RESENHA DO LIVRO : A CHAVE DE HIRAM
Autor: Lomas, Robert; Knight, Christopher
Editora: Landmark
Categoria: Esoterismo / Maçonaria
 
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“Sucedeu pois, que aos quatrocentos e oitenta anos da saída dos filhos de Israel das terras do Egito, no quarto ano do reinado de Salomão, no mês de Zio, se começou a edificar a casa do Senhor.” II Reis, 6;1



Salomão foi um homem que Deus escolheu
Para mostrar aos povos da terra a sua glória.
Dele fez o maior dos reis que o povo judeu,
Teve em todo o tempo da sua longa história.



Foi escolhido para erguer o grande Templo,
Que o Senhor Deus queria habitar na terra.
Mas não só de sabedoria devia dar exemplo,
Também da fé que a alma humana encerra.



E o rei de Tiro lhe mandou o grande Hiram
Arquiteto e também perito mestre fundidor.

O mais hábil e famoso artesão desses ofícios.


Assim esse maçom, mais mestre Adoniram,
Cumpriram à risca aquela ordem do Senhor
E construíram o mais sagrado dos edifícios.

                  
              João Anatalino- A Bíblia Sonetada
 
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Onde será que os maçons se inspiraram para compor a mais importante das lendas que instruem o seu catecismo iniciático, ou seja, a Lenda de Hiram Abiff, tido como construtor do primeiro Templo de Jerusalém e o maior de todos os maçons?
Na Bíblia certamente não foi, pois o Hiram que aparece ali, no Terceiro Livro de Reis, é um artífice perito em obras de bronze, cuja função era fundir os diversos adereços e as colunas que Salomão projetara para o templo. Não se fala, em lugar algum, que esse Hiram de Tiro, filho de uma mulher viúva da tribo de Neftali, embora “cheio de sabedoria, de inteligência e de ciência para fazer todas as obras de bronze”, como diz a Bíblia (III Reis, 7:14), fosse arquiteto e que teria, de alguma forma participado dos planos de construção do templo, ou exercido algum papel fundamental na administração da obra. O mesmo não acontece com Adoniran, por exemplo, a quem a Bíblia atribui a função de tesoureiro de Salomão e responsável, por isso mesmo, pelos pagamentos aos trabalhadores do canteiro.
Nem Flávio Josefo, historiador judeu que viveu no primeiro século da era cristã e escreveu a mais completa obra que se conhece sobre a história de Israel antigo, se refere a Hiram de Tiro como arquiteto, mas sim como mero artífice que o rei fenício teria indicado a Salomão para fazer as obras de bronze do Templo de Jerusalém.
Então, como foi que esse artesão metalúrgico assumiu o papel de maçom mais importante de todos os tempos, e foi colocado no centro do drama iniciático que constitui o clímax da iniciação maçônica?
Essa é a pergunta que os autores do livro A Chave de Hiram se propõem a responder.
A Chave de Hiram, na verdade, não trata apenas desse tema, tão caro e importante para os maçons. Esse livro, na verdade, coloca teses e especulações intrigantes e instigantes sobre a própria história da civilização, e principalmente da Maçonaria. Uma delas, por exemplo, é a informação de que Barrabás, o indigitado bandido que foi solto no lugar de Jesus era, na verdade, seu irmão Tiago, o Justo, a quem se atribui a continuação do ministério de Jesus. Ele seria, conforme os autores, o chamado “Mestre da Retidão”, citado nos textos essênios, e responsável pela Igreja de Jerusalém, que na verdade, constituiu o grupo dos primeiros cristãos em Jerusalém.
Aliás, Tiago, o Justo, citado nos Atos dos Apóstolos como sendo o “irmão do Senhor”, é um dos poucos cristãos referidos nos trabalhos de Flavio Josefo, que conta que a sua condenação e morte, em 62 e.C., causou muita consternação entre a população de Jerusalém.         
Os autores apontam as inconsistências da história, especialmente aquela que se refere ao Cristianismo. Segundo eles, ela foi totalmente forjada pela Igreja de Roma, a mando de Constantino, o Imperador que adotou o credo cristão como oficial. E depois foi usada pelos papas e reis, na Idade Média, para justificar a opressão, o servilismo e a ignorância em que o povo era mantido, para conservar o poder nas mãos do clero e da nobreza feudal.
Uma das teses centrais da obra é uma idéia que nós mesmos temos defendido em nossos trabalhos sobre a maçonaria: a de que a Ordem maçônica é uma derivação da tradição que instruiu a criação da nação de Israel e fundamentou toda a sua história.
Dessa forma se justificam as influências que são encontradas em todos os rituais maçônicos, com suas referências a elementos culturais sumérios, caldeus, babilônicos e principalmente egípcios, pois a cultura de Israel é uma colcha de retalhos costurada com elementos de todas essas civilizações, de quem emprestou praticamente todas as referências com as quais criou a sua própria história.
Os autores não mostram muita simpatia pela religião judaico-cristã, a qual é por eles acusada de ter travestido os antigos ritos iniciáticos, que tinham funções sociais, políticas e religiosas, numa teologia ridícula e sem sentido, como é a que informa o cristianismo com seu dogma principal, que é sacrifício de Jesus Cristo pela salvação da humanidade. Nesse sentido, sugerem os autores, uma filosofia de largo alcance espiritual, como aquela pregada por Jesus, que poderia de fato transformar o mundo em coisa muito melhor do que era na época, foi apropriada e deturpada para fins meramente políticos e de interesses pessoais. Assim, para os autores, o Cristianismo adotado pelo Império Romano e que foi legado ao Ocidente, nada tem a ver com os verdadeiros ensinamentos de Jesus, os quais foram censurados e perseguidos como heresias. Esses ensinamentos são aqueles que constam dos evangelhos apócrifos, finalmente recuperados na Biblioteca de Nag Hamadi. Esses conhecimentos teriam sido recuperados pelos cavaleiros templários e utilizados para chantagear a Igreja durante dois séculos, o que, por fim, acabaria por resultar na extinção daquela Ordem de Cavalaria. Todavia, como sugerem os autores, a Ordem dos Templários foi extinta, mas os templários não, pois eles teriam se organizado em outras Ordens e finalmente teriam dado nascimento ao que conhecemos como Maçonaria moderna.
Outra interessante tese colocada pelos autores é a de que o Sudário de Turim, que se acredita ter sido a mortalha que envolveu o corpo de Jesus na sepultura, é na verdade, o sudário que cobriu o corpo do Grão Mestre da Ordem dos Templários, Jacques de Molay, quando ele foi torturado e por suposto, submetido a um processo semelhante á crucificação, pelos algozes da Inquisição.
A hipótese central da Chave de Hiram é a de o que o drama de Hiram, conforme é representado no ritual de elevação a mestre maçom é a representação de um acontecimento ocorrido na história egípcia, no qual um rei de Tebas, chamado Seqenenre, em sua luta para libertar o Egito do domínio dos hicsos, é assassinado, exatamente da forma que é representada no ritual. A recomposição do funeral desse rei, conduzido de acordo com os ritos funerários egípcios, seria a inspiração para o curioso teatro encenado nessa que é a mais importante cerimônia iniciática dos maçons.
Os autores procuram demonstrar que toda a simbologia praticada nos ritos maçônicos estão, de alguma forma, ligada ás tradições de Israel, e que é na estrutura cultural (esotérica e exotérica) dessa nação que a Maçonaria, enquanto idéia e prática se informa.
Assim, a Chave de Hiram é um passeio instigante pela História e uma aventura intelectual que pode ser perturbadora porque, no fundo, ela é bastante iconoclasta. Demole ídolos e procura desconstruir uma moldura histórica há muito já firmada. Mas sendo o maçom um livre pensador por excelência, ele não pode deixar de se informar sobre tudo que se refere á Arte que escolheu praticar. Nesse sentido, vale a pena ler a Chave de Hiram.             
 
A CHAVE DE HIRAM


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/01/2013
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