“Vinho Branco - Safra Especial de Contos e Crônicas”,
“Vinho Branco - Safra Especial de Contos e Crônicas”, de Belvedere Bruno
Editora Livro Pronto, SP, 2010.
H. Francisconi, JAN/2013.
Acabo de receber, ler e traçar um breve comentário sobre o livro de Belvedere Bruno. Sim, dessa maneira veloz e com muita entrega. Não poderia ser diferente, de maneira alguma, e não porque sua leitura fosse fácil, ao contrário, mas porque prendeu-me do princípio ao fim, num ato de consumação inversa: o leitor foi devorado pelo texto.
Fiquei a imaginar como analisá-lo: do ponto de vista do autor, dos personagens, do gênero (ficção) ou pelo lado possivelmente intimista? Contudo, de um modo geral, difícil separar o intimismo do ficcional na literatura. A visão do mundo do autor está toda ali - juntamente com a sua alma - dissimulada em personagens que a todo custo teimam em mostrar exclusividade nos seus dramas, muito embora saibamos que narrador, elenco fictício e autor terminem por se amalgamar em um universo único. Em “Vinho Branco”, descobrimos uma autora genial, integralmente mergulhada nessa tríade.
São muitos e mágicos os elementos com que, com maestria, Belvedere Bruno trabalha o seu cosmo literário. Consciente ou inconscientemente, a autora nos remete a uma viagem, ao seu lado, para os campos imaginários (e até inimagináveis) da ótima leitura, que literatura, como muito bem Belvedere nos faz crer, não trata apenas de entretenimento ou ‘passa-tempo’, mas, acima de tudo, de aprendizagem, estágio e profissionalismo no mundo das letras. Assim, ’misturados’ que ficamos aos personagens de ‘Vinho Branco’ e à autora, vislumbramos, com o prazer da leitura, características textuais que só nos fazem refletir.
Em seus contos, escritos com muito domínio, Belvedere vai deixando escapar, professoral e sorrateiramente, os elementos que compõem a odisseia do cotidiano humano. Interessante é notar a recorrência desses elementos como forma de nos alertar sobre os sinais que a vida nos mostra na busca de uma transformação: “(...) Era noite de lua cheia quando um vendaval assolou a fazenda derrubando tudo (...)”, pág. 8; “(...) Uma estranha ventania chegou, derrubando a frágil janela de seu quarto (...)”, pág. 72; (...) Naquela madrugada, talvez pela força do vento, caiu a imagem do santo de sua devoção (...)”, pág. 99.
Talvez a ‘morte’ seja o tema, em seu livro, que ainda mais traduza o simbolismo da passagem. Para a natureza, a morte é positiva. O que deixa de ser, deixa-se para transformar-se.
Há ainda muito mais, é só conferir. Conformação e aceitação do destino, em “Amém”, pág. 19; um arquivo mnemônico aberto abruptamente, tão comum a todos nós, identificado pela Madeleine de Proust, em “Um rádio desmontado”, pág. 27; angústia, solidão e desprezo, em “Marcas do tempo”, pág. 37; mensageiros que habitam o ‘eu profundo’, comuns aos seres humanos, são recorrentes em “Uma visita insólita”, pág. 71, “Menina-flor”, pág. 77 e “Fotografias”, pág. 83.
O tempo é fugaz e vemos isso em “Beleza e sedução”, pág. 57. Mas não o bastante para - e todos esperamos! - que ainda sejamos presenteados com o próximo livro de Belvedere Bruno, que aguardamos com ansiedade.
Se a leitura, em si mesma, vale a pena do tempo empreendido, a de “Vinho Branco”, de Belvedere Bruno, é obra que se faz necessária.