Histórias de bruxa boa



O mundo não só tem coisas perigosas sérias e complicadas, mas muitas coisas engraçadas e maravilhosas... para quem souber olhar direito e abrir o coração para elas.Lya Luft
                                                                                
                                                                                                                            
 

         Meu jeito de viver e estar no mundo diz muito do que sou. Quando a roda viva da vida parece querer me triturar, meu instinto de sobrevivência busca a leveza e a beleza em qualquer ação que faço. Quando a vida pesa nada melhor que reler coisas leves, bem humoradas, especiais, para que meu coração se refestele, bata no rítmo da imaginação e a alma respire, aliviada.
          Histórias de bruxa boa é um livro muito especial de Lya Luft e sua primeira incursão no mundo da literatura infantil. Conta a história da menina Tatinha que morava com seus pais no andar de cima de uma bela casa. No andar de baixo morava sua avó, que, poucos sabiam, era uma bruxa boa de nome Lilibeth. A bruxa era moderna, pilotava um computador e, “como toda bruxa boa, só fazia feitiço para proteger as pessoas e assustar as bruxas más que moravam num buraco feio, sujo e cheio de ratos, na esquina da rua.”
     Os nomes das bruxas más, que eram irmãs, já nos faz rir: a gordinha chamava-se Cara-de-Panela, a magrela chamava-se Cara-de-Janela. E Tatinha, a linda menina que inspirou a história, era a aprendiz de bruxa que ajudava sua avó Lilibeth nas aventuras de proteger o mundo dessas horrorosas criaturas.
     Uma beleza de viagem ao mundo da imaginação! Lya Luft nos faz adentrar nesse universo mágico em que acontecem coisas e “histórias em que dois mais dois podem não ser quatro, o claro pode ser escuro e o sol pode virar lua.” Histórias de Bruxa Boa é um projeto familiar: as ilustrações são de sua filha Susana, a inspiração vem de sua neta, Isabela e a autora dedica o livro a todos os netos.
     Ao reler num fôlego só esse livro, viajei no tempo e lembrei-me das minhas brincadeiras de ser bruxa para estimular a imaginação dos meus alunos e, bem depois, de meu filho Vinícius e seus amiguinhos. Como me diverti sendo bruxa!
 
Partilho aqui uma história que gostei muito de viver e gosto mais ainda de contar...
 
Mãe fada, Mãe bruxa...

       por Edna Lopes

 
           Vinícius brincava com minha mão, ou melhor, com meus anéis, curiosidade natural de uma criança de 04 anos tentando entender um adulto. Brinquei com ele:
        - “Anéis mágicos entrem em ação!” Um bordão de super-heróis de um desenho animado.
           Ele riu e me bombardeou de perguntas:
          -Mãe, por que “tu usa” anel?
          -Porque gosto, acho legal.. são bonitos?
          -São, mas por que “tu usa” três?
          -Gosto deles, já disse, e cada um deles tem um significado especial...
             O olhinho já brilhava, esperando a história que se seguiria. As perguntas revelavam a necessidade de compreender o mundo, de ressignificá-lo, a partir do olhar curioso de menino.
            - Ah, é? O que significa esse, de pedra preta?
             Esta pedra preta é Hematita, um mineral catalisador de energia, de purificação. Significa o meu casamento com a natureza, o meu respeito a cada ser que habita esta dimensão.
            - E esse, de pedrinha branca?
            - Este é um minúsculo Brilhante, a pedra mais perfeita da natureza. Significa minha aliança com o amor, com a felicidade, com a vida, o presente mais raro que Deus nos deu.
             -E esse com o sol, a lua e as estrelas?
             -Significa meu casamento com o astral, com a magia. Esse é meu anel de bruxa...
             Os olhinhos arregalaram-se. A “conversa-aula” sobre anéis subitamente ficara animada...
             - Verdade? Esse anel é mágico? Você é mesmo uma bruxa, Mãe?
             -Sou sim, uma bruxinha muito boa... Como uma fada, certo? Fada não tem varinha? Bruxa também pode ter varinha ou ter anel. E eu sou uma bruxa que usa anel e não tem verruga no nariz...
               - E cadê tua vassoura?
               - Filho, bruxas modernas (e EU sou moderna!) substituem a vassoura por carro, avião, trem, ônibus...
Ele me olhou encantado:- Que legal, minha mãe é uma bruxa! Eu ri, divertindo-me com seu olhar de credulidade absoluta ao que eu dizia. - Mas olha filho, isso é segredo, certo?
             - Certo Mãe.  

     Voltou a brincar e, aparentemente, esqueceu o assunto. Horas mais tarde, recebendo a visita de Léo, seu amiguinho, Vinícius não resiste: - Léo, sabia que minha mãe é uma bruxa? Venha ver o anel dela... É mágico!
    Os olhos arregalados de Léo, o orgulho de Vinícius por ter uma mãe tão única mudou aquele meu fim de semana e outros tantos que se seguiram. Volta e meia aparecia uma caravana de crianças para, disfarçadamente, conhecer meu “anel de bruxa”. Eu mostrava, perguntava se tinham medo de bruxa e eles me diziam que “só das do mal”, eu sempre dizia que era do bem e pedia segredo.

     Por algum tempo, quando passava no playground do condomínio, a criançada ria, cochichava entre si, apontava-me: “olha a mãe de Vinícius! De parte a parte, sorrisos cúmplices: o meu encantado e divertido com uma brincadeira que tomou proporções inimaginadas e o deles por compartilharem do meu segredo...
     Quando vejo um adulto desqualificando o brincar, tratando uma criança como um adulto em miniatura, cobrando compreensões e atitudes incompatíveis com sua idade mental e física, desestimulando a imaginação, penso que não teve infância, que não sabe o que é fantasiar,  não sabe o quanto é bom ser criança.
     Evoluindo de uma relação biológica para uma afetiva, aprendi/aprendo a ser mãe no convívio com cada criança, sendo mãe-irmã, mãe-professora, mãe-tia de meus sobrinhos e sobrinhas, mãe postiça de Flávia, Cláudia e Ivo, mãe-mãe de Vinicius, mãe-avó torta de Bia, Gabriel, Samira, Larissa e quem mais chegar...
     Aprendo que é preciso aprender sempre. Aprender com o coração, com a alma, com o olhar. Aprender e ensinar. Ensinar aprendendo, sempre.
   Meu desejo para todas as mães, é de que a lição de amor a cada filho de sangue ou afeto seja a ação na luta para que este planeta permaneça um bom lugar de se viver, de ver crescer nossos filhos, nossos netos... Os netos de nossos netos... Assim todos os dias serão dias de mãe,porque são dias de luta. Assim seja!



No dia 02 de abril comemora-se o DIA INTERNACIONAL DA LITERATURA INFANTIL.Sabendo da importância do livro como ferramenta educativa, em diferentes contextos e também na Sala de Aula, não poderia deixar de lembrar este dia, esperando que não seja esquecido nos restantes 364 dias do ano.O dia 2 de Abril é também a data do nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen.profvalbom.blogs.sapo.pt/2658.html