento em que Tony reencontra seu filho, morto aos cinco anos, e mantém um diálogo com ele. Há ainda a sugestão de que o garoto precisa partir, e o sofrimento do pai está impedindo que isto aconteça, crença adotada exclusivamente pelos espíritas. Para aqueles que professam a fé bíblica, serão perceptíveis muitas anomalias, que contradizem com os verdadeiros ensinamentos de Deus. Faz-se possível afirmar que o autor utiliza a fé evangélica apenas como pano de fundo, para apresentar, propagar e/ou convencer os leitores acerca dos ensinamentos espíritas; até mesmo no livro A CABANA, faz-se perceptível que a doutrina espírita é defendida nos trabalhos deste autor. Outra disparidade em relação à bíblia é a propagação de que o ser humano sempre terá uma segunda chance, se não nesta vida, então em outra. Esta fé não tem embasamento bíblico, uma vez que as pessoas que decidem seguir a Cristo, segundo a Palavra de Deus, devem fazer com entendimento e discernimento, não em estado de coma, ou mesmo, no pós-morte. O livro apresenta pontos altos e até consistentes no que concerne à espiritualidade, mas desmoronam no desenrolar dos fatos, posto que aqueles que vislumbram o verdadeiro caráter de Cristo sabe que ele não tem duas palavras e possui uma conduta moral imutável. Se foi dito ao homem que não é possível a comunicação entre os mortos, isto é fato irrefutável. Dizer que isto foi uma dádiva do Pai, é enveredar por caminhos que se perdem e revelam a distância que esta história tem com os reais preceitos do Deus que afirma: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24).