Bonequinha com Diamantes

CAPOTE, Truman. Bonequinha de Luxo. São Paulo: Cia. Das Letras, 2005.

Breakfeast at Tiffany’s, seu título original, foi escrito em 1958 pelo escritor norte-americano Truman Capote.Com o título Bonequinha de Luxo, o livro foi publicado no Brasil, pela Companhia das Letras em 2005, com tradução de Samuel Titan Jr. A personagem principal Holly é uma garota que toma seu café da manhã em frente à joalheria Tiffany’s sonhando com os diamantes que poderia ter quando fosse rica, o que se torna mais evidente em seu título original Breakfeast at Tiffany’s. Holly tem a doçura e meiguice de “bonequinha” e a sensualidade selvagem e envolvente de uma mulher. O livro traz também três breves relatos: Uma casa de flores (1951), narra o vaivém de uma moça haitiana entre as suas montanhas natais e um bordel em Porto Príncipe; Um violão de diamante (1950), um jovem prisioneiro cubano conduz uma trama de sedução platônica e cruel numa colônia penal sulista; e Memória de Natal, uma história de infância delicada e comovente, contada com aquela melancolia de quem revive na lembrança uma felicidade longínqua, mas logo é quebrado esse encantamento diante da constatação da irreversibilidade do tempo.

Capote, cujo verdadeiro nome era Truman Streckfus Persons, começou a sua carreira em 1940 como colunista social numa revista nova-iorquina. O seu surgimento no universo literário norte-americano aconteceu com o romance Breakfeast at Tiffany´s. A estória foi levada às telas do cinema em 1961, com Audrey Hepburn no papel de Holly Golightly, personagem principal do livro, conquistando o público de cinema e fez de Holly uma das grandes personagens da cultura popular americana. Mas, a principal obra de Truman Capote foi o “romance de não-ficção”, assim denominado por ele, A Sangue Frio, de 1966. O livro foi o marco do Jornalismo Literário e até hoje Capote é uma das maiores influências para os jornalistas-escritores.

O narrador inicia revelando os motivos pelo qual decide falar sobre a história de Holly Golightly. Ele, quando conhecera Holly era um escritor em início de carreira, com o seu primeiro apartamento próprio, e pelo que julgava ali estava tudo o que ele precisava para ser o escritor que desejava ser. Ambos eram inquilinos de um mesmo prédio, localizado no lado leste de Nova York.

Passados muitos anos, o dono do bar da esquina, Joe Bell, em uma ligação fala para ele lhe fazer uma visita, na qual descobre-se tratar de notícias sobre Holly. Um fotógrafo de revista, o japonês I. Y. Yunioshi, antigo morador do prédio teria encontrado uma escultura em madeira do rosto dela em uma tribo africana. Depois deste fato, ele decide escrever sobre Holly.

A primeira vez que a viu, em uma madrugada, fora quando acordara ao som do sr. Yunioshi gritando escada abaixo, depois de Holly o ter acordado para abrir a porta do prédio, pois havia perdido a chave. Nos dias seguintes começou a tocar a sua campainha, mas até então não passava de meros cumprimentos suas conversas. Até que uma certa noite de outubro ela foi bater a sua janela, que dava para a escada de incêndio. Assim, começaram uma relação de amizade. Holly contou sobre Sally Tomato, um gângster que a pagava para receber visitas na prisão.

Holly tinha dezoito anos e morava com um gato. Quando ia para a escada com seu violão ao sol e cantava canções andarilhas, mais aguçava a curiosidade do escritor, quando a “miscelânea de cores de seus cabelos de garoto loiros, com veios castanho-claros e faixas de amarelo-palha” (pág. 17) reluziam ao sol. Assim como seus cabelos, seus olhos também iluminavam o escritor, como ele demonstra na página 21: “Eram olhos grandes, meio azuis, meio verdes, salpicados de pontos castanhos: multicoloridos, como seus cabelos; e, como seus cabelos, irradiavam um brilho franco e vivaz”. Mas o que mais fazia bem a Holly eram as visitas à joalheria: “Se eu encontrasse um lugar de verdade que me fizesse sentir do jeito que me sinto na Tiffany’s, eu compraria alguma mobília e daria um nome ao gato” (pág.39). Este mundo da joalheria, das carteiras com cheiro de crocodilo, os homens de terno, era o mundo no qual Holly queria pertencer.

Até que um certo dia, quando comemoravam a publicação dos contos dele em uma revista universitária, Holly e ele discutiram a ponto de não mais se falarem. Esta situação teve fim, quando o escritor percebeu que alguém a vigiava, renascendo os sentimentos mais ternos por ela. No bar de Joe Bell, este sujeito estranho se aproximou dele, e depois de uma conversa o escritor descobrira que na verdade o nome verdadeiro de Holly era Lulamae Barnes e já fora casada. Mas a confusão terminou com Holly acompanhando Doc Golightly até a rodoviária e este partindo.

Na página 67 se confirma o que já era evidente por parte dos sentimentos do escritor: “Ou quem sabe – e a pergunta é retórica – estava indignado por estar eu mesmo apaixonado por Holly? Pode ser. Pois eu estava apaixonado por ela.”

Chegado o dia do aniversário do escritor, dia 30 de setembro, esta relação entre os dois mais se fortalece. Holly o convida para cavalgar no Central Park. A sensação de alegria e de prazer de estar vivo se desfaz, quando um bando de garotos salta das moitas com pedras e varas. O cavalo dele dispara em direção a Quinta Avenida e, Holly atrás, a esta perseguição se junta um policial a cavalo, e, ambos fizeram um movimento de pinça que o fez parar, e o escritor, afinal, caí da sela. Em estado de frenesi, ele finalmente faz sua declaração a Holly que simplesmente o chama de bobo: “Mas não morri. E obrigado. Por salvar a minha vida. Você é maravilhosa. Única. Eu amo você”(pág. 78).

Passada essa tarde agitada, a noite traria mais surpresas. Pois as edições vespertinas dos principais jornais traziam fotografias de Holly na capa, sendo presa por acusação de envolvimento em esquema internacional de tráfico de drogas ligado ao contrabandista Salvatore ‘Sally’ Tomato. O agente de atores em Hollywood O. J. Berman paga sua fiança. Depois de sair da prisão Holly decide fugir para o Brasil, e ele o acompanha até o aeroporto.

Até uma certa primavera nunca mais tivera notícias de Holly, quando recebera um telegrama: “O Brasil foi de matar, mas Buenos Aires é o máximo. Não é a Tiffany’s, mas quase. Tem um $eñor divino, que não me larga. Amor? Quem sabe. Estou procurando onde morar ($eñor tem uma esposa e sete filhos), mando endereço assim que souber. Mille tendresse.”(pág. 95.) Depois nunca mais obtivera notícias de Holly, a não ser as fotos da escultura de Holly na África.

Apesar de escrito em 1958, este livro é perfeitamente atual em nossos dias. O estilo de Capote faz com que o leitor penetre na obra, que faça realmente parte do mundo de Holly e suas estripulias e aventuras. O leitor, assim como o escritor, também cria um sentimento pela ninfeta com a docilidade de menina e o sensualismo de mulher.

Embora o final do livro perca um pouco o sentido, pois não se tem mais notícias de Holly, frustrando o leitor, é um livro recomendável, porque o leitor compartilha com Holly suas alegrias, angústias, sentimentos e loucuras. O título “Café da Manhã na Tiffany’s” seria mais apropriado que o título original publicado no Brasil, “Bonequinha de Luxo”, pois este perde o nexo em relação à obra, mesmo que não totalmente, até porque Holly não deixa de ser uma “bonequinha de luxo”.