Agudezas de Luiz Groff
Luiz Groff é enófilo – não confundir com enólogo. O enólogo é o cara que, diante de um vinho, toma decisões. O enófilo é aquele que, diante de uma decisão, toma vinho. Essa é uma das sacadas mais famosas de Groff, um cara que não teme especialistas. Afinal, ele pode ser melhor que o Pelé e o Einstein – o Pelé em física e o Einstein em futebol. Em “Crônicas Agudas”, lançado há quase 30 anos, esse engenheiro paranaense garante ao leitor não apenas muitos risos, mas inclusive algumas gargalhadas. A citação de uma conversa (apócrifa) com Millôr Fernandes na quarta capa do livro não veio ao acaso: parece ser Millôr realmente a comparação mais óbvia que se pode fazer para estes textos de Groff.
São crônicas sem formato definido, algumas vezes compostas por vários minicontos. Muitas delas abraçando fortemente a fantasia (para não dizer o delírio), o que normalmente é o melhor meio para revelar o que se passa na nossa própria realidade. Com essa característica são destaques “O Estranho Caso da Estatal Esquecida” e “L’Histoire D’Eau”, além da agudíssima “Jogo do Nepotismo”. Entre as mais engraçadas estão “A Playmate do mês”, “Os Vinhos da Angústia” e “Além das Rimas”, as duas últimas envolvendo personagens reais – a história, não se sabe.
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Também há espaço para reminiscências nas crônicas “Colégio Santa Maria” e “A Rua Silva Jardim”, compostas por pequenos episódios vivenciados pelo cronista em sua infância, aos quais foram acrescentados os gracejos que apenas o distanciamento de um adulto pode fazer. Na parte final do livro o ritmo cai, o acerto parece menor, mas ainda assim há alguns risos que bem fazem valer a leitura do livro.