Quarto de despejo (em comemoração ao dia do Leitor)

"Todos tem um ideal. O meu é gostar de ler."

Em comemoração à data de hoje, pareceu-me oportuno falar de um livro que conheci recentemente e muito me impressionou."Quarto de despejo" - de onde copiei a frase acima - é uma obra ímpar, tocante e vergonhosamente atual, apesar de ter sido escrita na década de l950. Sua autora foi uma mulher admirável, um caso único na história da cultura popular brasileira. Nascida no interior de Minas Gerais, negra, mãe solteira, favelada, apaixonada pelos livros, estudou só até a antiga segunda série primária, mas deixou mais de 4 mil páginas de manuscritos.

"Quarto de despejo" é a narrativa, em forma de diário, da vida cruel da autora e dos moradores da extinta favela do Canindé, em São Paulo. Lá Carolina Maria de Jesus viveu, criou sozinha seus três filhos trabalhando como catadora de papel e foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, pessoa fundamental na publicação dos manuscritos da miséria.

Não se trata de um texto bem elaborado, pois foi publicado tal como o original, preservando o estilo da autora, com imperfeições gramaticais e desprovido dos arranjos que conferem a um texto a beleza poética, o que não impede que o leitor tenha um grande impacto ao ler esta obra singular e inimitável. "Quarto de despejo" revela, além de um período da sofrida vida da autora, sensibilidade, lucidez e senso crítico.