A LÍNGUA DE EULÁLIA

O livro "A língua de Eulália", do sociolinguista Marcos Bagno,conta de uma forma divertida,a história de três estudantes que passam férias na casa de uma tia linguista,e lá aprendem que falar diferente não é falar errado,e conhecem a fundo a Linguística como uma ciência que trata da língua falada,e desde seu surgimento sofre uma série de preconceitos por parte dos tradicionalistas.

Bagno mostra que não existe somente uma língua falada,e sim,mais de duzentas. É a chamada "Variedade Linguística",que por não seguir o português padrão,seus falantes acabam sendo alvo de deboche por conta de um "mito de unidade linguística do Brasil". (BAGNO,p.8). "(...) Uma ideia muito bonita,muito conveniente,mas falsa,e para piorar também prejudica a educação" (BAGNO,p.24).

O problema na verdade é social,porque o português tradicional é taxado de elitista,falado apenas por pessoas cultas.E o mais interessante é que enquanto a pronúncia do "r" dos "caipiras" é motivo de chacota,os que detêm a norma culta padrão a aprendem em cursinhos de forma americanizada e não percebem a semelhança entre ambas,como em "fork (garfo),morning (manhã),carpet (tapete) (...),e não me consta que fiquem zombando dessa pronúncia,nem chamando os norte-americanos de 'caipiras' " (BAGNO,p.53).

A Linguística não quer ocupar o lugar do Português padronizado,pois reconhece que o mesmo é necessário para a comunicação comum entre os falantes,já que ninguém fala cem por cento corretamente "(...) Cada pessoa tem sua língua própria e exclusiva,mas não pode deixar que ela a separe da comunidade a que está inserida" (BAGNO,p.21) e porque "toda a língua (...) muda com o tempo" (BAGNO,p.22).

A questão de tantas variedades são geográficas,de faixa etária,sociais,culturais e históricas,sem contar com outros aspectos como: assimilação,ditongação e monotongação; transformações que fazem do Português não padrão "uma língua bem organizada,coerente e funcional" (BAGNO,p.29). É uma linguagem mais enxuta,econômica e popular,em que fica claro que a variedade linguística não é falar errado,e para isso,há a história da língua ou de quem fala.

Ninguém representa na fala fielmente o que escreve,e nem falar do jeito que se escreve significa fala mais certo; O professor não deve subjugar a gramática internalizada de seus alunos,pois isso pode causar sentimentos de incapacidade linguística.Deve-se sim ensinar que há uma língua padrão importante para a comunicação comum,que não importa se a pronúncia será "bunito" ou "bonito",o importante é que na escrita seja "bonito". "Corrijam o que está inadequado (...),ambínguo ou confuso: corrijam a escrita (...)" (BAGNO,p.102).

Há muitas palavras na língua que os tradicionalistas veem como erradas,sem observar que são provenientes do latim e que modificaram-se com o tempo; pois a língua é viva,transforma-se,como é o caso de "entonce","despois" e "escuitar",existentes até em obras literárias ou semelhantes a estrangeirismos. Quer dizer,"errado" é dizer que fala-se errado.

É muito importante conhecer a origem da língua,a norma culta,mas deve-se abrir espaços para fenômenos novos sem condená-los porque não existem em latim,pois muitas formas do mesmo,nem usa-se mais,mesmo no português padrão.

É necessário compreender que falar diferente não é ter português deficiente,e ao contrário dos tradicionalistas,há explicações lógicas e científicas para as variedades não padrão,além do que,aquilo que é considerado erro,nada mais são que antiguidades da língua padrão faladas a séculos atrás.

Diante do que foi exposto,a Linguística veio para defender aqueles que sofrem preconceitos de uma língua padrão empurrada "goela a baixo" dos alunos como sinônimo de educação e cultura,e mostrar que importante não é a pronúncia,mas a comunicação estabelecida entre quem fala e quem ouve.

Luise Oliveira
Enviado por Luise Oliveira em 15/04/2013
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