Origens da Linguagem

LEITE, Yonne e FRANCHETTO, Bruna. Origens da Linguagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2004

Resenha elaborada pela docente

Bibiana Anjos Rezende

A presente resenha tem como escopo apresentar, sob a ótica da Linguística, a temática das origens da linguagem envolvendo concepções divergentes de povos indígenas que habitam o Brasil. Além dos povos indígenas, cabe assinalar que as autoras baseiam nos conceitos bíblicos, no pensamento científico e faz uma retomada histórica partindo da Grécia com Sócrates, Aristóteles e Platão com pensadores como Rosseau e Herder. As autoras se utilizam também da revolução científica no campo das ciências naturais com Darwin, na teoria evolutiva e os achados de Mendel sobre a herança genética e cita também grandes ícones do estruturalismo: o suíço Ferdinand de Saussure, o russo Roman Jakobson, o americano Leonard Bloomfield, Kenneth Pike e Charles Hockett dentre outros.

De acordo com Bruna Franchetto e Yonne Leite a busca de conhecimentos sobre o passado remoto da humanidade e sobre a origem dos ancestrais está presente, com diversas roupagens, em todas as épocas e é objeto de explicações da mais variada natureza, para vários povos. Por isso, na concepção bíblica Adão já foi criado dotado de linguagem, pois torna-se inconcebível um ser superior ou um herói desprovido da maior faculdade humana, a linguagem. Por outro lado, no pensamento científico moderno, o homem se tornou bípede, assumiu a posição ereta, lateralizou o cérebro e adquiriu a faculdade que o singulariza. Assim sendo, percebe-se que o ser humano continua em busca de explicação.

Para as autoras a questão da origem da linguagem é altamente controvertida porque as teorias acerca desse tema são as mais inusitadas, desde a tentativa de imitar os sons produzidos pelos animais, até as exclamações de dor, alegria, desespero, espanto, surpresa que posteriormente ligadas às emoções transformou-se em linguagem articulada. Outra teoria inverossímil, de acordo com as autoras é a alternância dos movimentos de segurar e soltar a respiração fazendo com que as cordas vocais vibrassem e produzissem sons. Essas teorias fizeram com que a Société de Linguistique de Paris aprovasse a não menção `a origem da linguagem nos estudos científicos.

As autoras fazem uma retomada histórica desde a Grécia e citam Sócrates, o qual afirmava que a fala e a ação estavam intimamente associados. Já Platão em seu diálogo, Crátilo, que trata da origem da linguagem aponta a controvérsia das relações entre nomes e coisas. Por outro lado, Aristóteles de concepção convencionalista asseverou que a linguagem se destaca como um fato e uma criação eminentemente humanos. As palavras são construções dos homens e não uma imitação do objeto nomeado.

Yonne e Bruna apresentam a concepção de Jean-Jacques Rosseau em relação a linguagem. Para ele a linguagem é acima de tudo música e paixão. E a motivação para a linguagem humana vem da necessidade de comunicação, uma vez que os homens constituem uma sociedade. O homem, segundo ele, pode se comunicar pelos gestos e pela palavra. O gesto nasce da necessidade física, enquanto que a palavra nasce da paixão, do sentimento. Rosseau diz ainda que a comunicação pode se dar sem palavras, pois ela responde a uma necessidade interna humana, que surgiria mesmo sem o intermédio da voz. Enfim, o que interessa de fato, é que a evolução está ligada diretamente ao desenvolvimento das formas de vida social.

Johhan Gottfried Herder, filósofo alemão, citado pelas autoras afirma a inseparabilidade de linguagem e pensamento. Para ele é de uma origem comum e paralela, tanto da linguagem, quanto do pensamento, através de etapas sucessivas de crescimento e maturidade. Com a dominação do cientificismo no século XIX e a falta de evidências e de provas concretas e a busca de espíritos divinos para explicar a faculdade humana da linguagem, essa teoria ficou desacreditada.

Bruna Franchetto e Yonne Leite inferem que a lingüística se constituiu como uma consciência autônoma pelo desenvolvimento de uma metodologia própria e rigorosa para explicar a diversidade, através de um estudo comparativo-genético que estabeleceria as relações históricas entre línguas bastante diferenciadas e, por vezes, distantes geograficamente. Esse foi um meio encontrado para se explicar a diversidade da origem milenar comum a várias línguas que teriam derivado de uma língua-mãe originária. Essas pressuposições básicas do método histórico- comparativo que dominou o mundo lingüístico passaram então a ser vistas como produtos históricos, tornando-se emblemáticas de nacionalidades distintas.

Para as autoras, é difícil imaginar uma transformação tão rápida e profunda sem considerar o papel crucial de uma linguagem já com todos os elementos das línguas modernas. Em outras palavras, data-se dessa época a existência de uma primeira língua. Essa ocorreu por volta de 10 mil anos atrás.

Para elas, um fato é fundamental para o entendimento da história e da natureza das línguas humanas. Elas não são infinitamente diversas entre si; em outras palavras, a diversidade é contida dentro de limites claros. Há características profundas comuns a todas as línguas, princípios e operações que encontramos em todas elas.

Ao se tratar da teoria da evolução, as autoras assinalam que a evolução pode ser considerada um processo de mudança e deve ser entendida em dois níveis diferentes: de um lado acontece no interior das línguas, quando estas mudam ao longo do tempo enquanto sistemas; do outro lado, podemos falar de evolução externa, quando a linguagem como faculdade cognitiva emerge na evolução dos humanos.

Em relação a linguagem humana, as autoras em seus componentes físico e mental, não é igual a nenhum outro tipo de linguagem animal conhecida, embora diversas espécies apresentem sistemas de comunicação bastante desenvolvidos. Já ao componente mental, o homem possuiria uma faculdade da linguagem, pela qual é capaz de adquirir qualquer língua. Essa capacidade seria inata, embora seja objeto de debate o que seria específico de tal capacidade inata.

As autoras salientam ainda que o desenvolvimento da linguagem aconteceu, ao que tudo indica, no momento em que relações sociais entre os homens se tornaram mais complexas, sendo impossível separar indivíduo com suas capacidades físicas e biológicas de sua relação com o contexto social do qual faz parte. Essa nova abordagem procura compreender o surgimento da linguagem em função da vida em sociedade.

Ao tratar das diversas vertentes da discussão atual em torno da origem e evolução da linguagem humana, as autoras apresentam as principais questões hoje em pauta e as respostas, não poucas vezes conflitantes, oferecidas pelos especialistas. Para alguns pesquisadores, a faculdade da linguagem é uma adaptação extremamente complexa, a que foi sujeita às leis da seleção natural na história evolutiva humana recente, servindo à função de comunicação com extrema afetividade. Embora possa haver mecanismos análogos no mundo animal, a versão humana foi modificada seleção natural de tal forma que se formaram traços exclusivos da nossa espécie.

Para as autoras em destaque, o século foi de inúmeros entraves e divergências, tais discrepâncias foram relativas à mudança lingüística, tanto interna, quanto externa. A primeira controvérsia é se essas mudanças são lentas e graduais ou se são abruptas e catastróficas. Duas correntes da lingüística- o estruturalismo, atuante na primeira metade do século, e o funcionalismo presente hoje- optam pela primeira solução: as mudanças teriam sido lentas e graduais.

E assim, as autoras desfecham abordando dois modelos que concorrem na questão da origem da linguagem: o programa minimalista por Noam Chomsky e o de Talmy Givón. O de Chomsky tem como alvo a formalização de uma gramática universal única, já que a faculdade da linguagem é igual para todos os homens e independe, assim, de fatores sociais e geográficos ou de limites da execução. Já o de Givón tem como ponto de partida a produção e suas variações e motivações funcionais, o condicionamento da linguagem ao contexto cultural e a pragmática comunicativa, enfim, aos fatores que condicionam a execução, como limitação da memória, tempo e estratégias de processamento, acessibilidade ao contexto cultural compartilhado etc.

As autoras não pretendem esgotar a questão, pois elas reconhecem que um problema de tamanhas proporções merecem estudo e pesquisa, e especialmente experiência prática, que somente o tempo poderá dizer se efetivamente se trata de uma solução plausível. Por isso,essa obra é recomendada para os alunos de letras ou ainda estudiosos que queiram aprofundar no tema da origem da linguagem.

Ana Bibi
Enviado por Ana Bibi em 13/02/2013
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