Uma professora muito maluquinha
ZIRALDO. Uma professora muito maluquinha. 16º edição. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1995.
Francineide Batista de Sousa Pedrosa
UERN - CAP
O autor Ziraldo Alves Pinto além de chargista, é cartunista, pintor, escritor, cronista, desenhista e jornalista. Conhecido pelos seus diversos personagens é um dos mais conhecidos escritores da literatura infantil. Mineiro, escreve numa linguagem agradável e lúdica, possuindo uma vasta obra dedicada às crianças. Sua obra mais famosa e que lhe rendeu o Prêmio Jabuti, foi O Menino Maluquinho, que virou símbolo nacional, passando a fazer parte do cotidiano brasileiro por meio das diversas propagandas e ilustrações.
Sua literatura está inserida no Movimento Pós – Modernista que passou a fazer parte do universo literário a partir de 1945, e seus textos possuem características marcantes como intertextualidade, auto reflexão, ludismo, metalinguagem, dentre outros elementos que permeiam o mundo da escrita.
Publicada em 1995, a obra “Uma professora muito maluquinha” traz a temática de uma professora diferente que aplicou métodos e técnicas de ensino distintas das demais, mostrando que a arte de ensinar a ler e a escrever, depende de muitos fatores e que a partir de práticas diferenciadas o desenvolvimento da escrita e da leitura torna-se prazerosa e possível pelas vias do entendimento do texto.
O livro “Uma professora muito maluquinha” é um dos grandes sucessos do escritor Ziraldo. Traduzido para outras línguas, o livro conta a história de uma professora maluca da década de 40 que resolve inovar suas aulas e deixa marcas profundas numa turma de 33 crianças que se encantam pela sua maneira de ensinar e conduzir suas aulas. Em um momento da história da educação em que o ensino era pautado em métodos tradicionais de ensino, e o aluno era mero receptor de conhecimentos e não um ser capaz de contribuir na construção de sua própria aprendizagem.
A obra “Uma professora muito maluquinha” é narrada pelos personagens do livro: Athos, Porthos, Aramis, Dartagnan e Ana Maria Barcellos Pereira, ambos, alunos da Professora Maluquinha. São episódios contados por alunos que vivenciaram as aulas junto com ela e que no desenrolar do texto expõem fatos acontecidos no âmbito da sala de aula que o ajudaram a desenvolver suas habilidades de leitura e escrita, bem como suas visões e gostos pela arte em geral.
Ao iniciar sua história com o famoso “era uma vez”, o autor aproxima sua narrativa dos contos clássicos, inserindo o leitor no mundo da imaginação e da fantasia, e a alternância entre texto e imagem torna a leitura da obra mais atrativa e próxima de quem lê, permitindo ao mesmo uma leitura ampla não só das palavras, mas, também da linguagem não – verbal presente no texto. Todas as descrições da história, inclusive seus personagens, o Padre Velho, o Padreco, os cinco narradores, seus trinta e três alunos, e traz ilustrações com o propósito não só de enfeitar o texto, mas, de trazer maiores informações acerca da leitura.
O texto de Ziraldo nos mostra um modelo de professora que faz a diferença, alguém comprometida com a educação e que reflete sobre as formas de repassar valores e aprendizagens para seus alunos. Sabemos que é dever do professor, enquanto educador, promover o incentivo às práticas de leitura e escrita, no entanto esse dever nem sempre é cumprido e acaba se perdendo nos meandros do desentendimento. O direito ao estudo do texto, a leitura apenas pelo prazer de ler, não corresponde, muitas das vezes, as práticas cotidianas da sala de aula, em que os alunos são obrigados a ler apenas para cumprir as atividades diárias de uma disciplina.
No livro, a professora deixa marcas profundas e positivas em seus alunos, em que o ato de ler torna-se um prazer cotidiano e o estímulo a essa prática se desenvolve no decorrer do ano letivo, trazendo benefícios aos pequenos. Suas aulas, baseadas na proposta construtivista surte efeitos positivos e suas aulas tornam-se atrativas e bem sucedidas. A professora Maluquinha é mediadora de conhecimentos e não mera transmissora deles, o que faz a diferença na hora das crianças desenvolverem suas habilidades leitoras e escritoras. Os desafios lançados por ela aos alunos, a dinâmica do ensino auxiliava seus alunos na busca de mais conhecimentos.
O trabalho com as regras básicas de convivência ajudava a formar na turma um espírito coletivo e desenvolvia o pensamento reflexivo. Por meio de atividades diversas a Professora Maluquinha trabalhava com valores como a cidadania, a comunicação oral, a produção textual, a elaboração de regras para boa convivência, o relacionamento entre a turma, dentre outros valores e habilidades necessárias ao bom desempenho da aprendizagem.
Os PCNs (1988) reforçam que, o texto literário é uma forma específica de conhecimento, e por esse motivo, deveria está inserido na prática cotidiana da sala de aula, pois, caracterizando-se como uma rica fonte de aprendizagem, não deverá de maneira alguma ser deixado de lado, visto que, o texto literário engloba especificidades da experiência humana, e leva os alunos a desenvolverem um pensamento crítico/reflexivo, tanto na parte intelectual, afetiva, cognitiva, emocional, quanto na questão social.
Esta visão foi bem desenvolvida pela Professora Maluquinha, que de posse de vários conhecimentos adquiridos durante sua formação não media esforços para trabalhar com o texto literário, aproveitando-o como fonte de conhecimento e aprendizagem para seus alunos, mostrando que o trabalho bem elaborado, junto a um professor que reflete sobre suas práticas educacionais surte efeito e melhora o aprendizado. Para isso o educador precisa ser criativo, corajoso, ousado e enfrentar os obstáculos que possivelmente surgiram ao longo de sua prática pedagógica.
Segundo Parreiras (2009), “quando a turma vive a experiência de uma leitura literária, os alunos ficam afetados com as questões trabalhadas. Um conhecimento se adquire num processo de troca de conhecimento [...]. Um conhecimento se soma a outro” (p.157). dessa forma, os ensinamentos da Professora Maluquinha deixou marcas de aprendizagem em seus alunos, justamente por ela ter uma visão diferenciada e tratar os diversos tipos e de textos, literários ou não, de forma atrativa e fazer deles uma troca de conhecimentos, ou seja, um conhecimento que se somava a outro, sem cobrança ou imposições.
E muito mais do que os saberes científicos, seus alunos aprenderam e ler o mundo, a dar importância às práticas de leitura e escrita e delas fazer um intercâmbio entre as outras disciplinas. O trabalho com outras áreas do conhecimento foi favorecido pelos saberes adquiridos por meio das diversas leituras que por incentivo e determinação da professora seus alunos mantinham contato.
Os métodos de ensino da Professora Maluquinha nos proporcionam uma reflexão sobre as nossas práticas pedagógicas em que, ao professor, cabe o desenvolvimento de atividades que facilitem a aprendizagem de seus alunos. Para isso, sabemos que o trabalho com a leitura e a escrita facilita e ajuda a desenvolver o pensamento crítico e reflexivo dos educandos. Por outro lado percebemos também que a professora desenvolvia a prática da leitura na sua vida diária o que facilitava o convencimento da leitura dos textos, pois é sabido que, se o professor tem um bom relacionamento com a leitura é mais fácil traduzir em efeitos positivos aos seus alunos.
Enfim, Ziraldo tenta nos mostrar, com a história da Professora Maluquinha, que é possível fazer a diferença. Mesmo quando a escola trabalha com métodos tradicionais de ensino e a mudança torna-se difícil, mesmo assim é possível mudar, fazer diferente. O ensino por meio da arte torna-se mais atrativo e ao mesmo tempo reflexivo e permite ao professor inovar seus métodos e levar os seus alunos a desenvolverem habilidades de leitura e escrita, em um ambiente motivador e dinâmico.
Só depende de cada um de nós mudarmos as práticas educacionais e melhorarmos o ambiente escolar, favorecendo uma melhor aprendizagem, bem como uma conexão entre as demais áreas do conhecimento. Ser maluca ou não, agir como Cate ou como pessoa “normal”, depende de cada um, no entanto que seus atos tornem-se importantes e sirvam para despertar nas crianças o gosto pela leitura e escrita dos textos como forma de melhorar sua aprendizagem e sua reflexão sobre o mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1988.
PARREIRAS, Ninfa. Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê. Belo Horizonte: RHJ, 2009.
ZIRALDO. Uma professora muito maluquinha. 16º edição. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1995.